O encontro do choro
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 01 de março de 1977
O governador Antonio Carlos Konder Reis, de Santa Catarina, mergulhado numa crise política que lhe vem tirando o sono há duas semanas - não pode apreciar, como deveria, um excelente idéia que lhe foi levada pelo jornalista Ilmar de Carvalho e com isso Florianópolis perde a chance de sediar um dos mais originais eventos musicais do ano: O I Encontro Nacional do Choro.
No momento em que o choro vem sendo praticamente redescoberto, com o surgimento de muitas gravações, clubes e aparecimento de grupos de chorões, formados por jovens instrumentistas, Ilmar viabilizou uma idéia que há muito já tivemos: promover um encontro dos melhores instrumentistas que se dedicam ao gênero, paralelamente a um seminário, do qual resultaria aquilo que se poderia chamar de " Carta do Choro", a exemplo da " Carta do Samba", nascida do Encontro Nacional do Samba, realizado há 15 dias passados.
O projeto de Ilmar de Carvalho é amplo. Na primeira etapa, seria realizado o encontro numa cidade fora do eixo Rio-São Paulo (onde uma promoção como essa corre o risco de se diluir), reunindo instrumentistas do nível de Altamiro Carrilho e Copinha (flautas), Abel Ferreira e Paulo Moura (clarinete), Paulinho da Viola e o Grupo Época de Ouro, Raul de Barros (trombone), Déo Riam, Joel do Bandolim, Ademilde Fonseca e tantos outros que, entusiasmados com a idéia, já aceitaram participar - independentemente de cachês. O projeto de Ilmar, membro do conselho de música popular do MIS - Rio de Janeiro, estudioso da MPB, em especial da Bossa Nova, era realizar o encontro em Florianópolis, sua cidade natal. Infelizmente, apesar da viabilidade financeira - o Instituto Nacional de Música, graças ao entusiasmo do maestro Marlos Nobre, já se dispôs a co-patrocinar o evento - faltou no governo catarinense o entusiasmo pela promoção.
Agora, Ilmar deixa o projeto à disposição de outra cidade, dando inclusive preferência do Paraná. Se os donos da cultura de Curitiba não se sensibilizarem (como é possível que aconteça) com essa idéia, eis a oportunidade para que os prefeitos Luis Carlos Zuk, de Ponta Grossa, ou João Paulo, de Maringá, ou Antonio Belinati, de Londrina, atraiam para suas cidades esse evento. Brasileiríssimo, honesto e de resultados populares muito mais importante do que tantas dispendiosas promoções que tem custado milhões de cruzeiros do governo do Paraná, pródigo em aplicar recursos em projetos infelizes.
Enviar novo comentário