A mostra do choro
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 30 de agosto de 1988
Pela segunda vez, Saidail Cesar de Oliveira, um apaixonado por nossa melhor MPB, provou que há um público interessadíssimo em choro. Durante três noites, o auditório do Sesc/Portão, esteve lotado por gente interessada em ouvir os nossos (poucos) músicos que se dedicam a preservar o choro.
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No ano passado, J. Ramos Tinhorão e o acordeonista e maestro Orlando Silveira ali estiveram. Este ano, a programação inclui projeção dos documentários "Pixinguinha", "Chorinhos e Chorões" e "Tocando na Alemanha", mostrando em imagens históricas um pouco do choro no Brasil.
Ao vivo, ali estiveram, os grupos Nilo Samba e Choro, o Choro e Seresta e o grupo de Alceu Carta - que normalmente só se exibe no Clube Curitibano.
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O mais antigo e regular dos grupos de chorões da cidade, há 16 anos se apresentando todos os domingos, pela manhã, na Praça da Ordem, o Choro e Seresta, liderado por Hiram Tortato, 32 anos, engenheiro industrial e flautista desde os 4 anos (afinal, seu pai, Tortato, foi o fundador do conjunto), apresentou um espetáculo belíssimo na quinta-feira.
Inteligentemente, Hiram vem procurando pesquisar os repertórios dos grandes mestres, na válida proposta de renovar suas apresentações com temas menos conhecidos - mas admiráveis. Assim é que com Benedito no pandeiro, Moacir no cavaco e Nilo no violão de 7 cordas - todos com mais de 60 anos - e a amigável canja de Bento, ao cavaquinho, o grupo trouxe jóias de Ernesto Nazareth ("Bambina"), Sivuca ("Serenata", "Músicos e Poetas"), Jacob Pick Bittencourt ("Choro e Varanda", "Por que sonhares", "Saudações") Zequinha de Abreu ("Levanta Poeira", "Sururu na cidade") e, naturalmente, Pixinguinha ("Te encontrei", "Não me digas"). Amigo pessoal de um dos grandes chorões paulistas, Evandro, Hiram revelou o seu lado de compositor em "Elegante" e a noite ainda teve duas surpresas: o bom Bento Budal, autor do belo "Simplesmente Choro" - uma de suas muitas composições - e a bela voz de Benedito revelada em "Cinco Letras Que Choram" (Silvino Neto), no encerramento, em tom de seresta.
Coordenador do setor cultural do Sesc-Portão, Sidail Cesar de Oliveira tem sabido promover eventos culturais de grande repercussão. Após as duas mostras de choro, planeja uma sobre o samba e, futuramente, um encontro de nativismo. O professor Olivo Ceconello, diretor daquela unidade do Sesc, tem sabido não só dar um bonito apoio as idéias de Sidail, como ampliar outras atividades - fazendo do Sesc-Portão um modelo de instituição recreativa-cultural, sem empreguismo e desperdícios. Um exemplo para as nossas secretarias de Cultura - tanto a municipal como a Estadual - se espelharem...
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