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Aramis

É tempo de Papa. (e das primeiras estórias)

É tempo de Papa. Eis um slogam que se aplica não só a Curitiba, mas a todas as cidades por onde o Papa João Paulo II passará em sua viagem ao Brasil. Mais de 50 mil pessoas - direta ou indiretamente - estão envolvidas nos preparativos da visita pastoral do Sumo Pontífice, que representará um investimento de mais de Cr$ 200 milhões, em decorrências das mais diversas necessidades. xxx Ao lado dos aspectos oficiais, a visita do Papa já proporciona um << folclore papal >> que, na linguagem habilidosa de um profissional como Sebastião Nery, pode resultar num best-seller. Basta recolher as estórias os detalhes, os fatos e fazer um volume que pode chegar, tranqüilamente, na lista dos mais vendidos. xxx Como já contamos, o padre Juca (José Orloski), coordenador da área de comunicação da visita, representando a CNBB/Arquidiocese, está preocupando com a exploração que vigaristas estão fazendo. Além de já ter aparecido em algumas paróquias pessoas oferecendo << ingressos >> para << poltronas numeradas >> na missa que o Sumo Pontífice oficiará na manhã de 6 de julho, no altar defronte o Palácio Iguaçu, ao menos proprietários de duas gráficas foram procurados por interessados em mandar confeccionar entradas para o Estádio Couto Pereira, onde o Papa terá um encontro com a comunidade polonesa e outras etnias. Como as paróquias distribuirão as entradas para as 60 mil pessoas que irão ao estádio do Coritiba - e o número de interessados é muito maior - naturalmente que os << tickets >> (gratuitos) serão disputados. E os inevitáveis aproveitadores não só vão colocar << entradas >> frias, como mesmo negociar as verdadeiras no << mercado negrio >>. Portanto, há necessidade de o máximo cuidado. xxx O prefeito Jaime Lerner teve uma surpresa na manhã de segunda-feira última: quatro pessoas o aguardavam na porta de sua casa, no Juvevê, solicitando interferência para que pudesse conseguir << cartões de acesso ao Papa >>. E no gabinete da Prefeitura os telefonemas se sucedem com idênticos pedidos. Por isso, o secretário Cleto de Assis, da Comunicação Social, e o padre Juca, estão distribuindo claros comunicados, salientando que não há entradas ou reservas para a missa na praça N.S. de Salete - o nome oficial do imenso espaço existente defronte o Centro Cívico, por onde se espalharão mais de 200 mil fiéis, que também estarão concentrados ao longo da avenida Cândido de Abreu. xxx Considerando o gigantismo do evento, a comunicação terá que ser perfeito: telões gigantes, que possibilitem a retrasmissão por televisão das imagens do Santo Papa oficiando a missa, estão sendo requisitados em todo o País, para instalação em vários pontos. O problema é que existem poucos destes telões no Brasil - e em Porto Alegre (de onde o Papa vem) e Salvador (para onde seguirá após a missa) também pretendem utilizar o mesmo esquema. O sistema de som terá que ser perfeito e frente aos preços elevadíssimos que as firmas especializadas propuseram, a solução mais honesta e racional encontrada foi a do governo do Estado adquirir o equipamento e montá-lo. Isto por que com os Cr$ 6 milhões que as firmas interessadas pretendiam cobrar, elas iriam mesmo este equipamentos - apenas alugando-o ao governo. Ora, se o Estado compra as mesas de som, amplificadores, alto-falante e todas as demais peças a ter um equipamento que, passada a visita, será distribuído a várias unidades carentes deste tipo de aparelhagem - inclusive a sonorização perfeita do grande auditório do Teatro Guaíra. E, quando houver necessidade de instalá-lo novamente para um evento semelhante, bastará reunir as diversas unidades. Com isso se eliminou os intermediários, que pretendiam faturar milhões a custa do Estado - pela cessão de aparelhos por apenas algumas horas. Ou seja, o governo é que se torna proprietário de um equipamento perfeito e necessário. xxx Uma equipe de técnicos de som de alto nível - entre os quais o engenheiro de som Guido Cecatto, diretor técnico da Rádio Estadual do Paraná e Gebran Sabbag, da Prefeitura de Curitiba, já estão trabalhando na montagem deste equipamento de som - que, pela sua complexidade, exigirá, obviamente, demorados testes. A propósito, a Rádio Estadual do Paraná, hoje com moderno equipamento, é quem coordenará a transmissão oficial de todas as cerimônias e o seu diretor-geral, Roberto Guimarães, já iniciou o trabalho de arregimentação de uma equipe com os (<< as >>) melhores vozes do Estado, veteranos radialistas, locutores, apresentadores, etc., para um trabalho especial. xxx Durante as horas em que passou por Curitiba, tratando de detalhes da visita do Papa, o monsenhor Paul Markicus, presidente do Banco do Vaticano e percursso das viagens do Papa, contou vários aspectos interessantes em relação à segurança do Sumo Pontifice. Foi Paul quem, em Manilha, salvou o Papa Paulo VI de um atentado e, portanto, tem know-how a respeito. Um dos receios é de que os próprios profissionais - no caso militares encarregados dos esquemas de segurança, se distraiam com a emoção de ver o Papa e a multidão possa invadir áreas, com conseqüências imprevisíveis. O monsenhor Martkicus contou o caso da visita do Papa à Casa Branca, em Washington, onde a segurança seria dispensada, já que estariam presentes apenas duas mil pessoas, entre as mais altas autoridades. Ocorre que apesar da educação e posição dos recepcionados na sede do governo americano, se não houvesse a segurança providenciada pelo monsenhor Paul, teria havido problemas. E há 3 semanas, o que ocorre em Paris, durante a recepção do presidente Giscard d`Estaing, no Palácio dos Champs Ellysés, confirmou isto. Em qualquer local, por mais altas autoridades que estejam reunidas, a presença do Papa exige um esquema especial de proteção. xxx Não deixou de ter um pouco de humor, quando monsenhor Paul Martkicus, falando num claro italiano, referiu-se que de todas as classes e pessoas que, naturalmente , preocupam a segurança, há uma especial. E como e imaginava que a referência fosse a grupos subversivos ou mesmo ateus, a surpresa foi enorme: << São as irmãs religiosas >>. Duas freiras, presentes á reunião do Arcebispado, surpresas, exclamaram: - Mas não as de Curitiba! E para ilustrar sua afirmativa, o monsenhor Paul Martlicus contou que, recentemente, numa das aparições do Papa João Paulo II, na praça de São Pedro, no Vaticano, os guardas suíços seguraram uma religiosa de milenar ordem, que, com uma afiada tesoura na mão, queria se aproximar do Sumo Pontífice e cortar um pedaço de seu traje, << para souvenir >>. xxx Na quarta-feira, o Palácio Iguaçu distribuiu mais de 50 observações relacionadas a visita do Papa, lembrando os fiéis de que, nas concentrações públicas, especialmente na missa defronte o Palácio Iguaçu, há muitos perigos e problemas desde ladrões que se aproveitarão da concentração para roubar carteiras e bolsas, até a falta de instalações sanitárias para atender milhares de pessoas. Por isso uma das recomendações é que os fiéis procurem não ingerir líquidos em demasia. Por outro lado, como a transmissão pela televisão será completa, as crianças, idosos - ou simplesmente que não deseja enfrentar os riscos das multidões - recomenda-se o conforto de seus lares, para acompanhar o histórico evento. xxx Desde ontem, várias alas do Palácio Iguaçu já passaram a ser adaptadas para o verdadeiro << OG >> da comunicação que ali funcionará, com 50 aparelhos telex, 50 perfuradoras, 200 máquinas de escrever, serviços de intérpretes, etc. Inclusive o salão onde o governador Ney Braga recebe convidados para almoço permanecerá interditado até o dia 7 de julho. Data em que muitos dos que estão trabalhando em tempo integral nesta operação pretendem entrar em justa férias. Com indulgência papal, sem dúvida.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
13/06/1980

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