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Aramis

Política e repressão

Desde 1981, quando houve o escândalo de "Pra Frente, Brasil", de Roberto Farias (melhor filme e montagem) - que sacudiu a "abertura", provocou a demissão do diplomata Celso Amorim da presidência da Embrafilme e acabou sendo proibido por quase um ano, a política não era uma tônica tão forte nos filmes em competição, nas diferentes bitolas, neste festival. Nesta época em que a censura deixou de ser o fantasma tão ameaçador como nos anos 60 e 70 - e durante os quais os festivais de cinema (especialmente em Brasília) eram pontos nervosos e de contestação ao regime militar, em tempos de parábolas visuais houve a coincidência de quase uma dezena dos filmes aqui apresentados terem uma forte base ideológica. O deputado Rubens Paiva (1922- 1971), vítima dos órgãos de repressão, pai de Marcelo Rubens Paiva, autor de "Feliz Ano Velho", foi evocado em três filmes: sem citação explícita ao seu nome, na magnífica adaptação que Roberto Gervitz fez do best-seller do livro de seu filme e, citado explicitamente, em "Dedé Mamata", numa seqüência em que se reúnem membros do comitê de anistia. Também é citado no média-metragem "PSW - Uma crônica subversiva", da dupla Paulo Halm e Luiz Arnaldo Dias Campos - que em 56 minutos focaliza o deputado Paulo Stuart Weiger, catarinense de Joaçaba, que desapareceu em 4 de setembro de 1973, foi torturado e morto - depois de ter passado pelos cárceres do Doi-Coi em São Paulo, na época comandado pelo então coronel Brilhante Ulstra, ex-adido militar da Embaixada do Brasil no Uruguai, quando foi identificado e denunciado pela deputada Bete Mendes. Produção de José Joffily Filho, 39 anos - que só não veio a Gramado por se encontrar durante a semana que passou em Curitiba orientando a segunda parte de um curso prático de cinema. "PSW - Uma crônica subversiva", realizado por dois de seus ex-alunos do curso de cinema da Universidade Federal Fluminense, no Rio, emocionou o público que o viu na tarde de quarta-feira (na mesma sessão em que foi apresentado o curta "O mundo perdido de Kozak", de Fernando Severo). Com três intérpretes conhecidos - Antonio Fagundes, Renato Borghi e Maria Padilha - "PSW - Uma crônica subversiva" (cujo lançamento em Curitiba, numa das salas da Fucucu, deverá ocorrer em breve) compensa eventuais fraquezas de direção e roteiro, pela sinceridade e força das denúncias, dentro da preocupação de seus realizadores e fazer cinema político. Paulo Halm, 26 anos, lembra o exemplo argentino, "país em que estão aparecendo dezenas de filmes denunciando horrores do regime militar" para justificar sua preocupação em denunciar a tortura e morte de Paulo Stuart Weiger, de uma família evangélica (seu irmão, o pastor Jaime - no filme interpretado por Antonio Abujamra) - é um dos assessores de dom Evaristo Arns e participou da coordenação do projeto "Brasil, nunca mais", denunciando a repressão e tortura política no Brasil.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
25/06/1988

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