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Aramis

Thomaszeck e Stresser a música após a morte

Por uma desta coincidência que nos fazem pensar que existem muitas coisas a serem ainda explicadas, no mesmo dia em que o cirurgião-dentista Mário Thomaszeck distribuída os cinco primeiros exemplares do álbum duplo com peças gravadas por seu filho, Luís Thomaszeck - transcorria o 10º aniversário da morte de Cláudio Stresser, falecido aos 37 anos, às 21 horas de 12 de outubro de 1973, uma sexta-feira, vítima de parada cardíaca,. Luís Thomaszeck e Cláudio Stresser foram grandes talentos da música erudita no Paraná, mas que tiveram precocemente interrompidas suas carreiras. Nenhum chegou a gravar discos e a memória destes artistas se restringes as suas famílias e um pequeno circulo de interessados em nossa música. Em termos de referência oficial, por parte da Secretaria da Cultura e Esportes (sic), como diz a dupla Kleiton & Kledir, << nem pensar >>. Se não fosse a lembrança de alguns jornalistas - como Cláudio Manoel da Costa e a pianista Cronista Marisa Ferraro Sampaio (publicando uma excelente série de artigos na << Gazeta do Povo >>), os 10 anos da morte de Cláudio Stresser teriam transcorridas no mais anonimato. xxx Quarta-feira, 12, foi o 10º aniversário da morte de Cláudio Stresser. Amanhã, 17, fazem 5 anos que morreu Luiz Thomaszeck. Quando Luís Alberto de Souza Thomaszeck nasceu, a 11 de junho de 1950, Cláudio Stresser (que nasceu em 8 de agosto de 1936_, já tinha 14 anos e seis de carreira (começou a estudar piano com a professora René Devrainne Frank, em 1944) e, em 18/6/1949, na Escola de Música e Belas Artes do Paraná (inaugurada em 1948) fez o seu primeiro concerto. Assim, Luís e Cláudio foram garotos prodígios no piano, grande talento. Cláudio estudou em Viena, colega da pianista Henriqueta Garcez e do hoje nacionalmente famosos Luiz Eça (que preferiu o popular-jazzístico ao invés do clássico). Luís Thomaszeck, após estudar com vários professores de pianos no Brasil, participando de cursos e concursos nos quais se destacou de forma extraordinária, em setembro de 1965 foi para Nova Iorque, onde estudou durante um ano na Juilliard School of Music. Em 1967 ganhou bolsa de piano para a Polônia e com apenas 16 anos, venceu o I Concurso nacional de Piano de São Paulo, concorrendo com 84 pianistas. Em julho de 1967, Cláudio Arrau se entusiasmou com seu talento e o aceitou como aluno o que fez interromper as apresentações que vinha fazendo e aprofundar-se nos estudos com Arrau. (O entusiasmo de Arrau considerado um dos melhores pianistas do mundo - por Thomaszeck, o fez vir a Curitiba, quando Luís foi internado no Hospital Santa Cruz, especialmente para visitá-lo). xxx A partir de 1967, a formação de Thomaszeck concluiu-se sob a exclusiva orientação de Arrau, em temporadas realizadas nos EUA e Europa. Tendo o professor de Arrau, Martins Krause, sido aluno de Franz Liszt, o pensamento musical de homaszeck integrou se á tradição derivada desses mestres. Os governadores Ney Braga e Paulo Pimentel apoiaram Luís Thomaszeck em sua carreira, especialmente ajudando-o em suas viagens ao Exterior. Paulo, inclusive, enviou a seguinte mensagem a Thomaszeck, numa de suas viagens: << Ao momento em que você deixa temporariamente o Paraná, para uma digressão artística certamente brilhante nos EUA, desejo renovar-lhe os cumprimentos do governo do Estado e o interesse e orgulho com que acompanhamos sua trajetória artística. Figura central no contexto artístico do Paraná e do Brasol, estou certo de que suas apresentações se revertirão do habitual brilhantismo e difundirá o nome de nosso Estado e de nossa Pátria, como expressiva representação da sensibilidade e cultura dos pendores de nossa gente >>. Entre 1969 a 1972, Luís Thomaszeck desenvolveu uma intensa carreira no Exterior e no Brasil, dando concertos, participando de cursos - enfim, firmando-se como a grande revelação pianísticas da época. Tragicamente, quando preparava-se exaustivamente para as tourneés que iniciaria nas América e na Europa, ao final de 1972, foi acometido por gravíssima enfermidade paralisante. Apesar de preso ao leito, com sua carreira interrompida, Thomaszeck não se deixou abater. Em 1974, preocupado com problemas da realidade coletiva da atualidade, dedicou-se a um aprofundo estudo sobre os aspectos técnicos urbanísticos e sociais do trânsito em Curitiba, que resultou em extenso documento ((<< Ao futuro Governador do Paraná >>, em dezembro/74_ e definido por O ESTADO (dição de 25/12/74) como se << estilo erudito, quase jurídico >>. O arquiteto Marcos Prado, então diretor do Detran, classificou a contribuição de Thomaszeck como << as própria sublimação do espírito comunitário >> e que pelo trato da coisa público << deveria ser a Bíblia dos que administram a devem servir ao povo >>. Apesar da doença (cujo vírus nunca foi identificado), Thomaszeck reiniciou suas atividades pedagógicas, voltando-se para a composição, literatura e a artigos para jornais e revistas. Em 1978 foi aprovado para ministrar aulas na Escola de Música e Belas Artes do Paraná e em setembro orienta curso sobre << Interpretação da Obra, pianistica de Schumann >>, no Teatro Guaíra. Poucas semanas após, a 17 de outubro de 1978, viria a falecer. xxx Em 1970, no auge de sua carreira, Thomaszeck chegou a ser convidado pela Deustsche Gramphon para gravar uma série de discos, projeto que preferiu adiar. Muitos de seus concertos, no Brasil e Exterior, foram gravados em fita. deste material, seu pai, o cirurgião dentista Mário Thomaszeck, por insistência de amigos, decidiu selecionar os que apresentaram melhor qualidade técnica e produzir um álbum duplo. Sem finalidades comerciais, totalmente custeado por Mário - num investimento de mais de Cr$ 10 milhões para apenas 1.500 cópias - o álbum << Piano Imortal Luís Thomaszeck >> sai com o selo do SIR-Laboratório de Som & Imagem (apenas por uma questão legal) e terá prioritariamente uma distribuição dirigida, especialmente no Exterior, com auxilio do embaixador Bernardo Pericás. Uma quota de 500 discos será vendida, possibilitando, assim, que os que nunca tiveram oportunidade de ouvir Luís Thomaszeck nos seus recitais, ter uma idéia do imenso talento que ele foi. Para o pai do pianista, Mário Thomaszeck, não foi fácil escolher entre tantas horas de fitas o material para os dois elepês, acompanhar o planejamento o produção gráfica do álbum - com direção de arte de Mareid Rahija El Ghoz montar os textos - alguns do próprio Luiz, outros de sua irmã Marina. << Foi dolorido e sofrido, mas senti que precisa fazer esta homenagem ao meu filho >> diz o sr. Mário, olhos marejados de lágrimas. xxx No lado 1 do disco um temos a << Sonata em Fá Menor, Opus 57 >> a << Appassionata >> de Ludwig Van Beethoven (1770-1927), com 26:40 minutos, em seus três movimentos. No lado 2, a peça << Tocatina Ponteio e Final >> de Marlos Nobre (3:24) e duas peças de Franz Liszt (1811-1886): << Segunda Balada, em Si Menor >> (13:08) e << Valsa Mofisto >> (12:00). No disco 2, o lado 3 traz << Carnaval, opus 9 >> de Robert Alexandre Schumann (1810-1856), numa interpretação considerada antológica por todos quantas a ouviram. Finalmente, o lado 4 traz a primeira e a quarta Balada (opus 23 e 52) de Fréderic Chopin (1810-1849). Com várias fotos de Luís - desde sua infância aos seus últimos dias e um texto reproduzindo opiniões da crítica a respeito de seu talento, além de biografias dos atores gravados, << Piano Imortal >> é mais do que um álbum erudito. É um emocionante documento de um dos maiores talentos da música do Paraná, tão precocemente desaparecido. FOTO LEGENDA - Piano Imortal Luís Thomaszeck
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
16/10/1983

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