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Aramis

Suave cítara dos tempos de Avalon

Com uma sonoridade que atua como verdadeiro lenitivo auditivo entre tanto barulho incomodativo apresentado a guisa de música, a chamada "New Age Music" está ampliando seu público muito especial - mostrando que Mirna Gzynski tinha razão ao batalhar pela abertura de espaços para esta forma de criação e execução instrumental, basicamente acústica - e que cresceu nesta década, e a partir do boom mercadológico estabelecido na Califórnia - mas com artistas de várias partes do mundo. O grupo Eldorado, que bancou a idéia com programas na rádio e lançamentos regulares (a Polygram também fez algumas edições de excelente nível), pensa em patrocinar no final do ano o I Festival de Música New Age. Para tanto, está estimulando edições de prováveis participantes - nomes ainda distantes do grande público mas que começam a se tornar respeitados por quem embarca nas "viagens" sonoras que as suavidade de seus instrumentos, possibilitam. Um dos possíveis convidados para o Festival é o alemão George Deuter, 44 anos, apresentado no ano passado no elepê "Nirvana Road" e que agora chega com "Cucada" - termo que em inglês significa grilo - e o som dos grilos da noite permeia todo este seu segundo álbum. Deuter é um multinstrumentista - de flautas, violão e sintetizadores até tablas e outras criações exóticas. Ex-jornalista, Deuter faz um som único e original, que enleva o ouvinte. Outro trabalho precioso em termos de "Música da Nova Era" está em "Sojourn", com composições de Scott Fitzgerald e orquestrações de Rob Whitesideswoo - já conhecidos por alguns trabalhos feitos para cinema. São dez temas, profundamente reflexivos e suaves, conforme o próprio título sugere ("Music of the Heart for Piano and Orchestra"). Em breve, deve chegar outro álbum de um músico iraniano, Shardad Rohani. O terceiro lançamento da Eldorado traz um instrumentista extremamente original, com uma música que pode até ganhar um marketing publicitário: o som ideal para acompanhar a leitura de "As Brumas de Avalon", o best-seller que tem sua ação na Idade Média. Em "Celti Harp II", Patrick Ball continua a explorar as sonoridades dos séculos XVI e XVII, reunindo com sua harpa toda a atmosfera dos tempos de Avalon. São canções populares irlandesas ou criadas por ele mesmo, mas inspiradas na época. A harpa de Patrick foi desenhada como as daquela época, com cordas de cobre, dificílimas de serem tocadas e que exigem um real expert para produzirem boa sonoridade. O trabalho de Bell insere-se nesta World Music, um som que nada tem a ver com modas ou estilos, mas que fala profundamente. Afinal, o som da harpa celta foi durante décadas a única expressão do norte da Europa e os bardos, poetas cantadores, percorriam regiões encantando o povo com suas histórias. Um disco raro, sensível e delicado. A New Age Nacional - Embora seja arriscado atribuir títulos e adjetivações, o grupo Uakti, de Belo Horizonte, poderá, tranqüilamente, representar o Brasil no I Festival de Música da Nova Era. Afinal, há quase 10 anos - e ao longo de quatro elepês - este grupo instrumental criado e liderado por Marco Antônio Guimarães vem apresentando uma música extremamente delicada e suave, voltada quase ao espiritual - mesmo quando busca temas conhecidos. Não é sem razão que Milton Nascimento, profundamente identificado a uma música que contenha mensagem e conteúdo, tenha se entusiasmado com o Uakti, ajudando a sua carreira. O novo álbum do Uakti ("Mapa", Vison), é o trabalho mais profundo entre os que o conjunto já fez, com apenas cinco longos temas - "Dança dos Meninos" (Marco Antônio / Milton Nascimento), "Trilobits" (Décio Paulinho / Marco Antônio), "Mapa", "A Lenda" e "Aluá" (somente de Marco Antônio Guimarães). A oficina instrumental de Guimarães - da qual participam Paulo Sérgio Santos, Arthur Andres Ribeiro e Décio de Souza Ramos, utilizando basicamente instrumentos próprios, por ele desenvolvidos, oferece um trabalho da maior seriedade - admitindo em alguns momentos uma voz especialmente convidada, Inês Brandão. Um disco especial, que ganhou muito a ter a produção do excelente Carlão, o melhor engenheiro de som do Brasil - e que se constitui em homenagem póstuma a outro grande mineiro, Marco Antônio Pena Araújo (1950-1986), e que se vivo estivesse, também faria uma música para a nova era.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
12
21/05/1989

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