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Aramis

Uma noite da melhor MPB para Ney Braga

Se no passado a residência do professor Algacyr Munhoz Maeder - matemático, professor, ex-prefeito de Curitiba e ex-reitor da Universidade Federal do Paraná, recebeu grandes nomes da vida cultural e política do Brasil e Exterior, na quarta-feira, uma reunião informal, mas marcante, fez juz a tradição daquele solar na Rua Dr. Pedrosa. Um grupo melhores nomes da música brasileira, ali se encontrou, a convite do letrista Heitor Valente, coordenador do Projeto Acorde, com o governador Ney Braga, que estava junto com sua esposa - dona Nice, seu filho, Antônio Braga Neto e a nora. Não se falou de política ou administração, ninguém fez reinvidicações ao chefe do executivo Estadual que, por mais de 3 horas - chegou pontualmente às 20 horas e só saiu após a meia-noite se deliciou com o aprecia realmente: a boa música brasileira. Ao meio-dia, por iniciativa do secretário Cleto de Assis, da Comunicação Social, Ney Braga já havia recebido para almoço, no Pálacio, os compositores César Costa Filho e Carlinhos Lyra, os instrumentistas Sebastião Tapajós e Maurício Einhorn, a cantora Célia, a atriz Kate Lyra, que vieram ao Paraná nesta semana. Com exceção de Sebastião Tapajós, que se entusiasmou tanto pelo Festival de Inverno, em Antonina, que decidiu permanecer ontem e hoje, naquela cidade, os demais já se encontram em cascavel, onde integram o júri de mais uma eliminatória da promoção << Todos os cantos >> acoplada ao Festival de Música Popular tradicionalmente promovida pelo Tuiuti E. C. Hoje à noite haverá um show especial de Carlos Lyra, amanhã é Célia, a simpática e afinada cantora, que se apresenta domingo, antes do << Show do Júri >>, um espetáculo especial com a cantriz (cantora e atriz) Elba Ramalho, no qual a CBS deposita as maiores esperanças de transformar, a curto prazo, numa superstar - na mesma linha de Maria Bethânia, Simone, Gal Costa etc. *** Apreciador de ópera e dono de bela voz, Antônio Braga Neto - carinhosamente chamado de << Tota >>, mostrou seus dotes vocais. Discretamente acompanhado ao violão por Tapajós, cantou << O Ébrio >>, que Vicente Celestiano (1894-1968) compôs em 1936 e foi o maior êxito de sua carreira, inicialmente em teatro e, a apartir de 1947, no filme, dirigido por sua esposa, Gilda de Abreu (1904-1979). O governador Ney Braga não chegou a cantar, mas mostrou, no assobio, que tem muita musicalidade - pois, nunca deixou de acompanhar a MPB, seja pelas fitas com o intérpretes de sua preferências, carinhosamente preparadas por seu primo, o industrial e pesquisador. Luciano Lacerda, seja em reuniões com os muitos amigos que conquistou - e sabe preservar - nos meios artísticos. No início da reunião, o governador Ney Braga conheceu os três jingles-hinos que César Costa Filho-Heitor Valente criaram para o projeto << Viver Curitiba >>, que o publicitário Hiram Pessoa de Mello, vem desenvolvendo - e que , apesar de sua ligação direta com a cidade, ainda não teve chance de mostrar aquele que seria o maior interessado o prefeito Jaime Lerner. O governador gostou das músicas e das idéias de Pessoa de Mello, que elaborou um elenco de motivações para despertar, ainda mais o entusiasmo da população pela cidade. César Costa Filho, que acaba de terminar um novo elepê para a Sigla/Som Livre (onde, no ano passado, fez um disco que não teve a menor divulgação) mostrou, em primeira mão, suas novas composições. Sebastião Tapajós, que às 19 horas havia feito uma palestra e uma miniauditório em Antonina, no I Festival de Inverno, junto com seu amigo Maurício Einhorn, chegou, apanhou o violão e logo entusiasmou pelo virtuosismo: de um tema de Villa Lobos até fazendo dueto com Einhorn, em << Olha Maria >> (Tom) e << De Conversa em Conversa >> (Haroldo Barbosa/Lúcio Alves), nesta até com uma << citação>. de tango , na improvisão que Einhorn criou em sua recente excursão a Argentina. Chris (Martiza Fabiane Valente, esposa de Heitor) e Cristiana e Prince, três irmãos (filho de Patrícia Fabiane, pioneira da televisão no Paraná, hoje radicada no Rio) mostraram também balanço, interpretando músicas de alta velocidade vocal e, numa agradável surpresa. Nice, a bela e eficiente secretaria do Projeto Acorde, demonstrou seu entusiasmo pela música latino-americano, com << Gracias A La Vida >> e << Vilvier a Los 17 >>, ambas da chilena Violeta Parra, nesta segunda em contracanto com Célia que, se auto-acompanhando ao violão, não deixou de cantar seu maior sucesso, << Adeus Batucada>., que Ismael Silva, 69 anos, compôs em 1936 para Carmem Miranda (1909-1955) e que teve, há 10 anos, uma regravação por parte de Célia. Carlinhos Lyra não poderia deixar de também mostrar sua arte. Ao lado da obra-prima que fez com Vinícius de Moraes, << Marcha da Quarta-Feira de Cinzas >> (Ney gostou tanto que decidiu usar um trecho da letra num de seus próximos pronunciamentos), Carlinhos mostrou ainda mais duas novas músicas. a parceria póstuma com Dolores Duram (1930-1959) - a pedido de Hermínio Bello de Carvalho, colocando música num poema da autora de << A Noite de Meu Bem >>, só recentemente localizada por Marisa Gata mansa (que foi a maior amiga de Dolores), e uma composição concluída na última segunda-feira, ainda sem título, e que tem uma linha curiosa. Falando de um grande amor, surpreende ao final: a musa ao qual Lyra se refere é o Rio de Janeiro, que ganha assim mais uma música. Ao que Ney comentou: << A música é linda, mas Curitiba é que precisa de canções como estas... >> a letra desta recém-concluída música de Carlinhos Lyra é a seguinte, e aqui vai como registro histórico. >>Perdoa o meu silêncio/ Todos esses anos/ Não ter dito ao menos Quanto eu te amo Perdoa a minha ausência A minha volta em branco Não ter escrito ao menos Sobre os teus encantos Você é a saudade Da cidade amada é a pátria amada O amor enfim E nessa volta a mim Eu posso te dizer Que eu te amo por inteiro E mais a cada dia Eu te amo sim Meu Rio de Janeiro.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
25/07/1980

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