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Aramis

Trilhas sonoras

Em maio último, quando do lançamento do Projeto Acorde, na Lapa, José Eduardo Homem de Mello (Zuza), produtor, pesquisador de música, jornalista e Herminio Bello de Carvalho, falavam, com o maior entusiasmo de Alberta Hunter, a grande redescoberta da música americana no ano passado - e que Herminio teve o previlégio de conhecer pessoalmente, em sua última viagem aos EUA. Agora, está cantora extraordinária, de quem raríssimas pessoas no Brasil, ouviram falar por uma compreensiva razão - há 22 anos estava afastada da vida artística - reaparece com imensofolêgo e, aos 82 anos, cantando como se fosse um jovem de 30. Palmas a Coutinho, da CBS, que apressou-se em aqui editar o lp com a trilha sonora de "Remember my Name", filme de Alan Rudolph, produção de Robert Altman (que em 1977, já haviam realizado realizado "Wlcome To L.A .", ainda inédito no Brasil), cuja trilha sonora traz canções escritas e interpretadas por Alberta Hunter. O filme, estrelado por Geraldine Chaplin e Anthony Perkins, merecerá futuros registros, mas se destaque aqui a importância de Alberta Hunter (menphis. Tennessee, 1.º /4/1897). Conta Jim Bickhart, no texto que Luiz Carlos Antunes, o bom amigo Lula, traduziu e adaptou para a contracapa deste lp (CBS, 225028), que "as legendas entre nós diariamente, reais como qualquer rosto na multidão. Mas elas se dedicam aos seus trabalhos procurando sempre dar o melhor que podem. É no entanto, a maneira como trabalham que as transformam em legendas. Talvez Alberta Hunter seja uma legenda. Claro, que tudo que ela faz é muito bem feito. Ela tem 82 anos de idade e canta desde criança. Ela compõe e canta os "blues". Aos 11 anos, Alberta já estava em Chicago, onde trabalhou como cozinheira antes de se tornar cantora no "Dago Frank`s", uma "casa de alegria" onde cantava os números que aprendia com o pianista. A "barra" no "Dago" e outros "clubes" onde ela trabalhou em sua juventude era pesada: gigolôs, prostitutas, punguistas e jogadores. No "Dreamland Café", mais tarde, trabalhou com grandes nomes do jazz como Sidney Bechet, King Olíveir e Louis Armstrong - recém-chegado de New Orleans. Durante os 5 anos em que esteve no "Dreamland Café", começou a gravar na Paramount, tornando-se primeira cantora negra a atuar com uma orquestra de brancos - época em que compôs "Downhearted blues", mais tarde um dos grandes sucessos de Bessie Smith (1894-1937) que ao lado de Ma Rainey (Gertudre Malissa Nix Pridgett, 1886-1939), Mahalia Jackson (1911-1973) e Billie Holiday (1915-1959), está na galeria das grandes cantoras negras americanas - até hoje pouquíssimo conhecidas no Brasil. Em 1932, em busca de um campo maior Alberta Hunter se mudou para Nova Iorque e em poucos dias substituía, na Broadway, Bessie Smith em "No Come?" Sua voz, suas músicas, seu temperamento lhe valeram um merecido sucesso e chegaria a Europa, onde permaneceria por 4 anos - fazendo a versão londrina de "Show Boat", ao lado de Sir Cedric Hardwicke, Paul Roboson e Mabel Mercer. A Europa tornou-se o seu segundo lar. Mas tão facilmente como havia começado a cantar profissionalmente aos 11 anos, ela parou aos 59. Com sua mãe doente e morrendo. Alberta aposentou-se e foi estudar enfermagem, formando-se em 1957. E durante 20 anos trabalhou no Goldwater Hospital , em Welfare Island, New York. "Eu adorava enfermagem, diz e ainda estaria lá se eles não tivessem me obrigado a me aposentar". Mas assim foi, e somente durante uma festa oferecida a Mabel Mercer, durante uma apresentação improvisada que Alberta foi convidada a voltar, deixando sua aposentadoria e cantando no "The Cookery", E, impressionados com sua voz, Alan e Altman a convidaram para interpretar e criar as músicas de "Remember my name". Alberta, mostrando extraordinária juventude, escreveu novas melodias ara o filme, incluindo a canção título e a balada "The love I have for you" e reprisa "Downhearted blues", My castle`s rockin" e outras preciosidades. O produtor musical John Hammond convocou excelentes músicos para ampará-la e o resultado é uma das mais belas trilhas sonoras do ano, emocionantes, que prova, como diz Bickhart, que "Alberta Hunter através de uma longa e produtiva carreira, reuniu a perenidade dos "blues" com o idioma da música popular de uma maneira graciosa e eficaz". Ela mesmo explica: "Nós cantamos os "blues" porque nossos corações têm sido magoados e as nossas almas perturbadas" *** Jodie Foster, aquela ninfeta-atriz que Alan Parker lançou no curioso "Quando as metralhadoras Gospem" (Bugsy Malone), curiosa experiência de um filme interpretado exclusivamente por crianças, e que, em "Taxi Driver" (1976, de Martin Scorcese) interpretava a menina-prostituta, mostra que é também cantora em seu novo filme, "Quero Ser Mulher" (Stop Calling Me Baby), ainda inédito no Brasil. Após um compacto com 4 temas, a RGE/Fermata, lança a integra da trilha sonora, com músicas compostas por F. D. Aime/L. Bleecher), das quais a principal e Whwn I Look At Your Face". Como Jodie não é propriamente uma cantora, Scherrie payne a ampara em muitas faixas. A Odeon, antecipando o lançamento do lp com a trilha sonora integral do premiado "O Franco Atirador" (The Deer Hunter, 78, de Michael Cimino), lançou um compacto simples, onde o grupo The Shadows interpreta o tema central deste importante filme. A mesma gravadora, agora representando no, Brasil a United Artits Records, aproveita o prestigio que a dupla de pianista Ferrante & Teicher anteriormente editados pela Copacabana, entre nós - desfruta e lança Superman", onde o duo de pianistas, além da música da superprodução da Warner, inclui outros temas de filmes que estão chegando ao Brasil, como "The Promisse", "Oliver`s Story" e "Same Time Nex Year" (The LastTime I Felt Like This). Outras belas faixas também tornam das mais agradáveis a audição deste elepê suave e digestivo. A Polygram, em sua série ("O Melhor do Cinema", reedita o álbum duplo com a trilha sonora do filme "Jesus Christ Superstar", a ópera rock de Andrew Lloyd Webber/Tim Rice, levado ao cinema, há 7 anos, por Norman Jewison, com grande dignidade. Filmado em Israel, com amplos recursos , a transposição cinematográfica de "Jesus Christ Superstar" foi das mais interessantes e as músicas originais de Webber/- Rice, o maestro André Previn acrescentou arranjos especiais, resultando um preciosos documento musical. Uma reedição das mais válidas, em todos os aspectos. Mas trilhas sonoras que vendem, mesmo são as das telenovelas. E a Globo/Som Livre continua a faturar o que quer com a montagem dos temas de suas telenovelas. Depois das edições dos elepês com os temas nacionais de "Pai Herói" e "Feijão Maravilha", saíram agora os discos com as músicas internacionais destas produções ambas já em etapas finais de apresentações. Em "Pai Herói", novela de Jante Clair, os temas internacionais vão desde discotheques, evidentemente ("I Will Service", "Aa Aa Uu Aa Ee", de Zack Ferguson) até "Allouete" de Denise Emmer que salvo engano, é brasileira. Anne Murray, nova cantora americana, que a Odeon está lançando, também aparecer com "You Needeb Me". Na trilha do "Feijão Maravilha", o mesmo esquema - e uma nova música do brasileiro (sic) Morris Albert, "Once Upon A Man", que, há muito já está vivendo nos EUA. E "In The Navy", de Village People, vai ajudar este grupo da RCA a vender ainda (por quanto tempo?) mais discos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Jornal da Música
1
05/03/1978

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