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Aramis

Violões

Dizer que o Brasil é o País dos violonistas talvez seja um pouco de exagero. Pois se temos virtuoses da expressão de Turíbio Santos (que passou uma semana, no Guaíra, fazendo um show admirável ao lado de Alaíde Costa e Copinha), Baden Powell, Sebastião Tapajós (os dois hoje praticamente absorvidos por contratos internacionais na Europa, assim como Turíbio), há também muitos compositores que, mesmo necessitando basicamente do violão, ainda precisam de muito estudo. Mas sempre há revelações para o público, de talentos extraordinários, que, modestos, humildes, permanecem afastados dos grandes centros, num trabalho (tranqüilo(, quase que artesanal, mas nem por isso com menor voltagem. É o caso de Canhoto da Paraíba (Francisco Soares, 51 anos), que cresceu e sempre viveu no Recife, de lá saindo raras vezes. Uma destas ocasiões, há muitos anos, foi para conhecer e tocar com Jacob do Bandolin e o Época de Ouro. Paulinho da Viola, que na época tinha apenas 14 anos, o escutou e ficou deslumbrado. Sempre que viajava ao Recife procurava Canhoto, de quem se tornou grande amigo e divulgador de sua obra. Aprendeu seus choros maravilhosos, os ensinou a amigos - como "Tua Imagem", que Toquinho gravou há três anos ("Boca da Noite", RGE, 303.0029, novembro/74). Agora, finalmente, Paulinho pode realizar um velho sonho: produzir um elepê de Canhoto da Paraíba, o que fez nos Discos Marcus Pereira ("Com Mais de Mil", MPA 9363, agosto/77), trabalho dos mais importantes e que entre tantos discos (alguns somente comerciais) de choro, se destaca como uma jóia rara. Gravado em cinco noites no mês de maio, "num ambiente onde camaradagem e alegria uniram-se aos sons dos violões de César e do próprio Canhoto, ao cavaquinho de Jonas, a percussão de Hércules e Jorge", como se toca um violão e, principalmente, a revelação de 12 temas antológicos, quase todos choros próprios (autor de 11 das 12 faixas, a única exceção foi "Subindo ao Céu", de Aristides Borges). As músicas de Canhoto da Paraíba são: "Tua Imagem", "Amigo Sena", "Corrinha", "Com Mais de Mil", "Lembranças Que Ficou", "Visitando o Recife", "Todo Cuidado é Pouco", "Revendo um Amigo", "Choro na Madrugada", "Valsa Tozinho" e "Pisando em Brasa". Belíssima capa e programação visual de Elifas Andreatto, sem dúvida das mais bonitas do ano. Enfim, um disco classe A. Quando se fala nos grandes violinistas brasileiros um nome não pode ser esquecido: Paulinho Nogueira (Paulo Arthur Mendes Pupo Nogueira, Campinas, SP, 8 de outubro de 1929), 26 anos de carreira profissional (estreou em 51, na boate Itapoã, SP), que além do virtuosismo ao violão, é também um lírico letrista e dono de bela voz. Professor de violão dos mais disputados - entre seus ex-alunos, Toquinho, criador de ingênuos sucessos ("Menino Desce Daí", "Menina", "Menino Jogando Bola", etc.) - Paulinho, após muitos discos na RGE e Continental, está tendo agora uma nova fase na (Phillips(. Seu segundo disco na Phonogram ("Voz & Violão, 6349339, setembro/77), ao contrário do anterior ("Antologia do Violão", 1976), exclusivamente instrumental, o traz também cantando, intercalando composições novas ("Catarina", parceria com Paulo Cesar Pinheiro); "De Passagem", parceria com Zezinha Nogueira; "Cravos e Violas", parceria com Paulo Marques; "Rebelião", "Para Contribuir a Confusão Geral", "Água Morro Abaixo", "Na Chegada do Verão"), com antigos sucessos - "Menino", "Tímido", "Menino Desce Daí" e a antológica "Pra Você Que Vai Chegar". Apaixonado pelos cães, aos quais dedicou várias canções, Paulinho traz mais um samba cinófilo: "Quem não tem cão". Ao violão perfeito e seguríssimo de Paulinho, somaram-se os teclados de Nelson Ayres, a bateria de Willian Caram, o baixo de Zeca, além de, em participações especiais, César Mariano (syntorchestra), Quarteto (vocal em "Água Morro Abaixo" e "Menino Desce Daí"), Antônio Carlos Del Claro (cello em "Chegada do Verão"), Roberto Sion (flauta e sax), Geraldo de Oliveira (gaita em "Menina") e Zé Cupido (acordeão em "Catarina"). Rosinha de Valença (Rosa Canelas, Valença, Estado do Rio, 31 de junho de 1941), 18 anos de vida musical - em 1961 passou a se dedicar ao violão e em outubro de 1963, estreava num show na boate Aun Bom Gourmet, no Rio. Nos anos 60, dividiu com Baden Powell a posição de maior revelação do violão moderno. Neste período gravou muitos discos, viajou ao Exterior, trabalhou com Sérgio Mendes nos Estados Unidos e, principalmente, tem se preocupado em valorizar o músico, fazendo sempre questão de se apresentar com um bom conjunto. Este ano, afora um novo disco na Odeon, Rosinha fez um dos melhores shows na série "Seis e Meia", no Teatro João Caetano, dividindo com o acordeonista Sivuca (Severino Dias de Oliveira, Itabaiano, Paraíba, 26-05-1930), um dos melhores executantes de acordeão no Brasil, compositor, cantor, que durante mais de 10 anos morou nos Estados Unidos. O resultado deste encontro, visto por 5 dias no teatro carioca, foi perpetuado num excelente LP ("Sivuca & Rosinha de Valença", RCA Victor, 107.029, outubro/77), onde o repertório não poderia ser melhor: Rosinha e Sivuca em "Asa Branca" (Gonzaga/Teixeira) e "Lamento"; Sivuca em "Homenagem à Velha Guarda", "Quando me Lembro", "Vassourinha", "Reunião de Tristeza" e "Feira de Mangaio" e "Adeus, Maria Fulô"22 (nesta com a participação de Raul Mascarenhas, no sax-tenor). Rosinha em solo antológico, recria um sucesso de Vera Brasil e Silvan Castelo Neto: "Tema do Boneco de Palha". Codó é um dos violonistas brasileiros, dentro de (seu( estilo tradicional, que criaram uma verdadeira escola. Conhecido e admirado no meio musical, tem, porém, poucos discos gravados e pouco sai do Rio de Janeiro. Por isso, é importante a reedição de um dos discos que fez na CID, incluído na série "Talento Brasileiro" e onde executa composições próprias - "Quadradinho", "Gamadinho", "Capoeira", "Brincando com as Cordas", "Samba Mesmo", "Minha Favela", ao lado de músicas de outros autores como "Alegria, Alegria" (Caetano Veloso), "Canção de Amor" (Elano de Paulo-Chocolate), "Viola Enluarada" (Marcos-Paulo Sérgio Valle), "Beija-me" (Roberto Martins-Mário Rossi) e "Aos Pés da Cruz" (Zé da Zilda-Marino Pinto).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
27
20/11/1977

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