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Aramis

Samba

Mesmo sem a intensidade de 3 ou 4 anos atrás, o samba ainda felizmente - resiste em termos mercadolígicos. É claro que não é todo mês que temos um disco de Paulinho da Viola, o Divino Cartola esta doente, mas há ainda Monarco, de quem Aluisio Falcão, incansável garimpeiro de talentos, acaba de lançar um novo disco pelo selo Eldorado. Como Monarco, também Noca é um compositor de origens humildes, identificado com os suburbios do Rio de Janeiro. E colocando artisticamente o Portela como cognome, este sambista de bossa e simpatia, explode versatilidade no lp "Mãos Dadas"(RCA), produção executiva de Pedro Cruz, um organizado pesquisador da MPB. Todas as faixas são de Noca, trabalhando com diferentes parceiros Santa Branca, Sérgio Fonseca, Mauro Duarte, Barbosa da Silva, João Rios, Enoir Strellet. Sua temática são as coisas da vida, em sua simplicidade e poesia, mas capaz de motivar bons momentos: "Choverando", "Sonho de Criança", "Mal entendido", além de dois pot-pourris, onde pode colocar mais seis músicas entre tantas que tem feito: "Portela Querida", "Ausência", "Dinheiro vem, dinheiro vai", "É preciso muito amor", "Vendaval da vida" e "A alegria continua". Parceiro de dona Ivone Lara num dos mais belos sambas de 1978, "Sonho Meu", Delcio Carvalho é um dos compositores que se firmaram nos últimos anos, embora seja compositor e carioca há mais de 20 anos. Em 1968 teve seu primeiro samba gravado e em 1971, em parceria com Adeilton Alves, viu seu "Esperanças Perdidas", bastante divulgado nas rádios. Por isso, é importante o lançamento de seu lp-solo, "Canto de um povo"(Polygram). Como lembrou J. Ramos Tinhorão, apenas 3 anos mais velho do que Paulinho da Viola (Délcio nasceu em Campos, RJ, em 1939; Paulinho no Rio, em 1942), Délcio liga-se muito de perto tal como Paulinho - à escola dos "velhos" autores de sambas da área popular, seguindo uma linha de criação que se filia, na área do morro, à apurada e lírica melodia de compositores como Silas de Oliveira, e, na área do "samba da cidade", a profissionais que optaram pelo asfalto, sem trair a alma popular, como Wilson Batista (1913-1968), também nascido em Campos. Ao longo das 12 faixas, com mais de 20 sambas, sente-se toda a versatilidade e talento de Delcio Carvalho, que não se restringiu ao interpretar seus próprios sambas. Apesar de ter obra das mais numerosas, incluiu composições de outros autores, que, generosamente, se dispôs a divulgar. Como Nilton Barros ("Testemunha de um povo") e Dedé da Portela/Dida ("Hora de Ser Criança"). Aos 41 anos, dono de uma das maiores fortunas entre os artistas populares, Jair Rodrigues ( de Oliveira, Igarapava, SP, 6/2/1939) é o exemplo do sambista que deu certo. Sorriso Kolynos, uma comunicabilidade imensa com as faixas mais humildes, tem conseguido a sobreviver mesmo a fases de menor inspiração de autores e a péssimas produções. Anualmente, seu elepe vende o suficiente para fazer com que a Polygram renove seu contrato. "Estou lhe devendo um sorriso" (Phillips, 6485212, julho/80), mistura, mais uma vez, repertório de várias origens que vai do antológico Braguinha ("Mané Fogueteiro") até uma interessante parceria do baiano Edil Pacheco/Carioca João Nogueira ("Salve a Bahia"). Autores de escolas de samba, como Zuzuca ("Moro no Morro"), paulista Talismã ("Madrigais"), a comercial dupla Jair Amorim/Evaldo Gouveia ("Mestre Sala do Amor"), e até Wando ("Catarola", parceria com Nilo Amaro/ Leonidas Paulo), comparecem nos autores arregimentados para esta nova produção destinada a manter Rodrigues em sua posição comercial de destaque. Depois de ter garantido a Copacabana, há alguns anos, um excelente faturamento, com seus primeiros sucessos emplacados graças a promoção da telenovela "Bandeira Dois", o paulista Wando passou a Polygram, por onde sai seu novo lp, "Bemvindo". É, em relação aos seus elepes anteriores, mais bem acabado, embora a intenção seja de atingir a faixa romantica, "trazer para o primeiro plano romantismo que está presente na alma de todos nós", diz o produtor Jairo Pires. Assim, o repertório teria que ser bastate apropriado a idéia, abrindo com "Candura", onde o tema é a volta de quem está distante, prosseguindo com "Maior Desejo" (com a participação de Sonia Burnier). Outros autores, identificados com o espírito romantico-comercial de Wando, foram convocados: Daniel ("Duas Lágrimas", "A Mosca e a Aranha", "Quatro Estações Sem Você"), além de numa faixa, "Pra Perfumar a Dor", existir um bom destaque instrumental. Chico da Silva substituiu a Jorginho do Império na Polygram quando este passou para a CBS. Ou seja, um cantor-compositor/xerox, capaz de dividir o público fiel de Martinho da Vila, que continua na RCA, ainda com expressivos indices de vendagem. O problema da imaginação na MPB é sério e quando um cantor dá certo, inegávelmente propicia que dezenas de outros entrem na mesma faixa. Chico da Silva é um caso típico desta exploração de mercado, "Sonhos de Menino" (Polygram/Polydor, julho/80), o traz com um punhado de novas composições algumas sozinho, a maioria com parceiros para entrar numa faixa de público certo. E deixar mais uma vez, a Martinho da Vila irritado. LEGENDA FOTO 1 - Noca da Portela
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jornal da Música
15
17/08/1980

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