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Scherer, o pioneiro polêmico de Maringá

Rogério Recco, 33 anos, tem três razões para estar sorridente neste final de ano: "Jornal de Serviço Cocamar", quinzenário que edita há dois anos para a Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas de Maringá, recebeu o Prêmio Aberje 90, concedido pela Associação Brasileira de Comunicação Empresarial de São Paulo, como "jornal externo" (30 mil exemplares). "Espantalho", na área de marketing pecuário, também foi para o "Jornal da Cocamar", premiação que lhe foi comunicada na última sexta-feira, às vésperas do encerramento do I Festival de Maringá. Além de ter o seu "O Templo de Scherer", 15', como o vídeo mais comentado, em termos locais, dos que participavam do evento, Recco saiu com três distinções: troféu Figueira Branca do júri popular; menção honrosa do júri oficial e uma premiação especial da Fundação Roberto Marinho. Entre mais de 15 trabalhos inscritos por candidatos a videastas de Maringá, Recco foi o único a ser aceito para a parte competitiva e seu vídeo já foi exibido pela TV Tibagi (Grupo Paulo Pimentel), de Maringá - sendo possível, inclusive, que venha a ser transmitido em Curitiba. Afinal, trata de um aspecto até hoje ignorado da história de Maringá, abordando a personalidade controversa do padre Emil Scherer (- ? - 1972), que chegou na região no final dos anos 30 e em 1940 já havia adquirido da companhia colonizadora uma área de 200 alqueires que se transformou na Fazenda São Bonifácio. Inovador para a época - trouxe os primeiros sistemas de telefonia, meteorologia e rádio-amador (o que lhe valeu, posteriormente, acusações de ser espião nazista), o padre Scherer fez o primeiro casamento de pioneiros e foi um líder carismático. Personalidade vigorosa, mal humorado, sempre armado, teve participação intensa na colonização do município. Entretanto, há vozes discordantes sobre sua formação: o pioneiro Alfredo Nyfler, 83 anos, ex-diretor da Companhia de Melhoramentos Norte do Paraná, afirma que Scherer nunca foi padre e, ao contrário, era herege. "Infelizmente, Nyfler não quis gravar o depoimento para o meu vídeo", lamenta Recco, consciente da importância de que o velho colonizador se disponha a registrar suas memórias. Também D. Jaime Luiz Coelho, arcebispo de Maringá - que ali instalou a diocese em 2 de março de 1957 - também não se dispõe a discutir a questão. O fato é que a hoje valorizadíssima propriedade - da gleba inicial, restaram 70 alqueires próximos a cidade - pertencente a Província dos Palotinos, com sede em Jacarezinho, que pouco utiliza a terra. Ali, a capela construída há 50 anos pelo padre Scherer, embora conservando objetos pessoais - roupas, uma vitrola, mais de mil discos trazidos da Alemanha, etc. - encontra-se abandonada e com riscos de ser destruída. Com o impacto do vídeo de Rogério Recco, que trabalhou numa linguagem de reportagem para televisão, com roteiro de Stella Paris e câmera de Ademar Schwczenko, surgiu a proposta de tombar a capela e fazer sua restauração. O prefeito Ricardo Barros, atento a valorização memorialística do município encampou a sugestão e o presidente da Cocamar, Luiz Lourenço, ao entregar a premiação a Recco, disse que "tudo faremos para viabilizar a preservação do tempo de Scherer". Uma prova de que um vídeo VHS pode ajudar a salvar o patrimônio histórico de uma cidade. LEGENDA FOTO - Rogério Recco (direção), Ademar Schwczenko e Stella Paris (roteiro), realizadores de "O Templo de Scherer", documentário que polemiza a participação do legendário padre Emil Scherer (foto Tiomkim).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
05/12/1990

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