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Aramis

A voz da música de Carlos

Irineu Garcia foi o pioneiro. Há três décadas, teve a idéia de registrar para a posteridade vozes dos poetas e escritores brasileiros. Assim em modestos 45 rpm, Garcia produziu disquinhos nos quais seus amigos Vinícius de Moraes, Augusto Frederico Schmidt, Paulo Mendes Campos, Manuel Bandeira, Cecília Meirelles e, naturalmente, Carlos Drummond de Andrade, entre outros, venceram a timidez e leram seus versos. Assim, como havia produzido o primeiro histórico elepê da Bossa Nova ("Canção do Amor Demais", Elizeth Cardoso, interpretando Vinícius de Moraes e Antônio Carlos Jobim, com João Gilberto no violão, 1958), Irineu Garcia - personalidade admirável, já falecido, e a qual ainda não se deu o devido valor dentro da vida brasileira - fez, em sua etiqueta "Festa", documentos preciosos. Duas décadas depois, Suzana de Moraes, cineasta e filha de Vinícius, conseguiu convencer a Drummond a entrar novamente num estúdio. Só que desta vez o registro não ficou apenas em poucas faixas mas espalhou-se ao longo de quase 100 minutos, dos quais foram extraídos momentos maiores para uma "Antologia Poética", álbum duplo, lançado agora pela Polygram, que ainda está em catálogo - e que agora, por certo, será procurado com avidez. xxx Há 19 anos, Dulce Nunes, cantora, compositora, hoje exclusiva da etiqueta Carmo (de seu ex-marido Egberto Gismonti), teve uma feliz idéia: pediu a alguns dos mais brilhantes escritores e poetas (inclusive Guimarães Rosa) textos para musicar. O resultado foi "Samba do Escritor", no qual a parceria com Drummond ficou na faixa "Legado". Um disco historicamente da maior importância, há anos fora de catálogo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
19/08/1987

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