Login do usuário

Aramis

SOS pelo verde, flora & fauna no apelo musical

Através de uma mídia internacional que o seu prestígio garantiu, o cantor-ator Sting (Gordon Summer, ex-Police, hoje mais dedicado ao cinema) saiu em companhia do cacique Raoni mundo afora numa pregação ecológica em favor da Amazônia, que resultou em vídeos, discos e até num belíssimo livro - "A Luta da Amazônia - História da Floresta", com fotografias de Jean-Pierre Duttileux (Círculo do Livro, 140 páginas). Entretanto, outros nomes internacionais se uniram, direta ou indiretamente, nesta pregação ecológica - contestada, inclusive, por muitos, pelo seu sentido promocional. Em agosto do anos passado, a multinacional BMG (Arista/RCA) editava o mix "Spirit of the Forest" reunindo nomes internacionais e brasileiros. Os nacionais foram Gilberto Gil, Djavan, Rita Lee, Gal Costa, Marisa Monte, Sandra de Sá, Renato Russo, Ney Matogrosso e Ivan Lins. A música foi produzida pelo grupo inglês Gentleman Without Weapons (Senhores Sem Armas), da gravadora A&M. Originalmente, "Spirit of the Forest" foi escrita a pedido do grupo ecológico Friends of Earth (Amigos da Terra), para o baile de gala pró-floresta tropical, realizado na Boate Hipodrome de Londres, em novembro/89. Modismo? Talvez, mas não deixou de motivar que artistas de todo o mundo se unissem para gravar a música, com sessões organizadas em várias metrópoles (Los Angeles, Nova Iorque, Londres e Rio de Janeiro). Em Los Angeles, houve até a participação de representantes de onze tribos de índios americanos, "com o propósito de estabelecer uma conexão espiritual com e seus irmão sul-americanos mais diretamente atingidos pelo desmatamento da floresta", como disse Steve Reeves, um dos organizadores do movimento. De modo semelhante à campanha "We Are the World", diferentes artistas cantaram individualmente algumas linhas enquanto o grupo entoava o refrão. Toda a música foi composta de sons sampleados de florestas, tendo na parte brasileira a participação de tribos indígenas Karajás e Tukanos. Nelson Motta foi o coordenador cultural da parte nacional, numa integração de dezenas de artistas e técnicos - todos trabalhando graciosamente para que os resultados financeiros revertessem em favor de campanhas em favor dos indígenas. Na contracapa da edição do mir, veio a informação de que a mesma havia sido impressa em papel 100% reciclado. xxx Enquanto internacionalmente fazia-se o movimento Spirit of the Forest, o compositor, cantor e animador cultural Abílio Manoel, há muitos anso identificado às questões ecológicas - e inclusive coordenador de um festival de músicas termáticas que por alguns anos teve patrocínio do Sesc, desenvolvia na Som Livre o álbum "S.O.S Brasil". Com fonogramas cedidos por várias etiquetas, Abílio montou um álbum representativo da ecologia da MPB - tanto de autores e intérpretes famosos - como de gente nova. Abrindo com "Querelas do Brasil" (Maurício Tapajós/Aldir Blanc) na voz de Elis Regina, na segunda faixa já trazia Antonio Carlos Jobim em seu "Borzeguim" - na mesma linha de "Águas de Março" (1972). A seguir, Tetê Espíndola, com sua voz tão característica, dava uma dimensão especial a "Na Chapada", parceria com Carlos Renno e participação especial de Ney Matogrosso. Nilson Chaves, 37 anos, paraense de Belém, conhecido participante do Frecapo (no qual já venceu várias vezes), em parceria com Eudes Fraga, comparece com uma canção-manifesto em favor do Rio Tocantins: Toca Tocantins tuas águas para o mar Os meios não são os fins Por que vão te matar Por que se transformar em águas assassinas E nelas afogar a vida (...) Aqui não é teu lugar E vivo azazeiro Não mate o mato inteiro Não morra rio ao mar xxx Em sua poesia de ourives das palavras Djavan dá seu recado com "Cara de Índio", enquanto Guilherme Arantes é discursivo em seu conhecido "Planeta Água". Água que nasce na fonte serena do Mundo e abre o profundo grotão Água que faz inocente o riacho e Deságua na corrente do ribeirão Águas escuras dos rios que levam A fertilidade ao sertão Águas que banham aldeias e matam A sede da população Águas que caem das pedras No véu das cascatas roncos de trovão E depois dormem tranqüilas no leito dos lagos xxx "Itaorna/Angra Zero", da dupla Sá & Guarabira, num grito de denúncia fala da ameaça nuclear. A água queima e fere tudo onde se toca O que estará acontecendo em Iaorla? Os peixes vão fugir Os peixes vão morrer Os passarinhos emudecerão Beto Guedes em "O Sal da Terra" faz sua oração-fraternidade ("pra melhor juntar as nossas forças/ é só repartir melhor o pão/ é criar o paraíso agora/ para merecer quem vem depois). Ecologista ativista, desenvolvendo campanhas e projetos especiais, Marlui Miranda em "Motosserra" - que lançou num elepê independente, grita: "Motosserra rapa a mata/ rasga a serra/ rompe o verde/ mata o tronco/ muda a terra". Dois clássicos também estão neste álbum-manifesto - "Passaredo", de Francis Hime e "O Cio da Terra", de Chico Buarque. Maria Bethânia busca no mano Caetano - com sua participação especial mais Gilberto Gil e Nicinha, as palavras para dizer em "Purificar o Subaé" que: Os riscos que correm essa gente morena O horror de um processo vazio Matando os mariscos os peixes dos rios Enchendo meu cnato de relva e de pena
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
13/01/1990

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br