Rango, um herói de nossos tempos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de outubro de 1974
Admirado até agora apenas pelos leitores mais sensíveis da "Folha da Manhã", de Porto Alegre, o desenhista Edgar Vasques decidindo reunir num volume de cerca de 100 páginas as tiras diárias de seu personagem "Rango", terá uma merecida promoção nacional. Só na terça-feira é que o primeiro volume de "Rango" estará à venda nas bancas de jornais e livrarias de Porto Alegre (Cr$ 10,00 o exemplar), devendo em breve o distribuidor André Danderfer, da Prelúdio, trazer a excelente publicação ao Paraná. Em março último, Ney Gastal, em artigo no "Correio do Povo", já chamava a atenção para os trabalhos de Vasques, que compara ao norte americano Jules Feiffer, mas "contando sobre uma realidade que muitos teimam em afirmar que não existe mais. Melhor do que qualquer outro chargista deste País ele se identifica com um povo que ainda é subnutrido na era da TV a cores".
xxx
Rango é, para usar a feliz definição de Gastal, "antes de tudo um ser humano". Mora no lixo junto com o filho e um cachorro que, por sorte, escapou de virar sopa. Não veste nada, ou melhor, é vestido por nada, salvo um remendo. Rango come o que acha no lixo e, às vezes, o que caça no lixo. Faz torta de casca de banana, pudim de jornal velho e uma infinidade de outras especialidades pouco mais ou menos comtempladas pela sorte. Irônico, ferino, dono de uma vivacidade nascida da necessidade acompanha e comenta com atraso (o jornal só chega dias depois de sair embrulhando o lixo) todos os fatos importantes do País e do mundo.
xxx
No prefácio de 12 linhas que fez para o livro de Vasques, o romancista Érico Veríssimo chama Rango de "o herói de nossos tempos". Diz o autor de "O Tempo e o Vento" que Vasques é o campeão do marginal, do homem que sofre a fome crônica. Faz do reino do humorismo o que Josué de Castro fez no da sociologia, isto é, chama a atenção do mundo para o trágico problema dos famintos. Cada uma de suas pequenas estórias em quadrinhos vale por um editorial de jornal - mas um editorial realista, corajoso e pungente. Com a edição das tiras de "Rango" em livro, o Rio Grande do Sul mostra um quadrinho adulto e participante. Que vai, por certo, ter uma grande repercussão nacional. Aqui fica o primeiro registro!
Enviar novo comentário