Solidariedade gaúcha
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 25 de abril de 1991
Jornalistas, pesquisadores, colecionadores e outras pessoas que em vários estados participam e acompanham as atividades da Associação dos Pesquisadores da Música Popular Brasileira, estão solidarizando-se com a sua representação no Paraná, pela arbitrariedade sofrida no último sábado, 20, por parte de uma diretora da Fundação Cultural de Curitiba, que provocou um grave incidente ao impedir, autoritariamente, que uma gravação autorizada por seu autor, fosse realizada no Teatro Paiol.
Em nome da secção do Rio Grande do Sul da Associação dos Pesquisadores da Música Popular Brasileira, o advogado, pesquisador, cantor e folclorista Edson José Otto, ex-diretor do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, encaminhou um manifesto a respeito, tão logo tomou conhecimento, na terça-feira, da prepotência ocorrida em Curitiba. A íntegra do documento assinado por Edson Otto, nome dos mais categorizados na cultura gaúcha e que já organizou vários eventos culturais da maior importância, está sendo distribuída nacionalmente.
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"Somos, nós da Associação dos Pesquisadores da Música Popular Brasileira, sem oficialismos nem apoios, repositários de um acervo incomparável da Cultura Musical Pátria.
Ninguém que não pertença à nossa grei imagina o quanto nos tem custado de esforço, abnegação, tempo e dinheiro, a coleta deste patrimônio do qual cada um de nós é guardião temporário, pois ele acabará, mais dia, menos dia, de forma graciosa, sendo amealhado pelos órgãos oficiais que deveriam ter a preocupação precípua de realizar aquilo que anonimamente estamos recolhendo. Por isso é que nos quedamos perplexos quando tomamos ciência de que pessoas pequenas demais para assumirem cargos e encargos oficiais, usando abusivamente dessa posição, impedem-nos de realizarmos qualquer de nossas intenções.
O empecilho criado contra a documentação do espetáculo do excepcional artista Gonzaguinha, no último sábado, dia 20, no Teatro Paiol, em Curitiba, constituiu-se em crime cometido contra a nossa Associação dos Pesquisadores da Música Popular Brasileira e contra, especialmente, a memória nacional.
Daí porque, na qualidade de membro da diretoria da referida instituição e com apoio de meus colegas gaúchos integrados à mesma, manifesto meu veemente repúdio ao desditoso acontecimento, que nem mesmo com a destituição da responsável, será reparado.
Esperamos, porém, que o episódio sirva de exemplo para as autoridades responsáveis pela condução da cultura no Paraná, para que entendam o idealismo com que operamos e não criem embargos para a atividade a que nos dedicamos como exercício de um verdadeiro apostolado". Assinado, Edson Otto.
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