Login do usuário

Aramis

Um reencontro com o melhor do jazz

Quando o Modern Jazz Quartet fez sua última apresentação, no Avery Fischer Hall, em novembro de 1974, o musicólogo Nat Hentoff escreveu: "Nunca mais haverá uma fusão de tanta criatividade quanto MJQ: a delicadeza e o lirismo com raízes tão profundas no jazz". Realmente, entre 1952/1974, o Modern Jazz Quartet foi o mais original e prefeito grupo de jazz - único numa formação camerítica. Formado por Milt Jackson, Percy Heath, Conie Kay (substituído por Kenny Clarck em 1955) e John Lewis, seu líder, o MJQ gravou dezenas de lps, fez grandes excursões e deixou uma escola em sua arte. Diz o folclore jazzístico que durante quase 20 anos, dois dos integrantes do grupo mal se cumprimentavam mas, ao tocarem juntos, eram perfeitos. Mesmo com o fim do MJQ - e cada um de seus membros seguindo carreiras separadas - tem ocorrido raros e bissextos reencontros. Um deles foi promovido por Makoto Ujigawa, de Tokyo Broadeasting System, Inc., que em Budokan, nos dias 19 e 20 de outubro de 1981, conseguiu reaproximar o grupo. Aconteceu, então, o óbvio: a separação de sete anos não foi sequer sentida: os quatro músicos, juntos, tocaram como se tivessem se separado há poucas horas, tal a perfeição, fusão e, sobretudo, gentileza sonora que extraíram das notas. Quatro anos depois, a WEA oferece a rara oportunidade de se ter uma idéia auditiva do memorável reencontro do MJQ ("Reunion at Budokan 1981"), num elepê esplêndido, indispensável para se acrescentar a discografia deste quarteto, que, esporadicamente, tem tido alguns de seus momentos mais iluminados relançados no Brasil. O repertório não poderia ser mais significativo: começa com um clássico de Romberg/Hammerstein ("Softly As In a Morning Sunrise") e mergulha em momentos inspirados em Milt Jackson ("The Cylinder", "Really True Blues", "Bags Groove") e John Lewis, sem favor, um dos mais importantes compositores do Jazz moderno - e cuja criatividade tanto marcou ao MJQ: "The Golden Striker", "Odds Against Tomorrow" (o tema que criou para o filme "Homens em Fúria", em 1958, uma das muitas trilha sonoras que assinou), "The Jasmine Tree" (que deu título a um dos melhores álbuns do MJQ) e, especialmente, "Django" - a homenagem prestada há quase 30 anos ao guitarrista Django Reinhart (1910-1953). xxx Ao lado da "Reunion at Budokan 1981", a mesma WEA traz outro precioso presente aos que apreciam jazz moderno: um álbum duplo, com o extraordinário e harmonioso pianista Ahmad Jamal, numa descontraída jamsession produzida no studio Platinum Citty, em Dallas, no qual um econômico - mas ajustadíssimo grupo - Iraj Lashakary (percussão), Herlin Riley (bateria), Larry Bell (baixo) registrou 12 temas clássicos - de "Ponciana" e "But Not For Me" até o tema de "Mash" (Johnny Mandel"), sem esquecer uma homenagem a Jobim ("Wave") ou um standard indispensável em qualquer repertório - "Misty" (Errol Garner). Como inteligentemente, observou Alex Gladstone ("Isto É", 23/10/1985), poderia parecer um álbum piano-bar, "mas definitivamente é muito mais do que isso". Mais porque aos 55 aos, Ahmad Jamal (na verdade, Fritz Jones, Pittsburgh, 2/7/1930) é um pianista dos mais inventivos, que aos 11 anos já era solista de música clássica e teve como primeira e maior influência o lendário Art Tatum (1910-1956), para muitos, o maior dos pianistas de jazz em todos os tempos. Liderou um trio histórico ("Three Strings") no início dos anos 50, em Chicago e com o trompetista Miles Davis (1955/56) teve aprendizado notável. Há alguns anos Jamad Jaml estava ausente fonograficamente - Não só no Brasil, mas também nos Estados Unidos, o que faz com que "Digital Works" se constitua num dos mais significativos eventos jazzísticos do ano. Outro evento jazzístico é "Anthology of Grover Washington Jr." (Elektra/WEA), realmente uma antologia do melhor som do saxofonista (basicamente tenor, mas também barítono e soprano, além de clarinetista, baixista e pianista) que, aos 42 anos, está entre os mais requisitados instrumentistas contemporâneos. De uma família Musical (o pai era tenor, a mãe cantava em coral; um de seus irmãos é organista e o caçula, Darryl, baterista), Grover Washington Jr. ganhou seu primeiro saxofone aos 10 anos. São portanto 33 anos de sopro, período em que passou por várias escolas e, a partir de 63, desenvolveu vários trabalhos profissionais - desde a música marcial, no período de caserna na Flórida até o rock em grupos na Philadelfia. Foi, nos anos 70, que sua aproximação com os novos músicos jazzistas - como o baterista Billy Cobhan, Johnny Hammond e outros - o levaram a ser mais apreciado e se confirmar com seu sopro inventivo, sua abertura as fusões e a novos ritmos - mas mantendo aquele estilo suave e agradável. Com músicas produzidas entre 1980/84, Washington Jr. dá nesta "Anthology" uma excelente amostragem do melhor jazz contemporâneo, com temas próprios ("East River Driver") ou de autores de uma nova geração - MacDonald, Salter, além de um esfuziante reggae de Bob Marley ("Jasmmin", 1981), aqui numa leitura inovadora. Provando, mais uma vez, que o jazz é uma linguagem universal da criatividade sonora.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
37
03/11/1985

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br