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Aramis

Vem de Londrina o que há de melhor em teatro

O fato é um só: hoje o melhor teatro do Paraná é o que se faz em Londrina. Em que pese os esforços de grupos profissionais e amadores em Curitiba, o nível das produções locais, com raras exceções, é sofrível. Em Londrina, sem maiores subvenções - e onde inexistem fundações culturais ou teatrais - se vem fazendo, há anos, encenações de nível altíssimo, elogiados no eixo Rio-São Paulo e em condições de serem selecionadas para representar o Brasil no Exterior. Uma prova indiscutível: o grupo Delta estará em agosto em Nova Iorque com a sua moderna e criativa versão de "Toda Nudez Será Castigada", de Nelson Rodrigues, direção de Antonio Teodoro. Elogiada ao ser apresentada no Rio de Janeiro, em longa temporada, no início do ano, "Toda Nudez Será Castigada" já foi vista pelos curitibanos há mais de um ano. Agora, entretanto, antes do grupo viajar para os Estados Unidos, o Delta fará nova temporada (auditório Salvador de Ferrante, 17 a 20; 22 e 24 de julho), de forma que o público poderá confirmar a competência profissional, as inovações trazidas na peça e o talento do grupo de intérpretes reunidos nesta produção. xxx Quando se fala no teatro de Londrina, um nome se destaca: Nitis Jacom. Médica formada pela Universidade Federal do Paraná nos anos 50, tendo participado naquela época em que se fazia um bom teatro amador em Curitiba, de muitas montagens, Nitis conservou o amor pela ribalta - ao lado de suas atividades profissionais e, principalmente, grande militância política. Perseguida - ao lado de seu marido, o médido Abelardo de Araújo Moreira - hoje prefeito de Arapongas (assumiu com a renúncia do deputado Waldir Pugliesi) - durante os anos mais duros da repressão, Nitis jamais deixou de procurar manter os diferentes alertas para encenações responsáveis e de peças com idéias. Na Universidade Estadual de Londrina, mesmo sofrendo boicotes e perseguições, realizou um belo trabalho teatral, com uma dezena de encenações que colecionaram premiações em festivais nacionais. xxx Agora, Nitis acaba de dirigir uma nova peça, que terá estréia nacional em Curitiba, durante o Congresso da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência: "A Peste", adaptação do romance que o francês Albert Camus (1913-1960) escreveu em 1947. Nos dias 14 e 15, no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, 25 atores e atrizes estarão em cena, interpretando personagens densos, de um texto reflexivo e profundo. "A Peste" coloca para o público a situação de uma cidade que sofre uma epidemia e fica em quarentena. Ninguém entra, ninguém sai. Numa situação como essa, as relações sociais se deterioram, a sociedade se desestrutura, as instituições se desintegram. "A Peste" na adaptação de Nitis Jacom, busca mostrar no palco, em duas horas, as várias situações na família, religião, sociedade. Antes, durante e depois. Uma história coletiva onde os mesmos sentimentos são compartilhados por todos. xxx Com a modéstia que a caracteriza, Nitis Jacom diz que o Proteu - nome do grupo que dirige - se encontra, neste momento de seu processo de trabalho - numa fase de questionar e repensar o espetáculo cênico. - "Sem nenhuma pretensão de originalidade ou de inovação, o grupo se inquieta na evolução natural do processo. Tentamos transgredir ainda os limites ou os sinais convencionais do espetáculo de teatro". "A Peste" deverá provocar polêmica, aliás como acontece em todas as montagens de Nitis Jacom (por exemplo, "Bodas de Café", onde fez uma sincera revisão da história de Londrina, a propósito de seus 50 anos). Explica Nitis: - "Em "A Peste" o espetáculo não propõe protagonistas. Ou, talvez, o novo seja o protagonista. De resto, acontecem situações que pretendem esclarecer o contexto físico, social e psicológico em que a população (o Homem?) atua e reage. O espetáculo não pretende definir conceitos ou oferecer opções. O espetáculo só quer "viver para o público" o estado de peste e a perplexidade diante do absurdo da condição humana. xxx Com "Toda Nudez Será Castigada", com o grupo Delta e a estréia nacional de "A Peste", o mês de julho está salvo em termos teatrais. Graças a Londrina.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
29/06/1986

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