Rapper, o som das ruas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 12 de fevereiro de 1989
No marketing fonográfico tudo que é novidade deve ser experimentado, pois o desconhecido hoje pode ser o sucesso amanhã. Isso explica porque um novo modismo, aparentemente descartável, o som marginal dos rappers, saia do circuito underground para ganhar discos. Enquanto o selo Eldorado lança o LP "Cultura de Rua", onde as gangues Thaíde e D.J. Hum, O Credo, Código 13, M.C. Jack e D.J. Ninja cantam alegrias e frustrações de garotos simples, que têm que dar duro para viver, a CBS distribui "O Som das Ruas", que também é uma união de rappers, grafiteiros, e break dancers que se chamam Hip Hop, sinônimo de balançar, mexer com os quadris, deixar-se envolver pelo som e imagem dos guetos. O modismo começou nos Estados Unidos, mais precisamente nos bairros negros de Nova Iorque mas começa a atingir o Brassil, transpondo à música a disputa entre gangues - que substituindo a violência pelo ritmo, tem maior aceitação e menos riscos. Aliás não é de hoje que a música está ligada às gangues - do precursor "Sementes da Violência" (Blackboard Jungles, 54, de Richard Brooks), no qual Bill halley and his Comets lançava "Rock Around the Clock" - marco zero da revolução pop - ao belíssimo "West Side Story" em 1957 na Broadway, em 1961 no cinema, o binômio jovens-violência tem um amplo material para ser analisado. Portanto mais do que material simplesmente descartável, os rappers são sintonizadores de um comportamento (como música, obviamente não resistiriam a menor análise).
Em "O Som das Ruas" há até um grupo chamado OS METRALHAS - que usa o nome do pioneiro grupo pop curitibano, do início dos anos 60, imitadores dos Beatles, liderados por jovens que hoje são prósperos executivos da indústria (Paulo Hilário) ou profissionais liberais (como o médico Arcy Neves), os quais, aliás, estão ameaçando um nostálgico retorno. Os Metralhas paulistas atacam com "O Rap da Abolição", ao lado dos chamados Catitlo, Ndee Rap, Mister, De Repent, Sampa Crew, DJ Cuco e Dee Mau.
LEGENDA FOTO - O Som das Ruas: música comportamental das gangues paulistas.
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