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Aramis

Um Brasil musical que é tão pouco conhecido

Devido a seus compromissos profissionais em Londrina, o jornalista Edilson Leal não pôde levar ao 4º Encontro Nacional de Pesquisadores da Música Popular Brasileira (Rio de Janeiro, 5 a 8 de março) importante contribuição que havia preparado: "As Duplas Caipiras no Norte do Paraná". Um dos poucos jornalistas ligados a área musical que, sem preconceito, vem acompanhando a música rural/rurbana, em seus diferentes segmentos, Edilson tem interessantes dados sobre a formação de inúmeras duplas na região Norte - especialmente em Londrina, algumas das quais, como Milionário e Zé Rico, conseguiram projeção nacional. Discriminadas, injustamente, pela chamada grande imprensa, as duplas de origem rural - mas hoje identificadas nas grandes metrópoles, em decorrência do êxodo do homem do campo - as duplas (como trios) rurbanos oferecem múltiplos elementos para análise e interpretação. Há quatro anos, no seminário "Linguagens e Rumos da Canção Brasileira (auditório Glauco Flores de Sá Brito, maio/82), Edilson já havia apresentado um estudo a respeito - ao qual, naturalmente, agora acrescentou novos elementos. E, considerando a carência de estudos e pesquisas sérias a respeito, está na hora de publicar seus trabalhos, que poderia, inclusive, ser complementado por uma espécie de quem é quem na música paranaense. xxx Na parte de comunicações do IV Encontro Nacional de Pesquisadores da MPB, houve importantíssimas contribuições, trazendo informações sobre gêneros, estilos e mesmo autores e intérpretes das mais diferentes regiões do País. Assim, Vicente Salles, paraense radicado em Brasília, autor de vários livros e incansável colaborador de Silas Xavier nos discos-documentados editados pela Federação Nacional das Associações Atléticas do Banco do Brasil, fez uma interessantíssima pesquisa sobre o suplemento musical da revista "O Malho", que circulou de 22 de setembro de 1902 até 1954. Maria Augusta Calado, de Goiás, já com dois LPs gravados e um livro sobre modinhas editado, fez um relato da história da modinha naquele Estado e sua influência nos jovens conpositores do Estado. De São Luiz, Valdelino Célio trouxe informações sobre a preservação da música popular maranhense, enquanto que o incansável Leonardo Dantas Silva, ativíssimo agitador cultural no Recife, antecipou o estudo sobre o piano em Pernambuco, a partir de 1840, que será complementado, ainda neste semestre, pela edição de dois LPs com compositores e intérpretes pernambucanos. Presidente do Conselho Estadual de Cultura de Santa Catarina, musicólogo, Osvaldo Ferreira de Melo fez novos estudos sobre a influência açoriana na música de Santa Catarina a partir do século XVIII. Duas das contribuições mais interessantes foram as que mostraram a importância das bandas de Pífano no Nordeste do Brasil, levada por José Maria Tenório da Rocha - de Maceió, e a informação que Virgílio Abreu de Paula, de Montes Claros, levou sobre o Catopê, ritmo de origem africana, pouco conhecido fora do Norte de Minas Gerais.Virgílio é filho de Hermes de Paula (1905-1923), um dos homens responsáveis pela preservação e divulgação da modinha mineira, em suas formas mais autênticas - gravando, inclusive, vários discos de forma independente - os dois últimos pela etiqueta Marcos Pereira. Priscila Barrak Ermel, 29 anos, socióloga e antropóloga paulista, que a exemplo de Marlui Miranda, é uma das raras pesquisadoras da música indígena, foi uma das mais gratas revelações do encontro de pesquisadores. Apresentou uma comunicação sobre a música dos Índios Cintas-Largas, num trabalho complementado com a gravação de um belo lp, na qual mostra também sua face de compositora e intérprete. Priscila vem a Curitiba na Semana Santa, participar de um encontro de antropologia, quando pretende fazer uma apresentação da música com influências indígenas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
14/03/1986

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