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Aramis

"Vozes Distantes" e "Pão, Amor e Ciúme [Fantasia]" em vídeos

Só em Curitiba, já passam de 200 as locadoras. O negócio deve ser bom haja visto o número de baiucas que são abertas mensalmente. Entretanto, um experiente consultor de vídeo, Anibal Tomé, concorda: nunca se lançou tanto lixo. E, com exceção de duas ou três locadoras, a maioria tem limitadíssimas opções. Buscam apenas os sucessos de retorno imediato ou os produtos mais baratos - descartando qualquer investimento em vídeo de melhor qualidade. Portanto, se alguém é mais exigente tem que buscar as poucas locadoras bem estruturadas - como a Disc Tape ou Master, entre 4 ou 5 outras. Nas demais, é perda de tempo, energia e paciência. A culpa não é (só) dos donos de locadoras - geralmente pessoas sem maior (in)formação cultural, especialmente cinematográfica, que abrem estas lojas como abririam uma mercearia ou açougue: buscando apenas o lucro imediato. As distribuidoras, numa disputa de mercado, enchem as locadoras de material aparentemente atrativo, com 70% de filmes "c" a "z" que, normalmente nem chegariam aos circuitos comerciais. É importante denunciar esta queda de qualidade no mercado e, portanto, valorizar os melhores produtos quando eles são colocados a disposição do público. Mesmo a Sagres, que apareceu no ano passado com ótimas propostas - lançando desde "Hiroshima, Mon Amour", 1959, de Alain Resnais - o filme-marco da nouvelle vague - até "Que bom te ver viva", de Lúcia Murat e uma série de curtas metragens premiados em Gramado, começa a se render ao comercialismo. Em seu último suplemento, trouxe coisas como "Contra o Império do Vício" (The Messenger), 1989, de Fred Williamson, com o próprio diretor no papel central e mais o veterano Cameron, Mitchell, que, nos anos 60, chegou a fazer bons filmes como "Voltei a ser Homem". Também distribuído pela Sagres, "O Terror Tira Férias" (The Ogre), de Lamberto Bava, com um elenco desconhecido (Virginia Bryant, David Flosey e Paolo Malco). Felizmente, para compensar, a Sagres traz dois filmes interessantíssimos: "Vozes Distantes" (Silence Voice, Still Living), Inglaterra, 1988, de Terence Davies e "Pão, Amor e Fantasia" (Pane, amore e Fantasia). Realizado em 1988 por Terence Davies, um talento emergente do novo cinema inglês, "Vozes Distantes" ganhou o prêmio da crítica no Festival de Cannes e foi uma das sensações na mostra paralela do FestRio naquele ano. Introspectivo, profundo, esta crônica familiar inglesa, ambientada nos anos 50, tem uma fotografia belíssima de William Diver e Patrick Duval e trilha sonora com standards da época. Interpretações seguras e marcantes, de artistas vindos do teatro inglês - Freda Dowie, Pete Postlethwaite, Angela Walsh, Dean Williams e Lorraine Asbbourne, valorizam sobremaneira este filme de primeira categoria. Agora a questão é: qual de nossas locadoras o adquiriu? Há 37 anos, Luigi Comencini, então com 37 anos e uma carreira em escalada (havia estreado com "É Proibido Roubar", em 1943), realizou uma das mais deliciosas comédias dos anos 50: "Pão, Amor e Fantasia" (Pane, Amore e Fantasia), com Gina Lollobrigida, no esplendor de seus 26 anos e Vittorio de Sica (1902-1974) com todo o seu charme, numa comédia ambientada numa pequena aldeia italiana. O filme agradou tanto que teria uma seqüência do próprio Comencini ("Pão, Amor e Ciúme", 54) e seria um sucesso internacional. Agora, a Sagres traz essa jóia exemplar de comédia, com a esperança de que haja público suficiente para justificar a seqüência (houve uma terceira parte, mas sem o mesmo sucesso).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
8
14/06/1990

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