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Aramis

Rumos do bom humor em camisa de Vênus

Entre as características da MPB nesta década, uma, sem favor, é a (re)descoberta do humor. O sorriso sempre coexistiu com a melhor música popular - e das ironias de Noel Rosa às irreverências erótico-políticas de Rita Lee (por sinal, saindo com seu novo elepê) há muita coisa a ser explorada - como, aliás, Tarik de Souza fez num brilhante texto que leu por ocasião da l (e única) Feira do Humor, há alguns anos, em Curitiba. A redescoberta do humor teve seu núcleo propulsor na hoje desativada Lira Paulistana, com grupos na linha do Língua de Trapo, Premeditando o Breque, Rumo, entre outros. Logo o rock jovem também apelaria para deboche e a ironia e o campo está cada vez mais bem humoradamente minado. Se não há boa música, há, ao menos, humor. Premeditando o Breque chegou a um elepê editado pela Odeon, o Rumo continua singrando águas independentes - agora em seu quarto o Língua de Trapo teve seu novo lp ("Como é Bom Ser Punk") editado pela RGE. Na linha do humor roqueiro, o irreverente grupo baiano Camisa de Vênus busca também esta linha a partir do próprio título adotado. O Língua de Trapo não perdoa ninguém: a exploração comercial da música infantil ("Donos do Mundo"), a Funai e os Índios ("Country Os Brancos"), a falsa filantropia das dondocas ("Coquetel Beneficente"), as seitas orientalistas ("Força do Pensamento"), os gays brasileiros em Paris ("Um Brasileiro em Paris"), o INPS ("A Vingança do Hipocondríaco"), a macrobiótica ("Conuspucália"), além de alfinetadas em Belchior ("Fraude") e até uma paródia a uma dos mais populares momentos da parceria Toquinho/Vinícius, estão presentes neste disco. Mário Campos, Pituco (Flácio Domingo), Lizoel Costa (Dedo-duro) e Sergio Gama (Sergio Podre), Laert Surrumor ( Bob Cuspe), João Lucas (Comunista) e Nahame Casseb (Naminha) usam e abusam da liberdade de fazer humor musical. Gozam, ironizam e provocam piadas interessantes. O problema é saber até onde resiste a audição de uma gravação que tem no humor o seu forte. Afinal, todo mundo ri com as piadas de Zé Vasconcelos, Chico Anísio ou Juca Chaves - mas há muito que seus discos deixaram de ter boa vendagem e praticamente desapareceram do mercado. xxx O Camisa de Vênus também busca o humor em suas músicas, começando com uma sátira deliciosa: "Eu Não Matei Joana Dárc". Tudo também é motivo de gozação para este quinteto - formado por Karl Franz Hummel, Gustavo Muller, Marcelo Nova, Roberto Saritana e Aldo Machado. Uma homenagem especial a um dos compositores que, na época da Tropicália, se voltou a um dos mitos das histórias em quadrilhos: Jards Macalé, de quem o Camisa de Vênus regravou - com muita bossa - "Gotham City". Há versos interessantes e imagens simpáticas nas músicas deste quinteto que não exagera no instrumental e, fazendo algo meio raro entre os chamados grupos jovens, se preocupa em dar seqüência lógica e bem estruturada às suas canções. Já em seu segundo LP (o primeiro não conhecemos), o Camisa de Vênus dá prazer. E não oferece riscos de gravidez barulhenta.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
38
15/09/1985

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