Uma galeria com 3 novos teatros
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 19 de fevereiro de 1987
Ao invés da perda de mais um teatro, que tal uma volta por cima e a transformação do espaço numa galeria com três casas de espetáculos?
A proposta parece irreal no momento em que está na 15ª Vara Civil o processo de despejo do Teatro 13 de Maio. Entretanto, sonhar não custa e três empresários artísticos que, nos últimos meses, vêm ocupando aquele espaço - Beto Bruel, Nautilio Portela e Francisco Moura - não descartam esta idéia. Para isto, precisaria que houvesse um mecenas, disposto a pagar Cz$ 6 milhões aos libaneses Ibrahim Hamond e Husseim Salim, proprietários do imóvel adquirido no ano passado dos herdeiros da família Heller, por Cz$ 4.500.000,00.
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Embora legalmente pertencente a Associação dos Produtores de Artes Cênicas do Estado do Paraná, o Teatro 13 de Maio (ex-da Classe) é, desde 10 de maio de 1986, de responsabilidade das companhias Tamanduá (Beto Bruel e sua esposa, Regina Bastos), N.B. Produções (Nautilio Portela e sua esposa Claudete Pereira Jorge) e Divinos Comediantes (Francisco Moura e Mario Schoenberg).
Arrendaram o teatro para ali apresentarem suas peças e, alterando entre espetáculos infantis e adultos, promoções especiais nas segundas-feiras e mesmo exposições e lançamentos de livros. Infelizmente, a Associação dos Produtores de Arte Cênica que, legalmente, deveria ter brigado para evitar a venda do imóvel nada fez - afinal, atualmente ela está muito mais preocupada em pressionar o governo a favor da lista tríplice para a superintendência da Fundação Teatro Guaíra do que defender o seu próprio patrimônio.
Assim, se não fosse a disposição dos advogados Renato Andrade e Paulo Roberto em apresentarem uma contestação a ação de despejo por denúncia vazia proposta há cinco meses pelos comerciantes Hammond e Jezzini, o fim do Teatro 13 de Maio estaria mais próximo do que se pode prever. Embora sejam poucas as possibilidades do juiz Leonardo Pacheco Lustosa, da 15ª Vara Civil, dar uma sentença favorável aos inquilinos do imóvel, os produtores Bruel, Portela, Moura e Schoenberg estão dispostos a permanecer no local. Os dois outros inquilinos do imóvel já saíram graças a indenizações de Cz$ 100 mil: o bar gay que funcionava no fundos e o Studio D, de Dora Paula Soares.
O Teatro 13 de Maio, mesmo fechado para o público há alguns meses, deve reabrir em 13 de março, garantem os arrendatários, dispostos a ali apresentarem novas temporadas de "Pinha, Pinhão, Pinheiro" de Fátima Ortiz e "A Dama de Copas e o Rei de Cubas", de Timochenko Wohbi, que, no ano passado, estiveram por várias semanas em cartaz.
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Beto (Luis Alberto) Bruel, 36 anos, paranaense da Lapa, considerado o melhor técnico em iluminação cênica do Paraná, através de sua Tamanduá Produções, vê com realismo a situação. Tem restrições ao descaso da Associação dos Produtores de Arte Cênica, que como proprietária legal do Teatro 13 de Maio, em ignorar, no ano passado, a venda do imóvel, quando poderia ter tentado mobilizar o Estado, opinião pública e mesmo iniciativa privada a favor da manutenção do espaço. Ao contrário, a Associação pouco ou nada fez. Os protestos partiram de jornalistas, especialmente de Adélia Maria Lopes e Dante Mendonça, editores do "Almanaque", de O Estado do Paraná. O poeta e publicitário Paulo Leminski, que ali coordenou uma série de promoções culturais nas noites de segunda-feira, também deu sua colaboração, criando um belo anúncio denunciando a venda do teatro e a demolição do prédio para estacionamento.
A Associação dos Produtores de Arte Cênica que, com mais força , poderia ter agido, ficou omissa. E deu no que deu: a transação foi concluída e o prédio só não foi abaixo porque a Prefeitura não autorizou mais um estacionamento no local. Mas os novos proprietários - Hammoud e Jezzini, dono de lojas comerciais da cidade, vão usá-lo para depósito de mercadorias. Tanto é que já despejaram dois inquilinos e agora, na justiça, querem pôr para fora o Teatro 13 de Maio, conforme aqui registramos (O Estado do Paraná, 13/2/87).
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Se o arquiteto Jaime Lerner fosse prefeito de Curitiba, com sua sensibilidade para a cultura, por certo a Fundação Cultural de Curitiba se mobilizaria para evitar a perda deste espaço. Entretanto, o prefeito Roberto Requião tem idéias diferentes e o atual secretário municipal de Cultura, Carlos Marés de Souza, propôs aos grupos que atualmente ocupam o Teatro que se transfiram para o futuro Teatro Rui Barbosa, a ser implantado com o despejo do cinema que funciona no terminal rodoviário da Praça Rui Barbosa.
Beto Bruel não descarta a possibilidade de usar este novo teatro, mas pergunta:
- Por que não conservar o Teatro 13 de Maio, implantado no Setor Histórico, de fácil acesso e que pode ser bem aproveitado?
E Beto tem um projeto maior:
- O amplo espaço do velho prédio poderia abrigar mais duas outras casas de espetáculos, movimentadas pela Associação dos Produtores e o próprio Sindicato. Seria uma galeria teatral.
Uma idéia audaciosa, claro: Que, de princípio, exigiria que o governo, a Prefeitura ou mesmo um mecenas - adquirisse o imóvel. Depois tem a questão prática. Isto são outros quinhentos. De momento, Beto Bruel preocupa-se com o que acontece objetivamente: o despejo do Teatro 13 de Maio e o fechamento de mais esta casa que, teoricamente, deveria ser um movimentado espaço cultural.
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