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Aramis

Autores vigorosos que agora o Brasil conhece

Uma salutar renovação de autores vem se registrando nestes últimos anos. A própria concorrência de bons publishers em casas publicadoras de gabarito, faz com que a Brasiliense, Nova Fronteira, Record, Francisco Alves e, por último a Guanabara, estejam numa salutar disputa para ver quem edita os autores mais up to date - não apenas considerando as novidades internacionais, mas aqueles autores, muitos já falecidos, mas que permanecem inéditos em português. Por exemplo, a Nova Fronteira lançou há menos de dois meses a tradução de Onézio Paiva de "J'Irai Cracher Sur Vos Tombes" de Boris Vian, pseudônimo de Vernon Sullivan (1920-1959), cuja agressividade do título - "Vou cuspir no seu túmulo" - pode chocar o leitor brasileiro que conhece o Boris Vian de "A Espuma dos dias", "a mais pungente história de amor do nosso tempo", nas palavras de Raymond Queneau, lançado no Brasil em 1984 pela mesma Nova Fronteira. A origem deste romance, há 40 anos passados, é curiosa e tem sido divulgada pela própria editora. Em meados de 1946, o francês Boris Vian, que além de romancista foi poeta, músico, compositor, cantor, dramaturgo e ator, conversava com o editor Jean d'Halluin, quando ouviu o seguinte "suspiro": - Ah! Se eu pudesse descobrir um best-seller americano! Prontamente, Vian encarregou-se de fabricá-lo. durante os quinze dias de suas férias (ele trabalhava nessa época como engenheiro), escreveu uma obra-prima do erotismo e violência, bebedeiras e sadismo, cujo tema central era o racismo. Faltava apenas um título e um autor. "Vou cuspir no seu túmulo" - maldição que parece retirada da Bíblia - foi o nome escolhido para expressar a vingança levada a cabo pelo personagem negro Lee Anderson. Quanto ao pseudônimo, foi uma composição: Vernon Sullivan em homenagem a Joe Sullivan, um dos melhores pianistas de jazz. Vernon para brincar com Paul Vernon, amigo de Vian que estudava odontologia. Boris apareceu como tradutor do explosivo romance, que publicado em 1946 causou um pequeno escândalo. Depois de uma adaptação para o teatro preparada pelo próprio autor em 1949, o livro foi interditado e condenado pela Justiça, mas circulou clandestinamente. Em 1959, ano da morte de Vian, a história foi adaptada para o cinema. xxx André Brink, 51 anos, nascido na África do Sul, professor universitário de literatura e teatro, além de diretor teatral e tradutor (de autores como Shakespeare e Cervantes, para o "africâner"), é o autor de "Uma Estação Branca e Seca" (Guanabara, 422 páginas, Cz$ 125,00), um dos romances de maior sucesso na África do Sul. Brink desmascara uma realidade deplorável, relatando como um professor, Bem Du Toit, resolve investigar a morte de um amigo negro nas mãos da polícia. Aos poucos, o professor percebe que esta morte foi apresentada de maneira a ocultar a verdadeira forma como ocorreu. O desenvolvimento da narrativa permite a Brink esmiuçar a situação política e social da África do Sul, com seu regime segregacionista e a violenta repressão imposta pelo governo. xxx Já que linhas acima falamos em novelistas americanos que vem sendo editados no Brasil, acrescente-se mais uma tradução providenciada por Caio Graco, pela Brasiliense: "A travessura de Casper Holmes" de Chester Himes. Tendo vivido sete anos na Penitenciária Estadual de Ohio, cumprindo pena por assalto a mão armada, durante este duro período de sua vida Chester Himes tornou-se escritor e publicou, em 1948, seu primeiro livro.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Leitura
5
06/07/1986

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