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Aramis

Trilhas: discotheque até ópera sem canto

Após ter sacado o grande modismo musical dos anos 70 - a industrialização do ritmo discotheque a partir de um anônimo trabalho em Munique que, em pouco tempo, teve na cantora Donna Summer, a grande superstar, Giorgio Moroder foi requisitado para criar trilhas sonoras. Traduzindo todo o clima pesado e asfixiante de "O Expresso da Meia-Noite" numa marcante trilha musical, Moroder passaria a ter seu nome associado a inúmeras produções, animando-se ao ponto de, no ano passado, adquirir os direitos de uma clássica produção alemã - "Metrópolis", science-fiction que Fritz Lang (1890-1976) realizou em 1926. Montando uma versão integral - (que na época havia sido impedida pelos produtores) submetendo-a a um processo de colorificação e acrescentando uma incrementada trilha sonora na base do som discotheque, com grupos famosos, esta reciclagem de um filme originalmente mudo e em branco-preto, vem alcançando grande êxito (no Brasil, a Art Filmes deverá lançar esta fita dentro de algumas semanas, enquanto a trilha sonora já saiu pela CBS, no ano passado). E o atuante Moroder não pára. Seu novo trabalho está no filme "Amores Eletrônicos" (Eletric Dreams), ainda inédito no Brasil, mas cuja banda sonora acaba de sair pela RCA. Para uma fita identificada em sua temática com o mundo da informática, "Electric Dreams" tem uma trilha das mais movimentadas - a partir de "Togheter In Eletric Dreams" e trazendo intérpretes como Jeff Lyne ("Vídeo"), Culture Club ("The Dream"), "Love is Love", Heaven 17 ("Chase Runner"), Greg e, naturalmente o próprio Giorgio. Este elepê integra-se no ciclo de filmes que se voltam a uma nova temática - o cinema computadorizado, em que já apareceram filmes marcantes como "Tron" e "Jogos de Guerra", ambos com suas trilhas sonoras também editadas no Brasil. A mesma RCA lançou no ano passado a trilha sonora de um dos filmes mais elogiados e que fez parte das listas dos melhores do ano: "Furyo - Em Nome da Honra" (Merry Christmas, Mr. Lawrence), direção de Nagisa Oshima, o mesmo diretor do polêmico/escandaloso "O Império dos Sentidos". Apesar de ambientado na II Guerra Mundial, "Furyo" não chega a ser um filme de guerra, com cenas de violência explícitas. É, antes de tudo, um confronto de filosofias de vida, um choque entre as culturas oriental e ocidental. O mais importante são os sentimentos dos personagens, a maneira como inimigos se envolvem emocionalmente acima das questões políticas. Mas o curioso é que embora o nome mais conhecido do elenco seja um famoso cantor-compositor pop - David Bowie - a trilha sonora foi criada por outro ator-compositor, Ruichi Sakamoto. Criança prodígio, Sakamoto iniciou o aprendizado de piano com apenas três anos de idade e aos 13 já tinha várias composições. Depois de se formar pela Universidade de Tóquio, em Belas Artes, trabalhou vários anos como músico e arranjador, até gravar seu primeiro elepê (1978). Nesse mesmo ano organizou um conjunto, o Yellow Magic Orchestra e viajou pela Europa e Estados Unidos (1978/80), obtendo um reconhecimento dado a poucos outros jovens músicos japoneses. Conheceu o cineasta Oshima e se transformou em seu compositor favorito e das 19 músicas da trilha de "Furyo", 17 são de sua autoria - tendo duas em parcerias com Stephen McCurdy. Apesar de ser japonês, a música de Ryuichi Sakamoto não se prende ao esquema rítmico oriental mas também não se ilude em envolvimentos pop-colonizados. Ao contrário, suas construções harmônicas são ricas e inovadoras, especialmente nos temas "Batavia", "Germination", "Father Christmas", "Dissimed!", "The Seed", "Forbiden Colours" (esta, a única com vocais, a cargo de David Sylvian) e, especialmente em "The Seed and the Sower", nome do romance em que "Merry Christmas, Mr. Lawrence" foi inspirado. Enfim, uma trilha sonora tão rica, original e marcante quanto o filme. Um dos mais interessantes lançamentos no campo da trilha sonora. xxx Até agora nenhuma cadeia brasileira de televisão anunciou intenção de exibir a superprodução "Wagner", uma minissérie realizada pela televisão inglesa há dois anos, dentro das comemorações do centenário de morte de Richard Wagner (1813-1938), com Richard Burton (1925-1984) no papel título e outros esplêndidos intérpretes - John Gielgud, Ralph Richardson (1902-1984) e Vanessa Redgrave e outros intérpretes. Uma produção notável em sua preparação, (re)contando a vida do mais famoso compositor operístico alemão. Independente da exibição ou não do filme a Polygram acaba de lançar a trilha sonora instrumental deste filme. Com a Orquestra Sinfônica de Chicago e a Filarmônica de Viena, sob regência de sir George Solti, temos nove fragmentos das mais conhecidas óperas de Wagner, num elepê destinado especialmente a mostrar a beleza da música operística - independente da parte lírica. Ouvindo-se assim o prelúdio do 3º ato de "Tristão e Isolda", a "Descida para o Nibelheim" de "O Ouro do Reno", o prelúdio do primeiro ato de "Siegfried", a música da morte de Isolda em "Tristão e Isolda", o prelúdio de abertura de "Os Mestres Cantores de Nuremberg", e a marcha fúnebre e fragmento de "O Crepúsculo dos Deuses" temos momentos de emoção. É o exemplo do disco que se recomenda aos que preconceituosamente temem a ópera, em seu tratamento lírico. Lembra, inclusive uma antiga gravação da RCA intitulada "Ópera Sem Canto", exclusivamente com a música interpretada orquestralmente. Um belo disco, aperitivo sonoro do filme que, talvez, jamais chegue às telas (ou vídeo) do Brasil.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
25
10/02/1985

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