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Aramis

Vinícius, Guarany, Carmen e Clementina, a benção!

Nosso mundo (terreno) perde seus poetas e músicos e a orquestra celestial é reforçada: na terça-feira, foi o amigo Vinícius de Moraes, que, como tão bem disse seu irmão de afeto (e poesia) Carlos Drummond de Andrade, << entra no céu, rodeado de anjos, crianças, virgens e matronas que entoam << Se Todos Fossem Iguais a Você>. Na sexta-feira, a notícia da morte de outro grande amigo - não famosos quanto Vinícius, mas igualmente bela e maravilhosa figura humana e profissional dos mais conscientes e talentosos: Guarany Fernandes, 50 anos, baterista. Doente há vários meses, Guarany vivia recolhido na casa de sua família, no Juvevê, transmitindo a poucos alunos um pouco de sua arte na percussão. Há 3 meses, por insistência de um de seus melhores amigos, o pianista Gebran Sbbag, Guarany teve uma noite de emoção: no musical apartamento do professor e advogado Aristides Severo Athayde (fundador e primeiro presidente da Pro Música), reencontrou-se com a flautista Norton Morozowicz, hoje primeiro flautista da Sinfônia Brasileira e encerrando, hoje, o II Festival de Música de Londrina, da qual é o diretor artístico, Guarany, Gebran e Norton, no início dos anos 60, formavam o Ludus Tercius, que teve uma curta - mas marcante - existência, tocando no Centro Comercial Curitibano, bem intencionada - embora frustrada - experiência artística no edifício do Clube Curitibano. E naquela noite de reencontro na casa de Athayde, Gebran, Norton e Guarany tiveram momentos de músical emoção. A separação de quase 18 anos, não a força, o equilibrio e afinação destes três músicos admiráveis que, perante uma mínima (e privilegiada freqüência), tocaram por muitas horas, da bossa nova ao jazz, improvisando livremente. Alguns dias mais tarde, na residência do próprio Gebran, houve outros reencontros - felizmente registrado em fita (agora histórica), onde Guarany, mesmo doente, procurava demonstrar seu otimismo. E agora, de repente, não mais do que de repente, o amigo Gebran mais um espaço em nosso mundo e mais uma cruz no caderno dos amigos. *** A biografia oficial de Gebran - como a de tantos outros artistas do Paraná, precisa ser levantada, para um necessário << quem é quem >>. Mas para se ter uma idéia de sua importância como instrumentista , basta recordar o que nos dizia, há menos de 3 semanas, Helcio Milito, do Tamba Trio; e que conviveu bastante com Guarany, nos anos em que ele residiu no Rio: << É um grande percussionista, talvez um dos melhores do Brasil. Se assim não fosse, João Gilberto não teria exigido sua presença para gravar várias faixas de seu primeiro LP >>. João Gilberto foi um dos primeiros artistas, com seu ouvido privilegiado, a sentir a imensa capacidade de Guarany, para dar uma nova batida na bateria e das sessões com Gilberto, o bom Guarany tinha gratas recordas, que tantas vezes nos contou e, oh! ironia, ficaram sem um registro gravado para a história. *** Terça-feira, 7.º dia da morte de Vinícius, o prefeito Jaime Lerner, que o recebeu, há 9 anos passados, para a inauguração do Teatro do Paiol (quando pela primeira vez o Poeta veio a Curitiba), deseja homenageá-lo. Uma missão descontraída, como o poeta gostaria, deverá ser oficiada - em hora e local a ser designado. E depois, uma homenagem que permaneça para todo o sempre - significado mas sem ter << caretice >> oficial está sendo pensada. Sugestão são bem vindas... *** Não falamos apenas dos que se foram, mas dos que, felizmente, aqui estão. Razão mais do que suficiente para se brigar pela necessidade de estimular os valores que necessitam serem mais promovidos e divulgados. A grande Carmen Costa, voz única, mulher de intensa vivência, chega hoje para dividir amanhã, no Paiol, mais uma , desta vez com o educador Lauro de Oliveira Lima, um dos homens que melhor conhece os problemas da educação em nosso País. Sem papas na língua, de idéias que assustam os medíocres e incompetentes que se dizem educadores, Lauro deverá fazer importantes colocações, no encontro de amanhã - destinado a ser um dos melhores da série. Já a grande Carmen, que poderá contar muito de seus 40 anos de carreira apesar disto, ainda recentemente, foi vítima da burocracia do INPS, acusando-a de fraude por aposentadoria que ela, há muito, já tinha direito), os grandes sucessos que criou e até sua inesperada participação no histórico concerto da Bossa Nova, no carnegie Hall, NY, há 18 anos passados. Para acompanhar Carmen, um dos melhores compositores, violonista e caracteres desta nossa cidade: Marinho Galera. Que, profissional responsável, passou o fim de semana estudando as músicas de Carmen, para dar a maior dignidade aos números previstos para apresentação de amanhã. *** E, já que hoje falamos de grandes seres humanos, vamos aqui registrar: quarta-feira, dia 16, ao entardecer, na galeria Rodrigo de Andrade, na Funarte, Rio, inauguração da exposição << A Bênção, Quelé >>, homenagem muito carinhosa que Hermínio Bello, de Carvalho e um grupo de amigos e admiradores de Clementina de Jesus idealizaram. Lembrando seus 15 anos de estrada na nossa música - sua estréia foi em << Rosa de Ouro >> (teatro Jovem, março/65) - artistas plásticos como Glauco Rodrigues, Lobianco, Germano Blum, Cildo Meireles, Ana Leticia, Urian, Mello Menezes, Serpa Coutinho, Dorival Caymmi, Ziraldo, Henfil, Nassara, entre outros, fizeram trabalhos inspirados em Clementina, que serão adquiridos pelos Banerj. A renda permitirá a compra de um apartamento para Clementina ter tranqüilidade no outono de sua vida. E na sala Funarte, de 16 a 26 de julho, Clementina faz uma temporada, direção de Érico de Freitas. Um poster de Elifas Andreato privilegiará os freqüentadores do show, que receberão o trabalho gráfico, de edição limitada, junto com o ingresso. Como a Funarte instala em breve sua representação em Curitiba, atendendo inclusive santa Catarina e Rio Grande do Sul - e para cuja direção foi indicado o pintor Domicio Pedroso - a vinda desta mostra poderá ser uma sede suas primeiras promoções locais. E porque também não trazer a grande Clementina! Aqui fica a sugestão.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
13/07/1980

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