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Aramis

Satã e Veneno, um novo vigor para o bom samba

Surgem novos e promissores talentos no mundo do samba. Dois exemplos: Marquinhos Satã e César Veneno. ambos com bossa, balanço e muita comunicação. Marquinhos Satã (Marcos Costa Santos, carioca do morro do Salgueiro, 24 de janeiro de 1956) "cumpriu a meninice carioca: bola, pipa, gude e ritmo que invadiu-o inteiro, embora a mãe não gostasse" - como diz Ronaldo Boscoli. Passista do vermelho branco há oito anos, Marquinhos nunca teve ouvidos para outros sons que não o samba. No morro de São Carlos - onde foi morar aos 14 anos - conheceu Luiz Melodia, que conhecia Gal Costa, que conhecia Caetano - Wally Salomão e Jards, que o batizou de "Satã". Foi quando conheceu a bossa de João Gilberto e a nova de Tom Jobim. Marquinhos foi mais que amigo de Luiz. É seu parceiro em "Água de Barella", uma das 12 músicas inéditas que estão neste disco de estréia de Marquinhos (RCA, outubro/86). Fã de Paulinho da Viola e do grupo Fundo de Quintal, boa instrução (é técnico em contabilidade) Marquinhos Satã tem ótimos amigos do melhor samba, como Ney Lopes, autor de "Partido Cruzado", "Cachimonia", parceiro em "Água de Barella", faixas marcantes deste disco alegre, comunicativo e que mostra a sua bonita voz. Antes da RCA acreditar em seu talento, esteve tentando fazer uma gravação na Odeon. Não deu certo mas em compensação a multinacional não impediu que uma das estrelas de seu elenco verde-amarelo, Roberto Ribeiro, participasse da faixa "Me Engana que eu Gosto", parceria de Marquinhos com Nivaldo Duarte e Serginho do Cavaco - com uma letra das mais irônicas - uma espécie de reedição de "Pega na Mentira" de Erasmo Carlos. Outra participação especial e bem humorada é de Bezerra da Silva em "O Rei do Cheque Sem Fundo" (Edson Show e Wilsinho Saravá). Cada faixa tem uma história. Por exemplo, "Falsa Consideração" (dele, Lieberth Ferreira e Eros) é um flash daquele tipo de mulher que vê o cara "caidaço" dá no salto e fica com dor de "esquina" quando o cara se arriba (tipo Maradona). Já "Quando Estou Fazendo Amor" (Claudio Comunguelo e Jorginho Azarão), é explicado por Ronaldo Boscoli da seguinte forma: - Apesar dos nomes dos autores, isso é coisa fina e vai com apoio da prestigiosa IRHB (Indústrias Reunidas dos Hotéis da Barra). Aquilo que não sai da moda aqui é discorrido com muito carinho... Para atualizar regionalmente: a IRHB vira IRHCG - ou seja a Indústrias Reunidas dos Hotéis da Grande Curitiba... (Rick's, Black Stallion etc. etc.). Marquinhos Satã é diabólico em seu talento e não assusta ninguém. Ao contrário, é uma estréia muito bem vinda. xxx Depois de Satã, o Veneno. E César Veneno estréia num elepê produzido por Jonas Silva, da Imagem - um bravo produtor independente que acreditando nas possibilidades do mercado do pagode também decidiu disputar esta faixa. Com direção artística de Sérgio Guedes, arranjos e regências de Ivan Paulo, César Veneno (qual será o seu nome verdadeiro? Não há nenhuma informação disponível) chega com um repetório dos mais agradáveis, começando, por exemplo, com "Manda Iôló", um dos sucessos de César Veneno que havia sido lançado pelo grupo Fundo de Quintal. Outro pagode conhecido é "Sua Presença" (parceria com Ratinho/Adilson Victdor), que há muito é cantado nas rodas de pagodes, gravado que foi pelo saudoso Haroldo Santos. Em seguida, há um poutpourri de partido alto, mostrando um pouco da grande produção de César Veneno: "Pede que eu dou", "Ela Sai de fininho" e "Mariana". Depois, há o poutpourri de sambas de roda, que foi armado com a colaboração do lateral-direito Josimar (da seleção brasileira no México), que também é bom de samba. César também escolheu sambas de outros autores - como "Me Leva Biana" (Poliba/Cabeleira/Jusserle), "Corrupiou Vendaval" (Mauro Deniz/Adilton Victor), "Tarda Mas Não Falha" (Zeca Pagodinho). Alegre, bem sarcástico, César também mostra o lado romântico como "Meu Olhar", de 1982, no qual a sua interpretação serena casa-se com os solos de Zeca do Trombone. LEGENDA FOTO - O samba é revitalizado com gente nova como Ivo Meirelles, que já foi "Menino da Mangueira" no sucesso de Rildo Hora e Sergio Cabral. Marquinhos Satã e César Veneno trazem novos pagodes, enquanto da Bahia também surgem talentos vigorosos, com a mistura de ritmos centro-americanos. É a boa MPB em várias vertentes - para se ouvir e curtir.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
09/11/1986

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