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Aramis

"Silkwood", retrato de uma ameaça a todos nós

Silkwood, ou o despertar de uma consciência, ao invés do "Retrato de uma coragem", como foi adjetivado, no título em português. Uma mulher que cresce ao longo do filme, transforma-se em líder sindical na luta pelos direitos de sua categoria e, especialmente, na denúncia necessária que se faz pela maior segurança das indústrias que trabalham com produtos atômicos. Só isto já faz "Silkwood "(Cine Astor) um dos mais significativos filmes do ano, um trabalho sério, profundo e absolutamente atual - numa época em que todos estamos expostos a contaminação provocada por interesses multinacionais. Coincidentemente, a visão de "Silkwood" ocorre na semana em que a denúncia de que a legislação de controle de agrotóxicos passará exclusivamente ao Executivo, devido a pressões de grupos poderosos e, no Rio Grande do Sul, uma corajosa engenheira-agrônoma, Maria José Guazzelli 29 anos, consultora da Associação Democrática Feminina gaúcha, denuncia que um laboratório (Ciba Geigi, de São Paulo) estava enviando pelo correio amostra de um poderoso veneno, o Diazinon 40 PM, capaz de matar -com apenas 5 gramas- 55 crianças ou 27 adultos. No Paraná, um outro laboratório faz experiências com agrotóxicos, sem autorização legal. Dezenas de exemplos poderiam ser lembrados para mostrar que mais do que nunca estamos expostos aos perigos do contágio, da poluição - movidos por interesses de grupos multinacionais. "A Síndroma da China"( The China Syndrome, 1979, de James Bridges), que estreou três semanas antes de um acidente na usina atômica de Three Miles, nos EUA, trazia, há 5 anos, as colocações reais dos riscos de um acidente de proporções incalculáveis. James Fonda, intérprete e co-produção daquela fita, na época já estava interessada em levar à história de Karem Silkwood (19-02-1946/13-11-1974), operária de uma fábrica de produtos nucleares no Texas e que se tornou uma espécie de mártir na denúncia da falta de segurança nesse tipo de indústria de alto risco. Caberia a Mike Nichols, um cineasta de carreira irregular, levar no ano passado a história de Karem Silkwood às telas, com a excelente Merryl Streep em um novo show de interpretação - que lhe valeu indicação ao Oscar-84, pelo quinto ano consecutivo, em que é indicada ao troféu (vencendo em dois: coadjuvante em "Kramer x Kramer" e principal por "A Escolha de Sofia "). Muitos aspectos de "Silkwood"justificam uma apreciação crítica: a atualidade e importância do tema enfocado, a coragem de se realizar um filme que aborda assumo tão necessário de ser discutido e, a sua própria linguagem como cinema. Neste aspecto "Silkwood" é esteticamente um filme perfeito. Evitando os esquemas maniquistas - de colocar patrões como vilões e Silkwood e seus colegas como heróis, Nichols desenvolveu a história a partir da conscientização que Karem vai tendo da importância de sua participação na luta sindical, e na necessidade de denunciar o que há de errado - numa construção de personagem que lembra, em muitos pontos a "Norma Era" interpretada por Sally Field em 1979.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
03/07/1984

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