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Aramis

A volta de Antônio Carlos e Jocafi. Quem se lembra?

Há alguns dias, comentávamos com um produtor musical a crueldade do mundo do show bussiness, capaz de eleger ao sucesso certos artistas e, com a mesma rapidez, também condená-los a um prematuro ostracismo se o profissional incorrer no pecado de deixar de vender o que os inflexíveis tycoons da indústria fonográfica esperam. Agora, com o boom do mercado, em que vender 100 mil cópias já é considerado normal, a situação torna-se ainda mais dramática - e no critério de consumo os artistas mais expressivos, mas que nem por isto, forçosamente, atingem tais índices comerciais, acabam sendo preteridos por aqueles produtos (jargão que é tão usado pelos executivos fonográficos) de resposta imediata, com vendagens antecipadas de 100 mil cópias capazes de ultrapassar a barreira do disco de platina em poucas semanas - mas que musicalmente, meu Deus!, ficam no nível de Xuxa, RPM, Amado Batista e outros. Assim, no jogo bruto do sucesso, os elencos tendem a se reduzir - ainda mais que não há matéria-prima para todos os produtos e muita gente baila. Falta vinil para prensar as bolachas, não há condições das gráficas imprimirem as capas e as gravadoras estão preocupadas em atender os pedidos dos lojistas que desejam apenas os super-sucessos. Esta situação econômica explica porque as listas de lançamentos estão reduzidas e está difícil encontrar discos de qualidade nas lojas. Por outro lado, a produção de discos independentes e por parte de pequenas etiquetas também ficou crítica, já que com a proximidade do Natal, as cinco fábricas de discos estão trabalhando 24 horas por dia e assim mesmo não conseguem atender toda a demanda. Só o novo álbum de Roberto Carlos deve passar de um milhão e meio de cópias vendidas, o que levou os tycoons da CBS a pensar em produzí-lo, industrialmente, na Argentina, onde as fábricas não estão tão congestionadas. A OPÇÃO DA CONTINENTAL Gravadora que ao longo de quase 40 anos de existência dentro do mercado fonográfico tem atravessado períodos de vacas gordas e magríssimas, a Continental, sucessora da antiga Columbia, está tentando, mais uma vez, reerguer-se no mercado. A exemplo da Copacabana, a Continental sempre foi uma indústria basicamente brasileira. Se houve períodos em que aqui apresentou prestigiosos catálogos estrangeiros, o básico de suas vendas sempre foram os artistas populares, especialmente os sertanejos e rurbanos. E graças aos intérpretes bregues, muito mais fiéis (e baratos) do que eventuais sucessos "urbanos" ou superstars internacionais, é que a Continental evitou, tantas vezes, caminhar para o brejo econômico - embora tenha estado, inúmeras ocasiões, no vermelho. Portanto, esta gravadora merece respeito de quem se interessa pela música verde-amarela, sejam em suas edições mais comerciais, seja na abertura a artistas que, atualmente, não teriam melhores chances na frieza mecânica das multinacionais. Por exemplo, após lançar discos de dois ótimos cantores - a jazzística Cyda Moreira e o irascível Tim Maia, temos agora o retorno da dupla Antônio Carlos e Jocafi, dupla que já viveu períodos de prosperidade e que nestes últimos anos estava tão por baixo que muitos julgavam que havia se separado. BAIANOS CONSUMIDOS Antônio Carlos (Marques Pinto), 41 anos, e José Carlos Figueiredo, 42 anos, baianos de Salvador, atuavam separadamente até 1968, quando Antônio Carlos compôs "Festa no Terreiro de Alaketu", defendida por Maria Creusa, bela e sensual cantora (com quem viria a se casar) no III Festival de Música Popular da TV Record. Em 1970, já como parceiros, inscreveram-se num festival do Nordeste com a música "Catendê", que Maria Creusa gravaria no ano seguinte e defenderia, ainda em 1969, no V FMPB. Maria Creusa (Silva Lima, Esplanada, Bahia, 42 anos), viria a gravar um histórico lp, numa etiqueta baiana ("Lunik 9", JS). divulgando várias composições do marido e de seu parceiro. A partir de 1971, os três, contratados da RCA, iniciaram um período de grande sucesso. "Você abusou" (várias vezes regravado), "Mudei de idéia" e "Desacato", ptojetaram os nomes de Antônio Carlos e Jocafi nacionalmente. Infelizmente a carreira da dupla Antônio Carlos e Jocafi entrou em declínio há alguns anos. em parte, pela insitência em repetirem um mesmo esquema de fáceis refrões - em que pese alguns momentos criativos, como "Toró de lágrimas" (parceria com Calazans); em 1974, e "Dona Flor e Seus Dois Maridos", além de terem levado ao World Popular Song Festival de Tóquio, "Diacho de Amor". Também a estupidez e grosseria do ex-empresário da dupla - o mesmo sujeito que tanto prejudicou a carreira de Maria Creusa (hoje divorciada de Antônio Carlos) contribuíram para que a dupla amargasse um período de ostracismo. Entretanto, agora eles retornam com um elepê ("Feitiço Moleque", Continental, novembro/86), que se não inova musicalmente, reúne músicas de fácil assimilação - incluindo um hit que, pelo seu lado sacana - "Tiê", começa a aparecer na programação das rádios AM. Antônio Carlos e Jocafi possuem aquela fórmula de construírem melodias simples, facilmente assimiláveis - embora, em alguns momentos, mostrem também um romantismo suave, no caso deste novo elepê bem representado por "Corredeiras da Paixão", valorizado com um bom arranjo de Geraldo Vespar. Cada faixa deste novo disco, bem produzido e com presença de instrumentistas do nível de Rafael Rabelo no violão e Wilson das Neves na bateria, poderia justificar uma apreciação demorada. Entretanto, concordamos com Ronaldo Bôscoli, que no release que acompanha o lp, sintetiza muito bem este retorno: "Antônio Carlos e Jocafi fazem o que melhor sabem fazer, sem aquelas preocupações juvenis de mostrar diversificações muitas vezes perigosas. Taí um disco que veio para resgatar um tempo em que nossa alma vivia em eterno feriado".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
16/11/1986
Sinto saudades das músicas deles. Seria ótimo ouvirmos novamente aquelas músicas lindas. Lembro que a Globo "encomendou" a trilha sonora de uma novela a eles e foi o maior sucesso!
gostaria de deixar uma correçao sobre a interpretaçao da musica catende no V festival da musica brasileira de 1969 creditada a Maria Creuza quando na verdade foi defendida pelo conjunto os caçulas. obrigado silvia
Sou um grande admirador da obra e da carreira da dupla. Não consigo entender,em nosso país,talentos como Antonio Carlos e Jocafi,ficar de fora das grandes mídias. Isso sim,é a essência e qualidade primeira da nossa Mpb. Letras e musicalidade afinadas,incomparáveis talentos. Salve Antonio Carlos e Jocafi !!!!!!
Faço minhas as palavras do Hiram Motta e da Leda(ambos acima)... Os caras SÃO muito bons mesmo ! Sem dúvida fazem muita falta com o balanço, melodia e letras simples, agradáveis de ouvir e cantar...infelizmente, ao que parece, nem um site oficial eles têm. Da mesma forma sinto falta das interpretações sensacionais da Maria Creusa...
POr onde anda Antonio Carlos e Jocafi???? Ainda fazem musica??? Alguma letra nova por ai??? Abçs Fernanda

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