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Aramis

Um porre audiovisual com tantos filmes no FestRio

Rio de Janeiro - "Um porre audio-visual". A sensação é comum a todos que procuram acompanhar este coquetel molotov de bebidas servidas em telas e vídeos e que desde o dia 19 faz com que milhares de pessoas corram entre uma sala e outra de exibição - seja no Hotel Nacional, a sede do FestRio, seja nas salas da cidade - nas quais se desenvolvem as interessantíssimas mostras paralelas. Mesmo sem freqüentar os múltiplos coquetéis que produtores, serviços cinematográficos e outras entidades, particulares ou oficiais, oferecem no agradabilíssimo ambiente do "Céu" - o luxuoso restaurante no último andar no Hotel Nacional, com uma visão da paradisíaca praia de São Conrado, há uma embriaguez geral. Uma embriaguez visual, na qual as imagens dos filmes se confundem, especialmente para os jornalistas, mais diretamente interessados em acompanhar ao menos os principais programas ofertados nesta quarta edição do maior festival de cinema da América do Sul - único da categoria "A", e que neste ano trouxe ainda maior número de atrações. Se há as naturais baixas, de estrelas e realizadores, que, pelo mais diversos motivos, acabam cancelando, na última hora, suas vindas - nem por isto a programação perde. Ney Sroulevich, diretor-geral do FestRio, repete aquilo que diz desde o primeiro festival há quatro anos: os convidados famosos só são confirmados depois que desembarcam no Galeão. Afinal, o festival convida, envia as passagens, insiste, mas não tem culpa se Ernest Borgnine, 70 anos, mesmo interessado em participar do seminário sobre cinema e drogas, acabou não podendo vir - ao menos até a última segunda-feira. Bernardo Bertolucci, cujo "O Último Imperador", encerra o FestRio, na noite de sábado, era o cineasta mais aguardado - e sua esposa, a cineasta Clare Peploe, já está no Rio, acompanhando as exibições de seu filme "Alta Temporada", uma das atrações da mostra "Olhar Feminino". As entrevistas coletivas se sucedem a tarde - variando do blá-blá vazio até aos encontros mais interessantes, embora a preocupação de alguns jornalistas que cobrem apenas esta área seja de conseguir papos exclusivos. Em alguns casos, os coordenadores das coletivas tem que reunir as pressas alguns repórteres para não existir o constrangimento deles ficarem sozinhos nas salas - pois afinal são muitos os eventos a serem cobertos e, especialmente, a atração dos filmes nas mostras paralelas, em competição, os Hors-concours, os do mercado - sem falar em mais de 100 horas de vídeo. As sessões começam às 8 horas da manhã para a imprensa e só encerram depois das 2 horas da madrugada na Sala Glauber Rocha, emendando filmes em competição e Hors-concours. Espectadores não faltam: se pela manhã há tranqüilidade e muitos lugares vazios, à noite apesar do ingresso a Cz$ 200,00, filas imensas se sucedem. Claro, que alguns filmes tem maior público - como foi o caso de "Atração Fatal", de Adrian Lynne (Flashdance, 9 ½ Semanas de Amor"), que no domingo superlotou a Sala Glauber Rocha. Junto com o filme português "Matar Saudades", de Fernando Lopes, foi, nos quatro primeiros dias a maior decepção do festival - confirmado pelas bolas pretas recebidas do "Júri B", que mais uma vez o "Jornal do Brasil" pública desde segunda-feira, com opiniões de críticos internacionais com Dan Faynaru, Hans Ehrman, Peter Schumann e Júlio Diamante, além dos brasileiros Edmar Pereiro e Pola Vartuck, Luciano Trigo e este repórter. xxx Muitos filmes tem sido substituídos nas sessões marcadas. Afinal, não é fácil coordenar a distribuição de centenas de cópias em mais de uma dezena de salas, num tráfego que deixa o supervisor Jorge Pedro de Oliveira de cabelos em pé, comandando uma equipe que tem que fazer força para levar as latas certas, com a magia das imagens que o público espera em cada sala. Embora o regulamento do festival exija que os filmes em competição venham legendados, a Austrália mandou o filme em versão original - e assim mesmo com as traduções simultâneas, muito se perdeu da trama um tanto complicada de "um vagaroso trem uma noite quente", sobre uma professora de arte num colégio religioso que para manter o vício da heroína do irmão inválido, aumenta seu orçamento prostituindo-se nos fins de semana viajando num trem noturno. A atriz Wendy Hughes é interessante - uma personalidade muito própria, que até poderia pintar como favorita ao Tucano de Prata. Roberto Farias, presidente do Júri de longa-metragem, protestou contra o filme ter sido projetado sem legendas. LEGENDA FOTO: Uma superprodução rodada na China, "O Último Imperador", de Bertolucci, vai encerrar o FestRio no dia 28.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
25/11/1987

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