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Aramis

Um cinema consciente para que exista um mundo melhor

Salvador - Dividido em mais de uma dezena de acontecimentos paralelos - desde uma nostálgica mostra retrospectiva que trouxe ao sexagenário Cine Tamoio (ex-Glória, um dos mais antigos do Nordeste), filmes como "O Circo" (1938), de Chaplin, "O Morro dos Ventos Uivantes" (1939), de William Wyller, "Vidas Secas" (1963), de Nelson Pereira dos Santos e "Meteorango Kid, Herói Intergaláctico", do baiano André Luiz Oliveira (1969, praticamente nunca lançado comercialmente no Brasil) - até uma oficina de restauração de filmes e vídeos orientada por Francisco Moreira, da Cinemateca do MAM/RJ, esta XXVIII Jornada Internacional de Cinema da Bahia foi uma das mais abrangentes de todas as edições. Apesar da importância dos 16 troféus - denominados "Tatu" (em suas categorias ouro, prata e bronze) entregues ontem aos melhores filmes e vídeos em competição, não é apenas a competição que faz da Jornada um evento respeitado. Guido Araújo e seus poucos colaboradores - entre os quais José Tavares de Barros, da Universidade Federal de Minas Gerais, Bernardo Vorobow e Cosme Alves Neto das Cinematecas de São Paulo e Rio de Janeiro, cineastas Francisco Liberato, Luiz Santoro, Orlando Senna e Pedro Chaskel Beko, respectivamente, procuram reunir filmes, vídeos e pessoas com identificação dentro daquilo que se pode chamar de "produção consciente". Assim, em diferentes espaços, estiveram em exibição obras de diferentes bitolas e durações, que basicamente refletem o olhar e o pensamento de seus realizadores. E se, no geral, há amargor, pessimismo, violência e tristeza, e choque em filmes e vídeos que mostram os tempos de fogos da ditadura no Chile (homenageada com ampla mostra, parte da qual chegou a ser apresentada na Cinemateca do Museu Guido Viaro, nos últimos dias, dentro do projeto "Americanicidad", na Argentina, da destruição do meio ambiente, do colonialismo cultural, da infância abandonada, prostituição, condição da mulher, etc. - isto não invalida, absolutamente, este projeto. Ao contrário, constata a denúncia àquilo que precisa ser corrigido e o que levou Guido Araújo a escolher como lema para este retorno da Jornada, a bem escolhida frase "Por um Mundo Melhor". Ontem, quando os participantes confraternizaram-se no Solar do Unhão, sede da Fundação Cultural da Bahia - após a entrega dos prêmios - e antecedendo a reprise de "A Lua no Espelho", do chileno Silvio Caiolla - uma das presenças de destaque nesta jornada, havia um clima de satisfação entre todos. A certeza de que através da força das imagens, dos debates e troca de idéias, os homens e mulheres podem oferecer seus testemunhos. Embora, em todos a consciência de que falta muito para que tantos e tantos trabalhos documentalmente importantes - infelizmente dificilmente chegarão ao grande público. Dificilmente uma televisão - mesmo educativa - se interessa pelo tipo de filmes e vídeos que a Jornada apresenta, os circuitos especiais são ainda desorganizados e só os trabalhos aqui premiados estarão sendo levados a algumas cidades - além de exibidos também no Interior da Bahia (Ilhéus, Lauro de Freitas, Jacobina e Lençóis).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
27/09/1991

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