Rosirene, a que sabe falar para crianças
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de novembro de 1985
Em "O menino que não gostava de ouvir histórias", Rosirene Gemael, 31 anos, jornalista mãe de Marcos, 5 anos, conta a história de um menino que não gostava de ouvir histórias. Preferia, ele mesmo, em sua riquíssima imaginação, inventá-las. Ou recontá-las a sua maneira.
Em apenas 35 páginas, ilustrada de forma original - belas fotografias de Julio Covello, trabalhadas com ilustrações de Vania Cordeiro - Rosirene colocou toda sua sensibilidade num texto admirável, com a classe de quem sabe usar as palavras, criando todo um mundo de magia. Justamente premiado no concurso de livros infantis promovido pela Fundação Cultural - que patrocinou a edição - o livro de Rosirene teve tão boa acolhida que a deverá estimular a outras experiências na área. Talento e sensibilidade para tanto não lhe faltam.
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Dentro do boom editorial no Brasil - nunca se publicou tanto com vendas tão expressivas como nos últimos anos (e olhe lá que o preço do livro não é mole!), a literatura infantil apresentou, especial - provando que está se formando, cada vez mais um público de (bons) leitores. Num estudo recém-publicado ("A arte de fazer artes - como escrever histórias para crianças e adolescentes", Nórdica, 22 páginas, Cr$ 44.900), Glória Pondé, traz alguns números do mercado editorial da literatura infantil e juvenil. Assim, em 1974, apareciam apenas 424 títulos com venda de 13.337.166 exemplares. Em 1975, já eram 919 títulos e em 1976, atingia-se 1.245 com a maior tiragem (22.909.436). Em 1980, foram 1.159 títulos com 16.930.175 exemplares. Infelizmente faltam números dos últimos 4 anos, mas é de se imaginar que no ano passado passaram de 2 mil títulos e mais de 30 milhões de exemplares vendidos, considerando o número de lançamentos. Há, inclusive, várias editoras que se voltaram especialmente à área infanto-juvenil.
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A carioca Glória Pondé, professora de Português e consultora de várias editoras e executiva da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, em "A Arte de Fazer Artes" estuda a questão da produção editorial para crianças e jovens, a função do livro na escola, a opinião dos escritores a respeito, dá uma visão geral da história da literatura infanto-juvenil no Brasil.
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A Salamandra, de Geraldo Jordão Pereira, durante algum tempo se voltou exclusivamente à produção infantil. A Melhoramentos, casa publicadora que só faz lançamentos de grande circulação, tem uma imensa linha de livros infantis, como o recém-lançado "Clube do Esqueleto" de Stella Carr, autora já conhecida por vários títulos. Outra autora conhecida, Ruth Rocha, 30 livros e mais de 2 milhões de exemplares vendidos, está agora contratada da Rocco, que já publicou "As coisas que a gente fala", "A decisão do campeonato", "Como se fosse dinheiro", "Armandinho, o juiz" e agora "Piquiniche", ilustrado por Ivan & Marcelo.
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Para uma faixa de adolescentes, a Ibrasa edita "Os Mistérios do Povoado" de Arthuzina D'Incao, dentro de uma coleção chamada "Primavera". Também para leitores na faixa acima dos 10/12 anos é que se destina "Terceiro Tempo de Jogo", o novo romance de Roberto Gomes, catarinense radicado em Curitiba, dono das Edições Criar, que tem também na linha infanto juvenil o forte de sua publicações. Aproveitando a Feira do Livro - da qual foi um dos idealizadores - Gomes lançou seu delicioso livro sobre o universo de um grupo de meninos e meninas as [voltas] com um disputado campeonato de futebol de rua. Aliando o universo dos meninos a um dos mitos da vida brasileira, o futebol desenvolve uma história cheia de peripécias, onde não faltam as brigas de rua, o roubo das namoradas alheias, os banhos de rio, a disputa da primeira fila no cinema, o roubo das namoradas, os banhos de rio, os heróis do faroeste. Enfim, um mágico universo memorialístico da infância num texto delicioso.
Outro livro destinado à mesma faixa de público é "Os Gatos de Angaetama" de João Donha, já em terceira edição pela Criar, que em sua linha de livros infanto-juvenis tem ainda também "Um Camelo no Último Andar" e "O Baile dos Bichos", do publicitário Amaury Braga da Silva.
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