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Aramis

A Semana Musical

MUSICALMENTE, as coisas acontecem inesperadamente; depois de quase três meses sem programas atraentes de repente, o curitibano foi surpreendido com uma série de excelentes opções. Na semana passada houve Beth Carvalho, Originais do Samba, Maria Martha, Burt Bacharach e Egberto Gismonti, este, sem dúvida e favor nenhum, o grande evento artístico da temporada. Da maior criatividade, Gismonti, 30 anos, dez de carreira, dez elepes espalhados pelo mundo, a frente de seu excelente grupo Academia de Danças, mais a vocalista Marlui Miranda, mostrou, no palco do Guaíra, porque é considerado um dos mais importantes músicos contemporâneos. E Gismonti conseguiu um verdadeiro milagre: ter o seu lp "Dança das Cabeças" (Odeon, março/77) incluído como o "disco do ano" pela revista "Stéreo Review" e ser elogiado por um critico radical em favor da música brasileira como J. Ramos Tinhorão que, terça-feira passada (11/4/78), em sua coluna no "Jornal do Brasil", escreveu "O difícil para um compositor popular, em sua manipulação das combinações sonoras em nível mais cerebral - e, portanto, mais necessariamente abstrato - é libertar-se das tentações do ritmo marcado, do balanço. No lado de um de seu lp "Dança das Cabeças", Egberto Gismonti consegue afinal esse prodígio, quase completamente, e o resultado não podia ser mais fecundo". xxx Esta semana está igualmente fértil em matéria da melhor música. Começou segunda-feira e encerra hoje com a temporada de Paulinho da Viola e Canhoto da Paraíba no Guaíra, às 18h30m, abrindo de forma auspiciosa a programação do Projeto Pixinguinha. Juntos com um excelente grupo instrumental - Copinha (flauta), César Faria (violão), Dininho (baixo), Hércules (bateria), Chaplim (percussão) e Cristóvão (teclados), apresentam um espetáculo da maior beleza, que tem levado um público entusiástico, que tem interrompido várias vezes o show para espontâneos aplausos. Paulinho canta seus belíssimos sambas, sola choros antológicos, divididos com Canhoto da paraíba; um instrumentista da maior dimensão, que não nos cansamos de ouvir e que, após o primeiro lp na Marcus Pereira ("Com Mais de Mil", produção de Paulinho) deverá logo ali fazer um novo disco. xxx Na quarta-feira, inesperadamente, uma noite de música argentina trouxe no Guaíra Roberto Yanez, cantor de boleros que há mais de 20 anos tem embalado muitos romances. Pena que o seu espetáculo não tenha merecido promoção maior por parte de seus produtores. Assim mesmo atraiu um publico interessado. xxx A segunda dupla do Projeto Pixinguinha também promete muito: Nara Leão e Dominguinhos. Ela, ex-musa da Bossa Nova, mulher sempre consciente, com uma obra da maior dignidade, espalhada em uma dúzia de elepes na Phonogram, o último dos quais foi "Meus Amigos São Um Barato". Ele, o chamando acordeonista-pop, que sem negar suas origens nordestinas, legitimo herdeiro de Luiz Gonzaga, conseguiu dar um novo balanço a este instrumento de tantas raízes tão forte, mas, estranhamente, tão pouco utilizado fora da área rural. A fusão Nara-Dominguinhos, mais um apoio instrumental, resulta, por certo, num espetáculo que, durante cinco dias, a partir de segunda-feira, deverá lotar o Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto. xxx Roberto Kelly, que com "Zodiac", embalada numa das trilhas sonoras da globo e curtida em discotheques chegou as paradas de sucesso, através de seu lançamento pela RGE, esteve no Rio e São Paulo, mas como em Curitiba os empresários das discotheques são ainda tímidos e desorganizados, ela não estendeu sua temporada. Entra, todavia, em julgamento em nosso Conselho de Música neste fim de semana. Também ali colocamos, entre outros temas, a bela composição "Cem Anos de Choro" de Capiba, que Raul de Barros e conjunto defendeu no I Festival Nacional do Choro, realizado em São Paulo, no ano passado, e cujas musicas finalistas apareceram agora em dois lps de Marcus Pereira, um produtor realmente voltado a nossa melhor cultura popular. Entre os lps em julgamento, nesta semana, "O Som Brasileiro de Sarah Vaughan" (RCA Victor, matço/78), gravado em novembro do ano passado, durante a temporada que a notável vocalista de jazz, fez no Rio de Janeiro. Produzido por Aloysio de Oliveira, um record-man que realmente tem o senso da qualidade, o disco de Sarah está entre os melhores lançamentos da temporada que levará nossa melhor música ao Exterior e que é um som recomendável para ser ouvido neste fim de semana. xxx Mais um registro fonográfico, que vale também como dica neste fim de semana: como os curitibanos não tiveram oportunidade de assistir Dave Brubeck, que com seu familiar conjunto esteve em algumas capitais, há duas semanas, a CBS encarregou seu especialista em jazz, Paulo Santos, para selecionar algumas melhores faixas entre as dezenas que Brubeck tem naquela fábrica, e assim lança "The Dave Brubeck Quartet/Especial", álbum em dois volumes, onde podemos ouvir, com a suavidade e balanço que caracteriza o som de Brubeck, temas como "Take Five" (Paul Desmond), "Blue Rondo a La Turke", "Someday My Prince Will Come", "Pennies From Heaven", "Countdown" e "Pick Up Sticks". Um som que vai ajudar muito a quem se dispor a curtir uma tranqüilidade familiar neste fim de semana. xxx No Brasil, o maior discípulo de Dave Brubeck, ao piano, é Dick Farney (Farnesio Dutra), que amanhã e domingo, se apresenta no Guaíra. Quase sessentão, mais de 40 anos de vida artística, cantos e pianista romântico, Dick Farney - "Sua Voz, Sua Música", vem ao Guaíra, em promoção de Avelar Amorim, para interpretar seu conhecido, mas suave, repertório, com clássicos como "Perdido", "Copacabana", "Um Cantinho e Você", "Perdido de Amor", "Teresa da Praia" e tantos outros sucessos das décadas de 40/50. Junto com musicas americanas - "Tenderly", "All the way", "One for muy baby", "Thank you", "White Christmas" etc. Mas haverá também bom jazz, como "Brandburg Gate", tema de Brubeck em homenagem a Back, com Farney ao Piano, Sabá no baixo e Antoninho na Bateria, Julinho, pianista e arranjador, também integra o grupo de Dick Farney, um artista agradável, sensível - num estilo hoje raro na vida artística. E que por isso levará um público quarentão, que muito já amou e curtiu ao som de sua voz e piano. xxx Pena que o grande Auditório do Guaíra não seja o espaço ideal para a voz e o som intimista de Dick, Julinho, Sabá e Antoninho, mas, enfim...
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Fim de semana
4
14/04/1978

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