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As telas de Guido Viaro que voltarão da América

Enquanto no Paraná são raros os empresários (e empresas) que possuem espírito de mecenas, dispostos a auxiliarem instituições culturais, um dos mais famosos cientistas americanos na área de bioquímica acaba de dar um exemplo de desprendimento pessoal e valorização de uma instituição curitibana. Há 30 anos, quando veio a Curitiba a convite do professor Metry Bacila, então diretor do Instituto de Bioquímica da Universidade Federal do Paraná, para integrar o corpo decente do curso de Fisiologia de Microorganismos, o professor Bernard Leonard Horecker fez questão de visitar o atelier do pintor Guido Viaro, na época funcionando junto à Escolinha de Arte, por ele implantada no porão da Biblioteca Pública. Colecionador e estudioso de artes, o cientista americano ficou fascinado pelos trabalhos de Viaro e adquiriu duas telas, que levou para os Estados Unidos. Agora, aposentado do Roche Institute for Mollecular Biology, em Nova York, e convidado para dirigir a Cornell University Graduate School of Medical Sciences, o professor Horecker mudou-se para um apartamento menor, sendo, assim, obrigado a desfazer-se de parte da valiosa cleção que reuniu ao longo de sua vida. Sabendo através de seu amigo Metry Bacila da existência em Curitiba do Museu Guido Viaro - e especialmente da dedicação que a diretora, Suzana Lobo, vem dando para o crescimento do acervo, o professor Horecker ofereceu como doação as duas telas que havia comprado em 1959. Através do fax do gabinete do prefeito Jaime Lerner, Suzana Lobo passou para o professor Horecker a documentação legal, que possibilitou a vinda dos dois quadros. Um deles, na dimensão de 102 por 86 centímetros, mostra um aspecto de uma praça de Curitiba, no qual um agricultor aparece dormindo ao lado da esposa e filho - que, pacientemente aguardam que ele acorde. "Esse quadro, diz Bernard, foi inspirado numa cena que Viaro assistiu e que, com sua sensibilidade, transmitiu numa obra". O segundo quadro, na dimensão de 83 por 71 centímetros, mostra casas à margem da antiga ligação rodoviária entre Curitiba e o Aeroporto Afonso Pena. Ao fazer a doação das telas, o professor Bernard, e sua esposa, Frances, enfatizaram que "é um prazer saber que elas estarão em boas mãos e que retornam à casa a qual sempre pertenceram". Aos 75 anos, completados no último 31 de outubro, Bernard L. Horecker, americano de Chicago, é respeitado nos meios científicos como um dos mais conhecidos mestres na área da bioquímica. Formado pela Universidade de Chicago, doutorou-se em química e desde jovem desenvolveu uma brilhante carreira de pesquisador, "cujas descobertas tiveram enorme influência no desenvolvimento da moderna bioquímica e das ciências biológicas como um todo", como diz seu amigo Metry Bacila. Foi pesquisador, por longo tempo, do National Institut of Health, ocasião em que descobriu importantes etapas da via dos pentose-fosfatos que, graças a isso, é denominada Via de Warburg-Dickens-Horecker. Após 19 anos no NI, foi convidado pela New York University Medical School para assumir a cadeira de Microbiologia. Fundado o Departamento de Biologia Molecular do Albert Einstein College of Medicine, New York, encontrou ali uma das fases mais brilhantes de sua carreira. Com a organização do grande centro de pesquisas que é o Roche Institute for Mellecular Biology, foi convidado a participar daquela instituição. Há 5 anos, ao completar 70 anos, homenageado internacionalmente, o professor Horecker foi convidado para dirigir a Cornell University Graduate School of Medical Sciences, onde se encontra até o momento - e que acaba de conceder-lhe o título de Professor Emérito de Bioquímica. Autor de inúmeros trabalhos científicos, com uma atuação internacional, por duas vezes consecutivas o professor Horecker veio a Curitiba auxiliar no curso de Fisiologia de Microorganismos, aqui fazendo grandes amigos. Em reconhecimento aos seus méritos, foi eleito membro da Academia Brasileira de Ciências e é Doutor Honoris-Causa da Universidade Federal do Paraná. Agora, 30 anos após ter valorizado, em vida, o trabalho de Guido Viaro - cujos quadros sempre ocuparam lugar de destaque em sua pinacoteca, Bernard e Frances, com apoio de suas três filhas - Doris, Marilyn e Linda - decidiram doar as telas, para que se incorporassem ao acervo do Museu Guido Viaro. Uma atitude bonita e que deveria servir de estímulo a tantos que poderiam auxiliar nossas instituições culturais e que, por egoísmo, nada fazem. LEGENDA FOTO - Guido Viaro: quadros vendidos há 30 anos a colecionador americano retornam ao museu.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
30/12/1989

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