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Aramis

Raphael, os cumprimentos e as tentações de Aníbal

Além da alegria de conseguir uma vaga na bancada do PDT na Assembléia Legislativa - com suados 12.036 votos - o agora deputado Raphael Greca de Macedo, teve outra grande alegria nos últimos dias: os telefonemas do poeta Thiago de Mello e da atriz Fernanda Montenegro, cumprimentando-o pela vitória - difícil, sofrida, mas extremamente representativa. O poeta amazonense esteve, rapidamente em Curitiba, e entre uma reunião e outra com o publicitário Eloy Zanetti, da Umuarama Propaganda (para a qual desenvolve um projeto cultural), fez questão de ligar a Raphael, seu amigo há muitos anos. Já o telefonema da primeira Dama do teatro brasileiro, veio do Rio de Janeiro. Amiga de Raphael - através de um relacionamento via Jaime Lerner - a grande atriz aprendeu a admirar a competência e inteligência do mais jovem deputado da próxima legislatura e, acima de qualquer partidarismo, fez questão de cumprimentá-lo. Raphael promete aos amigos integrando a bancada da minoria, não se afastará, "um milímetro sequer", da linha oposicionista que o caracterizou, na Câmara, como um vereador combativo - mas que apesar de todo rigor com que tem denunciado os erros da administração Roberto Requião, mereceu - até agora - um tratamento respeitoso do alcaide. Raphael é, aliás, o primeiro a reconhecer que, "até o momento, ao menos", Requião - conhecido por seu espírito mordaz, língua ferina, maldosa e venenosa em seus comentários - o tem tratado, ao menos nos encontros face a face, com o respeito que deve caracterizar homens públicos. Ao visitar a Assembléia Legislativa, após ter confirmada sua eleição, Raphael foi paparicado até pelo todo poderoso Aníbal Curi, que já é tido como futuro presidente do Poder Legislativo, embora, conste que ele prefira a agilidade da primeira secretaria, cargo no qual mandou e desmandou em todas as administrações da qual participou. O deputado Curi fez questão de mostrar todas as dependências do Legislativo e só faltou levar o cristão Raphael ao terraço do prédio para mostrando o Centro Cívico, dizer, tal como Lúcifer a Cristo: - Meu filho, tudo isto será teu: Em compensação ao visitar a moderníssima UTI que o gordo e astuto Aníbal Curi mandou equipar com a última palavra em aparelhagens de emergência, Raphael não conteve seu humor e disse: - Deputado, mas tudo isto é para prolongar a saúde dos deputados e evitar a chegada dos suplentes? Se a votação de Raphael Greca de Macedo foi pequena em termos numéricos - embora suficiente para lhe garantir uma vaga no Legislativo - foi expressiva. Representa o prestigio de um eleitorado, concentrado especialmente nas classes "A" e "B" que, acompanhando-o desde seus primeiros trabalhos na área da Casa Romario Martins, aprendeu a admirá-lo por seu trabalho intenso, bom relacionamento e, especialmente, preocupação com a cidade. Embora filho de uma família bilionária e tendo nestes últimos anos feito inúmeras viagens ao Exterior - ritmo que, se espera, diminua para poder se dedicar mais às responsabilidades de parlamentar - Raphael soube também se voltar aos problemas sociais. Sem demagogia, sem explorar a imagem demagógica que tantos falsos defensores das camadas mais populares assumiram, Raphael tem também uma presença ativa nos bairros, embora saiba que seu eleitorado básico concentra-se na população com maior poder aquisitivo e melhor nível intelectual. Com uma formação liberal - e tendo em vista a massacrante derrota dos candidatos de esquerda, com exceção do solitário deputado do PT - Pedro Tonelli (de Capanema) Raphael é, curiosamente, um dos poucos parlamentares capazes de se alinhar dentro da nova Legislatura numa posição menos conservadora. Um dos três vereadores que deixa a Câmara - os outros dois foram José Felinto e Algaci Túlio - a ida de Raphael para a Assembléia Legislativa faz com que retorne ao legislativo municipal o veterano Eugênio Bim, primeiro suplente do PDT e que por muitos anos já representou os bairros de Uberaba e Xaxim. Em eleições passadas, Bim chegou a ser dos mais votados, mas em 1982, não conseguiu passar da primeira suplência do PDT. As eleições para o Legislativo, especialmente dos candidatos como Raphael que concentraram suas campanhas na região metropolitana, oferece muitos aspectos para reflexões mais profundas. Por exemplo, a queda do prestígio do prefeito Roberto Requião, que com todo o seu empenho pessoal, não conseguiu ver eleito nem o seu fiel José Maria Correa. Já Neivo Beraldim, o elegante e charmoso gaúcho que priva da intimidade do governador Álvaro Dias, também ficou numa suplência - da qual seria alçado a Assembléia, com o deslocamento de dois deputados peemedebistas para Secretarias de Estado. Embora o próprio Beraldim, não esconda que sempre viu com olhos de galã latino o cargo de Secretário da Cultura e Esportes, já que em seu curriculum vitae destaca-se um passado de ativíssimo e habilidoso empresário artístico, amigo pessoal de Roberto Carlos e outros superstars que trouxe pra várias temporadas na Capital e Interior. Numa roda de jornalistas, a propósito da eleição de Raphael, lembrou-se de uma entrevista do publicitário e especialista em marketing político, Jamil Snege, ao "Jornal da Indústria & Comércio", no qual o respeitado profissional afirmou: "Existe uma Curitiba cartorária que vai do Pasquale à Boca Maldita. Esta Curitiba cartorária que é a cidade de Rafael Greca que se elegeu vereador." Pelo visto, a Curitiba cartorária, embora com uma limitação geográfica bem definida, é mais fiel do que o Paraná demagogicamente peemedebista que fez com que tantos candidatos bafejados pelo poder da máquina do governo e bilhões de cruzados em suas campanhas não conseguissem seu lugar à sombra da Assembléia pelos próximos 4 anos. LEGENDA FOTO - Raphael, eleitorado definido.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
07/12/1986

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