Login do usuário

Aramis

Um festival como o país (Desanimado e sem luz)

O mais antigo dos festivais de cinema no Brasil, símbolo de resistência democrática nos anos mais duros da Ditadura Militar (e que sofreu suspensão por 4 anos, devido ter se transformado num centro de contestação nos anos 70), o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro vem sofrendo, nos últimos anos, um esvaziamento artístico-político. Se Gramado, com seu charme turístico e social, tem hoje a maior mídia na imprensa nacional e o FestRio, mesmo com todas as dificuldades econômicas (há duas semanas de seu início, o diretor-geral Ney Slorvich busca recursos de quase Cz$ 300 milhões para viabilizá-lo), tem atrações internacionais, o Festival de Brasília ficou espremido no calendário. A 21ª edição esteve para ser cancelada. Falta de recursos - crônico problema de todos os eventos culturais, ainda mais neste ano - e dois adiamentos de datas, ampliaram o leque de problemas que o presidente da Fundação Cultural do Distrito Federal, maestro Marlos Nobre, enfrentou. A disposição de Marlos em tentar levar o Festival para uma área nova - os cinemas do ParkShopping, distante do centro da cidade e deixando apenas sessões paralelas para o Cine Brasília (sede tradicional do Festival) trouxeram ainda maiores dificuldades. Em compensação, dos Cz$ 110 milhões que o evento custou, a FCDF arcou com menos de 10%. Patrocínios (Cinepark Shopping, Banco de Brasília, Vasp, Hotel St. Paul) cobriram a maioria dos gastos possibilitando inclusive uma generosa verba de Cz$ 16.200.000,00 para premiações em todas as categorias (os demais festivais de cinema no Brasil só concedem troféus). Eventos paralelos - que sempre possibilitaram uma maior presença cultural e mesmo política do Festival de Brasília - foram realizados mas tiveram problemas de esvaziamento provocado por dificuldades de localização. A simultaneidade de sessões competitivas (dos filmes em 16mm, exibidos à tarde) e a distância de espaços - quando o ideal seria a realização dos principais eventos num mesmo local (preferencialmente o hotel-sede) levaram a certas reuniões terem pouquíssimos participantes - ou mesmo serem canceladas, como foi o seminário que pretendia discutir o cinema brasileiro dos anos 80. A reunião dos dirigentes das regionais da Associação Brasileira de Documentaristas - e que, infelizmente, não teve a presença dos representantes do Paraná (Lu Rufalco e Peter Lorenzo, embora convidados) perdeu-se na discussão de um problema regional: o racha entre dois grupos de realizadores de Pernambuco. No final, os documentaristas fizeram um documento e, recebidos friamente pelo ministro José Aparecido, da Cultura, saíram constrangidos da audiência. - O ministro nos recebeu por cinco minutos, disse que já conhecia os problemas e praticamente não deixou chance de diálogo - queixava-se um dos dirigentes da ABD.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
05/11/1988

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br