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Aramis

S.O.S. para os que estão solitários

Um aristocrático palacete, na Avenida Batel, ao lado do castelo que foi construído pelo cafeicultor Luís Guimarães e que depois passou ao governador Moysés Lupion, está sendo namorado por um grupo de endinheirados curitibanos. Entre executivos, publicitários, empresários e profissionais liberais, um ponto em comum: todos são descasados ou solteirões convictos. Idéia: fazer o velho palacete (hoje habitado por sua solitária herdeira, uma idosa senhora de sobrenome ilustre) um clube dos mais sofisticados. Um clube para pessoas solitárias com polpudas contas bancárias. Um espaço aristocrático, bem decorado, com todo conforto que o dinheiro permite, para tornar menos vazias as noites de homens e mulheres que se encontram sozinhos, voluntariamente ou não. Mas que buscam o encontro tão ansioso, pois, como já dizia Jules Styne, na canção que Barbra Streissand imortalizou, "pessoas que precisam de pessoas são as mais felizes do mundo". xxx A idéia de agrupar lonely hearts não é novidade. Há quase dez anos, a colunável Arice Buchmann (ex-Fleury da Rocha) criou o primeiro "Clube dos Solitários", que fez escola, mas provocou fissuras entre seus freqüentadores. Outra freqüentadora habitual das colunas sociais, a sensual morena Ceres de Ferrante, hoje proprietária de uma pizzaria – galeria de arte no Alto do São Francisco, fundou um segundo clube – enquanto, com uma visão mais empresarial, Naumir Belegardes viabilizou um antigo restaurante dançante, na Rua Mateus Leme, em próspero clube de solitários. Em setembro de 1984, enquanto Naumir se transferia para amplo espaço, na galeria Colonial, mudando o nome do clube para "Champagne", na Rua Mateus Leme se implantava o Clube Um, pretensamente com as mesmas finalidades, mas que, em sua primeira experiência, na Rua Dr. Murici, foi confundido com cabaré. xxx "Mais do que uma razão afetiva, uma questão até psicológica", justifica um dos mais prósperos publicitários, idealizador do primeiro dos "Clube dos Solitários", agora tentando viabilizar a criação da nova entidade, com sede no palacete do Batel. E acrescenta: "Cresce, cada vez mais, o número de separações e divórcios. Há centenas de homens e mulheres que, na solidão buscam uma companhia e necessitam de um espaço saudável, adulto, que proporcione novos relacionamentos afetivos". Naumir Belegardes, do alto de uma experiência de 10 anos, na observação de solitários freqüentadores dos dançantes espaços que dirige, contabiliza a felicidade que tem proporcionado: _ "Já foram 67 casamentos que surgiram de encontros inesperados, no clube dos solitários. Desses 67, sou padrinho de 35". Geralmente, quarentões (e até caso de sessentões), que partem para uma Segunda (ou terceira, ou Quarta) experiência conjugal. _ "Com muito mais chance de dar certo", garante Belegardes. xxx Os números não mentem: um relatório do Tribunal de Justiça do Paraná indica que, em 1984, as quatro Varas de Família julgaram 7.250 processos. Desse total, 3.818 disseram respeito a questões de desquite, divórcio, etc. – 67 a menos do que em 1983 (7.317 processos). Para se sentir a dificuldade dos relacionamentos familiares, eis os números detalhados referentes aos processos julgados nos dois últimos anos: - separação judicial – 764 (83)/656 (84); separação judicial consensual – 1.289 (83) / 1.343 (84); conversão de separação judicial em divórcio: 429 (83) / 522 (84); divórcio direto – 539 (83) / 420 (84); divórcio consensual – 323 (83)/ 309 (84); anulação de casamento – 35 (tanto em 1983 quanto no ano passado): processos de investigação da paternidade – 25 (83) / 22 (84); processos de execução por falta de pagamento de pensão alimentícia – 229 (83) / 274 (84); e processos cautelares de separação – 245 em 1983 e 236 em 1984. xxx Comparando-se os números, nota-se que houve uma redução no número de separações e divórcios – de 3.444, em 1983, para 3.200, em 1984. Entretanto, a curva sobre nas questões de processos de pagamento de pensão alimentícia (46 a mais do que em 1983), claro indicativo das conseqüências da crise econômica. Embora não haja à mão número s dos anos anteriores, o gráfico de processos que tramitam pelas Varas de Família tem crescido bastante nos últimos seis anos. xxx Para os sociólogos, amadores ou profissionais, sempre buscando temas para pesquisas de comportamento, eis um bom mote para um estudo interessante: analisar as faixas etárias dos processos de separação de casais e a relação também dos segmentos econômicos aos quais pertencem os cônjuges envolvidos. Isso transposto para a realidade mostra que os chamados "clubes de solitários" tendem a se diversificar, em diferentes classes. Desde aqueles mais populares, como o Clube Um, até requintados que podem transformar um aristocrático palacete do Batel na sede de um lonely hearts de homens e mulheres de alta renda. xxx Nos dois primeiros meses do ano, com as férias de verão e as famílias passando temporada nas praias, o movimento nos S.O.S amorosos aumentou. E não são exatamente os descasados que estão a garantir uma oferta maior masculina do que feminina...
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
22/01/1985

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