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"Romance" de Sérgio afinal em filmagens

Na tela não deverá passar de 40, 50 segundos. Se não ficar, na hora da montagem, excluída. Entretanto, para filmar uma simples seqüência em que a personagem interpretada por Ymara Reis, sentada na mesa de um piano-bar, é abordada por um cavalheiro (interpretado pelo ator paranaense Rafael Pacheco) foram mais de 12 horas de trabalho. Cinema nos bastidores é isto: horas e horas de ensaio, preparação, testes de iluminação - mil cuidados para que a cena dê o resultado esperado. Atento a tudo, Sérgio Bianchi, 35 anos, paranaense de Ponta Grossa, há dez dias está em Curitiba fazendo muitas das seqüências de seu segundo longa-metragem - oficialmente intitulado "Romance", mas que, informalmente, já ganhou um título de trabalho, meio na base da brincadeira: "O lado bom da bomba". Na madrugada de segunda-feira a seqüência de Ymara e Rafael foi rodada no bar Lanterna, no Hotel Eduardo VII. Terça-feira, aproveitando a folga que tinha em São Paulo - onde atua em "Katastrophé" (4 minipeças de Samuel Becket, em cartaz no Teatro Sérgio Cardoso), Maria Alice Vergueiro, atriz e amiga pessoal de Bianchi, veio para fazer uma única seqüência, rodada num velho palacete no Batel. Até a hora da filmagem, Maria Alice pouco sabia de seu personagem ou do que falaria. "Improvise!" - a única indicação de Bianchi. Há 7 anos, em seu primeiro longa - metragem, "Maldita Coincidência" (o filme que inaugurou o cine Groff, há 3 anos passados) já havia trabalhado ("e amado") com Bianchi "genialmente maluco em sua criatividade". Hoje será Emílio Di Biase, melhor ator coadjuvante no XIV Festival de Cinema de Gramado (pelos 5 personagens que interpreta em "Filme Demência", de Carlos Reichenbach) que estará fazendo sua seqüência. Biasi aproveita a temporada da peça "Direita, Volver!" (auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, amanhã a domingo), da qual é o diretor para, vindo a Curitiba, também ter uma participação especial em "Romance". Seqüências nas quais participam os paranaenses Sale Wolokita e Christo Dikoff já foram rodadas na semana passada. A sofisticada Beatriz Segall deve vir neste fim de semana para fazer sua parte. Pouco a pouco, com muita improvisação e criatividade, Bianchi vai tocando seu filme. "Um 'Romance' de dificuldades, bem dentro do que é o cinema brasileiro" diz, entre ensaios com os artistas, ordens aos técnicos e goles de café. Dos Cz$ 2,2 mil que a Embrafilme garantiu, mais de 50% foram estourados no ano passado, quando, ingenuamente, Serjão montou uma equipe de 25 profissionais, caros, exigentes e, de uma certa forma "divinamente incompetentes". Os atritos cresceram e quando veio para Curitiba a explosão aconteceu: só conseguiu rodar alguns closes e a atriz, Fernanda Torres, ficou uma semana sem poder fazer nada. A produção foi suspensa, Sérgio voltou a São Paulo e após uma crise que o levou até ao hospital, reestruturou a produção. Agora com uma equipe reduzida, "mais identificada e principalmente criativa" - graças à qual já tem 60% das seqüências rodadas - filmagens feitas em São Paulo e, agora, em Curitiba. O press-book com resumo da sinopse, ficha técnica e outras informações sobre o filme já está superado. A história está até agora apenas na cabeça de Sérgio Bianchi que, em sua intensa criatividade vai mudando cenas e personagens. Na equipe, basicamente jovem, um clima de entusiasmo: Arcelo Medeiros faz a fotografia (substituiu a Luiz Raulino), Bronie Lozneanu é a cuidadosa diretora de arte - que faz a cenografia, supervisiona o guarda-roupa - trata de mil detalhes - enquanto dois Joãos - o Carrascosa e Bartolo na área da produção fazem das tripas coração para suprir toda a ordem de dificuldades. O apoio da Fundação Cultural foi menor do que o esperado e o escritório de produção, absurdamente, foi jogado num galpão distante, sem as mínimas condições de trabalho (até o telefone, indispensável para contatos, era bloqueado o tempo todo). Três garotas tão dedicadas quanto simpáticas - Katinha Coelho, Jezebel Guins e Iraci Dias, se desdobram na assistência de câmera, som e still (fotos de cena). Enfim, um clima de entusiasmo e colaboração, que supre o orçamento já começando a estourar, a falta de maiores condições de infra-estrutura. Mas quem conhece Bianchi, seus dilacerantes "Mato Eles!" e "Divina Previdência", sabe do que ele é capaz de obter como resultado final: ironia, agressividade e, especialmente, uma inventividade como cineasta que o tem feito, nestes últimos anos, obter várias e importantes premiações. Domingo, no "Almanaque", a jornalista Adélia Maria fala com mais espaço sobre este "Romance" cinematográfico em produção na cidade.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
15/05/1986

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