Login do usuário

Aramis

Recordações de Lalá

Salve a morena! - A cor da morena, do Brasil Fagueiro. Salve o pandeiro! Que desce o morro pra fazer marcação... São, são, são... Quinhetas mil morenas! Loiras, cor de laranja, cem mil... Salve! Salve! Meu Carnaval Brasil! Dentro de 50 dias, novamente teremos este hino cantado pelo Brasil. O Hino do Carnaval Brasileiro, criado por Lamartine Babo justamente há 51 anos. Consagrado então como um dos autores de maior sucesso por suas marchinhas que todo o país cantava, Lalá partiu para um plano ambicioso: pretendia criar um hino para todos os carnavais do futuro. Daí exaltar a morena, a loira e a mulata. Ironia! No Carnaval de 1939, em que surgiram outros clássicos como "A Jardineira", "Tirolesa", "Casta Susana", "Florisbela", "Miau, Miau!" e "Meu Consolo é Você". O Hino do Carnaval Brasileiro passou quase despercebido. Não fez mal. Ficou eternamente como o hino que Lamartine sonhou. Ou alguém imagina um baile de Carnaval sem que se ouça esta marchinha: Salve a loirinha! Dos olhos verdes - cor das nossas Matas. Salve a mulata! Cor do café - nossa grande produção... São, são, são... Quinhentas mil morenas! Loiras, cor de laranja, cem mil... Salve! Salve! Meu Carnaval Brasil Hoje, passados 27 anos de sua morte - morreu vítima de um enfarte, na tarde de 16 de junho de 1963, após assistir aos ensaios de um espetáculo em sua homenagem montado por seu amigo Carlos Machado no Golden Room, do Copacabana Palace, Lamartine continua a ser o maior dentre os compositores carnavalescos. Só como empate, não pode ser esquecido João de Barro - o Braguinha, este, felizmente, firme e vigoroso aos 83 anos a serem completados no próximo dia 29 de março. Carioca do dia 8 de março de 1904, 12o. filho de uma família da classe média, cresceu num ambiente musical. As irmãs e a mãe cantavam e tocavam piano e as canções de Nazareth e Catulo da Paixão Cearense fizeram parte de sua infância. Assim, aos 15 anos, já compôs uma "Ave Maria". Em 1920 - ou seja, há 70 anos passados - o menino de 16 anos já tinha escrito uma opereta: "Cibele" (mais tarde escreveria duas outras, "Viva o Amor" e "Lola", já que o gênero sempre o fascinou). Ao longo de sua vida rica de canções, amizades e atividades artísticas, compositor que freqüentou todos os gêneros - a valsa (quem não se emociona com sua parceria com Francisco Mattoso, "Eu Sonhei Que Tu Estavas Tão Linda", as canções juninas, as marchinhas de Carnaval e, naturalmente, os hinos dos clubes cariocas, a começar pelo do coração - América. Mas foi o Carnaval que o teve como maior dos compositores, com dezenas de sucessos - cada um com uma história, rastreadas por seus biógrafos, dos quais o carioca Suetônio Soares Valença produziu o trabalho de maior fôlego - "Trá-lá-lá" (382 páginas, edições Funarte, 1981). Histórias não faltam sobre Lamartine. Em Curitiba, o cientista Newton Freire-Maia, mineiro de Boa Esperança mas aqui radicado há 40 anos, contava para os amigos, muito antes do fato de ter ganho a letra impressa nas pesquisas de M.L. Casanova e Suetônio Valença, a origem de uma das mais belas canções de Lamartine: "Serra da Boa Esperança". É que naquela pequena cidade mineira, vivia um dentista apaixonado por sua obra - Carlos Alves Netto. Ouvia-o pela "Rádio Nacional", colecionava seus discos e um dia animou-se a lhe escrever uma carta. Sua letra era suave, feminina e ele assinou como Nair, nome de uma de suas irmãs. Lamartine gostou do estilo e respondeu carinhosamente. Alves Netto respondeu apaixonadamente. Lalá entusiasmou-se: passou a enviar inflamadas cartas de amor. Recebia respostas ainda mais apaixonadas. Até que um dia não resistiu e informou: estou embarcando para Boa Esperança. O pobre dentista, heterossexual convicto, apavorou-se: - E agora Carlos? Recebeu Lamartine em nome da irmã, apresentou amigos, fez festas que fizeram o autor de "Linda Loirinha" cair de amores pela cidade. Mas o compositor mostrava-se inquieto e intrigado com o fato de a bem amada musa, Nair, não aparecer. Observava as moças com curiosidade, a imaginar qual delas seria sua romântica admiradora. Até que Carlos disse a verdade. A Nair era sua irmã de 6 anos de idade. Neste ponto, Freire-Maia discorda da versão de Casanova: Nair teria pelo menos 15 anos e era um bela jovem. Não importa! O fato é que Lamartine voltaria inúmeras vezes a Boa Esperança, se tornaria cidadão honorário da cidade e a ela dedicaria, entre outras, uma canção que ficou em seus versos profundos: Serra da Boa Esperança Esperança que encerra No coração do Brasil Um punhado de terra. No coração de quem vai. No coração de quem vem, Serra da Boa Esperança Meu último bem. LEGENDA FOTO - O velho Lalá como gostava de ser: rodeado de samba, o ritmo mágico de sua inspiração.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
1
10/01/1990

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br