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Aramis

Assim falava Delfim (há 10 anos passados)

A tradição jornalística é de a cada final de ano se fazer resumos de período que se encerra e exercitar hipóteses futurológicas. Sem nenhuma destas pretensões e nem de ordem de observações econômicas, não deixa de ser no mínimo curioso recordar algumas afirmações feitas em dezembro de 1969 pelo então ministro da Fazenda, Antônio Delfim Neto - hoje o todo poderoso dono do Planejamento à revista "Mundo Econômico" (janeiro/70, 66 páginas). Deixando os comentários a quem se interessar possa, eis o que, otimisticamente, dizia Delfim Neto em relação ao "futuro de nossa economia" há uma década passada. "Um ponto básico para efetuar aspirações de maior desenvolvimento reside no empresariado nacional. A teoria econômica escolar estabelece uma íntima relação entre desenvolvimento e poupança. É esta que, devidamente investida, exerce seu efeito multiplicador sobre a renda nacional e produz o desenvolvimento. No entanto, a obtenção de poupança já é uma resultante do desenvolvimento, pois sem que a renda nacional cresça em proporções mais acentuadas do que as necessidades de consumo da população não se conseguirá formar as reservas de capital desejadas para investir. Forma-se assim, um círculo vicioso. E o instrumento capaz de romper esse impasse é representado pela capacidade empresarial existente no País. Esse grande triunfo já demonstrou sobejamente no passado aquilo de que é capaz. Haja vista o boom cafeeiro, o algodoeiro, o da industrialização e o boom exportador atual". Há exatamente 10 anos, Delfim Neto afirmava: "É viável conter a inflação mantendo e até ativando o desenvolvimento desde que o governo exerça uma atividade ordenadora e responsável quanto à sua vida financeira e aos instrumentos de atuação sobre o setor privado". xxx Interessante a colocação que Delfim Neto fazia sobre dívida externa. Basta comparar com os números de hoje para achar no mínimo engraçada a seguinte consideração do então ministro da Fazenda: "Nas condições anteriormente vigentes, ainda quando mobilizava recursos internos suficientes para os projetos considerados prioritários, o governo não conseguia atrair os recursos externos do mesmo modo necessários, a não ser promovendo um endividamento superior às suas capacidades de pagamento. Recorde-se que, ao fim do governo Kubitschek, o Brasil acumulara enormes atrasados comerciais, vira fecharem-se as portas da generalidade dos organismos internacionais de crédito e, para atender aos credores mais exigentes (e assim evitar acontecimentos extremamente desagradáveis para o País, como a interrupção dos fornecimentos externos de petróleo), recorrida a operação de swaps - o que quer dizer que, de um lado, arcava com juros altíssimos e, de outro, contraíra dívidas de curto prazo para pagar dívidas vencidas, num simples expediente de protelação e agravamento da situação. Também ao fim do governo Goulart, apesar de este não ter nem pelo menos impulsionado o desenvolvimento da economia, a tese de que se valiam os setores governistas para evitar o pior era a de reinvindicação de uma "moratória internacional", que representaria uma desmoralização duradoura para o País. "Os procedimentos adotados, portanto, ainda quando numa primeira fase (quando se recebia e se começava a gastar o que se tomava emprestado) serviam para criar uma ambiência de prosperidade, acabavam conduzindo a um verdadeiro "beco sem saída", quando se tinha de começar a pagar (sem ter com que) o que já se desgastara. Chegados a essa penúria cambial, reforçavam-se as condições propiciadoras do crescimento dos controles burocráticos emperradores da iniciativa privada. Sendo as dividas estrangeiras escassas, tornava-se preciso selecionar quem teria primazia para utilizá-las. Organismos e funcionários pretensamente onipotentes passavam então a dizer quem podia e quem não podia gastar dólares. Vinha então, o tráfico de influências e às vezes até o suborno - caminhos evidentemente pouco condizentes com um desenvolvimento amplo e célere para as atividades privadas".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
7
24/12/1980
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