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Serginho, o que tentou ser um mecenas musical

Engenheiro civil da turma de 1980, Sérgio Bittencourt Martins, curitibano do dia 26 de agosto de 1950, sempre foi um apaixonado pela música, a poesia de Fernando Pessoa e a madrugada. Paralelamente as atividades empresariais na construtora Monte Castelo, dividia-se entre a poesia e a noite. Assim, a decisão de fazer um estabelecimento de categoria, no estímulo dos chamados "swingles bar" que conheceu em viagens ao exterior, "foi mais do que uma iniciativa comercial um investimento cultural". Investiu há 3 anos quase US$ 300 mil para transformar um pardieiro em ruínas na esquina das ruas Dr. Murici e Saldanha Marinho, de propriedade do bilionário Marcos Hauer, numa edificação apropriada a um bar-restaurante de 1.200 metros quadrados, dois ambientes, e cujo subsolo o proprietário ainda pode alugar para um salão de cabeleireiros ("Flenix") e uma loja de disco ("Korzac"). xxx Projetado pelo arquiteto André Franco, 40 anos, primo de um dos maiores clarinetistas de jazz dos Estados Unidos - Buddy de Franco N. Y. (1923-1990), o Habeas Coppus levou quase um ano em obras. A restauração foi cuidadosa e Sérgio não mediu despesas para dar uma sofisticação ao ambiente: painéis das artistas Carmem Carine e Laila Karan, uma grande escultura executada por Renato Frota, 32 anos, curitibano hoje radicado na Califórnia, 50 mesas com tampa de mármore, poltronas em couro e um amplo bar. Pelo Habeas Coppus passaram milhares de pessoas. Ali aconteceram mais de 20 eventos - entre lançamentos de livros, discos, produtos e três das edições do Salão Curitiba Arte Hoje. Dezenas de grandes nomes da MPB, em esticadas memoráveis, deram canjas históricas - que lamentavelmente ficaram sem gravações mas, ao menos em fotografias, estavam registradas no painel de entrada. xxx Em 1990, numa atitude inédita, Sérgio Martins patrocinou a edição de uma antologia de poetas paranaenses ("Carpen Dien") e um elepê ("Optimum In Habeas Coppus"), valorizando não só os instrumentistas e músicos da casa, mas outros talentos paranaenses. Assim, quando uma casa que abrigava 25 funcionários, num universo de mais de 80 pessoas, fecha sem dívidas ou problemas legais, é de se perguntar: por que? Sérgio, com sinceridade, diz: - "Cansei de ter prejuízos pela falta de prestigiamento, pela redução de fregueses, refletindo a crise econômica do país". Como seu colega Eduardo Martins, que fechou o Crystal, Serginho não viu outra opção: - "Curitiba, internacionalmente famosa, ecologicamente o paraíso do país, não resiste a bons estabelecimentos - sobrevivendo apenas ambientes poluidores de som, casas de rock. Espaços melhores se traduzem em prejuízos. Discretas lágrimas na equipe que acompanhou Serginho nos últimos anos - os garçons Lauro, Magrão e Ivan, a cozinheira Cecília, o recepcionista Álvaro Oliveira e até Jackson, o guardador de carros, faziam um triste requiem na quente madrugada de domingo: Curitiba sepulta mais um endereço que deixa estórias para o folclore boêmio.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
28/01/1992

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