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Aramis

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Duas receitas de (como) assustar o público nas telas da cidade: "Psicose" (Cine Lido, 5 sessões diárias), em revisão 17 anos após ter sido realizado por Hitchcock e o modesto e quase desapercebido "Nasce um Monstro" (cine Opera, até amanhã, 4 sessões), possivelmente um dos filmes mais tensos já mostrados no cinema nos últimos anos. Em ambos, além das mesma preocupação de conservar o espectador "gelado na poltrona", como diz a publicidade, o mesmo e competente compositor, Bernard Hermann (1919-1975), com trilhas absolutamente nervosas e marcantes - criando sonoramente a complementação da imagens de suspense. Alfred Hitchcock, 78 anos, um dos cineastas mais conhecidos, principalmente pela sua fidelidade a um mesmo [gênero] - o suspense - e quando da realização de "Psicose", vinha atravessando uma das fases mais criativas ("Um Corpo Que Cai", 58/"Intriga Internacional", 1959) e realizaria, a seguir, o apocalíptico "Os [Pássaros]" (The Birds, 63), cuja recente revisão comprovou toda sua extraordinária atualidade. Fotografado em preto-e-branco por John Russell, rodado em Phoeniz, Arizona, no San Fernando Valley e na rodovia Fresno-Bakersfield, "Psicose" é um filme nervoso desenvolvido como roteiro de Joseph Stefano a partir da novela de Robert Bloch, que se tornaria bert-seller internacional. Em compensação, "Nasce um Monstro", (It's Aline, EUA, 75) chega de forma quase desapercebida: um elenco de nomes totalmente desconhecidos e o diretor, roteirista Larry Cohen também era ainda inédito: um de seus filmes anteriores, "Boné" (1973), com música de Gil Melle, apesar de elogiado pela crítica americana, jamais chegou ao Brasil. Entretanto "It's Alive" - que uma falsa publicidade insiste em aproximar no mesmo tema de "O Bebê de Rosemary" (de Roman Polanski, por sinal programado para a sessão da meia-noite, sábado, no cine Astor) é um filme terrivelmente assustador, não pelo "monstro" em si - que não chega a aparecer claramente em nenhuma [seqüência], mas sim pela colocação de uma mutação genética provocada não por forças sobrenaturais ou [demoníacas] (como em "Rosemay's Baby" do romance de Ira Levin), mas sim pelo homem, em sua incapacidade de controlar [e] disciplinar os seus pseudo conhecimentos científicos. Há 15 anos passados, a tragédia da Talidomina provocou milhares de vítimas em todo o mundo, com crianças deformadas, em [conseqüência] das drogas ingeridas por suas mães no período de gravidez. Partindo deste fato real, Larry Cohen deu em, "It's Aline" uma conotação fantástica: uma mãe, Lenore (Sharon Farrell) vem a dar a luz, em [conseqüência] de pílulas que tomou, a um mutante de 7 quilos, com garras e dentes, cuja selvageria destrói todos os seres de que se aproxima, com exceção de sua família. O suspense e o horror crescem de [seqüência] a [seqüência] e, embora a denúncia de Cohen, em termos de responsabilidade dos laboratórios não passe de rápidas insinuações, o espectador mais consciente sai do cinema certo de que a ficção de terror presenciada tem mais conotações com o nosso tempo de dúvidas e irresponsabilidades científicas do que se possa imaginar. Cinematograficamente, "Nasce um Monstro" é um filme limitado: o elenco de intérpretes desconhecidos não tem a força que se exigiria (John Rayan, como Frank, o pai, é de uma inexpressividade irritante), mas pelo roteiro fascinante, o filme prende o espectador na primeira [à] última [seqüência]. Não se trata, aqui, neste simples registro, de estabelecer relações entre "Psicose" (1960) e "Nasce um Monstro" (1975), duas propostas diferentes de horror/terror. Mas se a fita do velho Hitch, ao contrário de "The Birds" não resiste totalmente a uma revisão, o jovem Larry Cohen surge como uma promessa de quem sabe assustar o cinéfilo, com temas capazes de fazer repensar. Só tem um detalhe: Não se recomenda "It's Alive" às mulheres grávidas. Uma futura mamãe que for assistir este filme corre sérios riscos psicológicos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
4
12/07/1977

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