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Aramis

Uma viagem ao país dos colecionadores

Valêncio Xavier, múltiplo em suas agitações culturais - escritor, tv-man, pesquisador, cinéfilo, etc. - tem um orgulho especial: até hoje, ao que se saiba, foi o único intelectual identificado a se voltar para pesquisar e escrever a respeito da importância das estampas e figurinhas que, por décadas, eram utilizadas como apelo comercial em diversos produtos - cigarros, sabonetes, doces, charutos, etc. Em 1972, inaugurando a série "Cadernos da Casa Romário Martins", Valêncio publicou a pesquisa "Desembrulhando as Balas Zequinha", primeira tentativa de resgatar uma das tradições curitibanas, presente na memória de várias gerações mas totalmente esquecida do ponto de vista histórico (até hoje não se conseguiu estabelecer quem de fato foi o criador do símbolo "Zequinha", um personagem tipicamente curitibano). Nestes últimos 20 anos, Valêncio continuou a reunir tudo que foi possível na área, encontrando outros aficionados por aquilo que se pode chamar de "designer" alternativo. Assim, foi quem valorizou a coleção de um humilde garçon, Otto Goeble (1904-1989), que deixou com sua viúva um grande acervo - não só de figurinhas, mas também publicações e objetos. Em Curitiba, um dos maiores colecionadores é o Sr. Armando Kolbe, catarinense de Florianópolis, 66 anos, cujo interesse também é múltiplo: apaixonado por cinema antigo (é o tesoureiro do Cineclube Aníbal Requião), reuniu um acervo de fotos e cartazes de bang-bang e, paralelamente tem ao que se saiba, a maior coleção de carteiras de cigarros de várias épocas. São mais de mil exemplares nacionais e alguns estrangeiros, reunidas desde 1930. 292 destas, que refletem muito da época em que existiam as marcas destes cigarros, estão em exposição no Museu da Imagem e do Som (Rua Barão do Rio Branco, 395). Armando Kolbe, cuja paixão pelo hábito de colecionar passou ao filho Alfredo, 39 anos - que se dedica profissionalmente a numismática e filatelia - inclui também imensas coleções de selos, moedas, cédulas, caixas de fósforos, chaveiros, lápis, canetas, etc., que fazem de sua residência (Rua Tenente João Gomes da Silva, 100, bairro das Mercês) um centro de encontro de outras pessoas - geralmente com mais de 40 anos - que apreciam as formas alternativas de publicidade-brindes que, no passado, era comum - e que hoje, em face de novas realidades econômicas e técnicas diversas de marketing, foi suprimida quase que por completo. Em Fortaleza, o pesquisador Mighel Ângelo de Azevedo, o Nirez, que fez em sua residência o Museu Cearense de Comunicação, reuniu também um acervo de carteiras de cigarros - mesmo interesse de outro colecionador, gaúcho, não identificado. Infelizmente, as multinacionais fábricas de cigarros, que queimam milhões de cruzeiros anualmente em suas campanhas publicitárias, até hoje não se lembraram da riqueza destas coleções, que poderiam motivar, no mínimo, um belíssimo (e colorido) livro de arte. Aqui fica, de graça, a sugestão. LEGENDA FOTO - Valêncio: estudando (e colecionando) figurinhas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
08/02/1991

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