Comunidade israelita revoltada contra o boicote ao filme "Shoah"
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de outubro de 1989
Refletindo a indignação da colônia israelita de Curitiba pela desconsideração as entidades que poderiam promover o lançamento do documentário "Shoah" (Cine Groff, 14 e 19h30), o Sr. Ben-Ami Saltz, dedicou 20 dos 45 minutos da audição de domingo, 22, do programa "Hora Israelita" (rádio Marumbi, 10h30 da manhã) a este grave fato. Citando nossos artigos de sexta-feira e domingo - no qual denunciamos mais esta demonstração de incompetência da Fundação Cultural/Secretaria Municipal de Cultura em desperdiçar filmes especiais em seu circuito oficial de exibição, Ben-Ami Saltz mostrou sua irritação em ver praticamente boicotado em Curitiba a exibição de uma obra como "Shoah" que, em outras cidades tem sido lançado sempre em colaboração com entidades israelitas.
Ontem, ainda, o presidente da Federação israelita do Paraná, professor e jornalista Leo Kriger, 47 anos, manifestou oralmente ao seu amigo Jaime Lerner, prefeito de Curitiba, também sua estranheza pelo fato de "Shoah" ter o tratamento obscuro que o está fazendo um fracasso de bilheteria no Cine Groff (menos de 100 espectadores nos quatro primeiros dias de exibição), quando poderia ter um grande público, "desde que a comunidade israelita tomasse conhecimento de sua exibição".
Somente no domingo, 22, à tarde, foi que Leo Kriger soube da exibição deste filme em Curitiba.
- "Há muito tempo que aguardávamos o seu lançamento para fazermos uma promoção junto a comunidade. Bastaria um telefonema que, por nossa conta, cuidaríamos de promover o filme. Entretanto, nada nos foi informado".
Como a Fundação/Secretaria Municipal de Cultura não investe nem um centavo na publicidade dos filmes de seus quatro cinemas comerciai (Rita, Groff, Luz e Guarani), tendo apenas a cobertura gratuita dos jornais (mas as quais nem sempre envia a programação, nem fotos dos filmes que lança), a estréia de "Shoah" só teve divulgação em poucas colunas que, generosa e gratuitamente, a divulgam.
No caso de um documentário de características especiais como "Shoah" (nove horas e trinta minutos de duração, divididos em duas partes), pela abordagem de um assunto específico (o genocídio dos judeus), seria indispensável que a numerosa equipe que o setor de cinema da Fucucu emprega tivesse o mínimo trabalho em contatar com as instituições israelitas da cidade. A Federação presidida por Leo Kriger representa 17 entidades israelitas no Paraná, a maioria delas em Curitiba e, agilmente, haveria uma divulgação direta. Custo: apenas um telefonema de parte da Fucucu. Pelo visto este esforço pareceu demasiado para a Secretaria Municipal que tem um custo diário ao redor de NCz$ 20 mil e emprega centenas de pessoas.
Ben-Ami Saltz, gaúcho de Santa Maria, 40 anos, desde 1983 radicado em Curitiba, diretor financeiro da Joalheria Boiko e que há mais de um ano produz e apresenta "A Hora Israelita", recebeu no sábado (portanto, após nossa primeira notícia a respeito ter sido publicada), 20 ingressos para o filme. "Eu queria era ser informado antecipadamente e não apenas receber às entradas" reclamou com razão, distribuindo as mesmas aos ouvintes de seu programa. Só na manhã de domingo, Ben-Ami Saltz recebeu 80 telefonemas de membros influentes da comunidade israelita, todos revoltados por aquilo que alguns até classificaram de sabotagem no lançamento obscuro de um filme tão atual e necessário de ser visto - especialmente pelas novas gerações - como "Shoah", "neste momento em que o neo-nazismo ressurge em tantas partes", diz o produtor de "A Hora Israelita". A revolta de muitos israelitas que telefonaram a Ben-Ami foi justamente pelo fato deste grave fato ter ocorrido num cinema mantido pela contribuição da população, pertencente a uma secretaria municipal e numa administração que, por coincidência, tem um filho de judeus, o arquiteto Jaime Lerner, na Prefeitura.
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