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Aramis

Questão da terra e risco nuclear

Na diversificação temática dos filmes trazidos a esta 23ª edição do mais antigo festival de cinema que se realiza no Brasil, mesmo considerando toda a pobreza da atual produção - existe, uma válida diversificação temática. Cosme Alves 51 conservador-adjunto da cinemateca Brasileira e representante do Festival do Cinema Livre de Havana - para a qual já selecionou 11 filmes brasileiros - entre baforadas de seu inseparável charuto e com seu eclesiástico bom humor, comenta: - "A produção que se vê nos festivais deste ano é o último da produção nacional". Realmente, com exceção dos filmes comercialíssimos dos Trapalhões, Sérgio Mallandro e Xuxa, só se tem até agora notícias de duas ou três produções que, com fontes próprias, estão sendo tocadas mas com muitas dificuldades, entre elas "Sampaku", de José Joffily (filho), que preferiu rodar no Rio, com orçamento modesto, ao invés de tentar a viabilização de seu sonhado "O Caso Ullem", baseado no livro de seu pai, José Joffily, historiador e presidente da Herbitécnica, em Londrina. O OLHAR SOCIAL Os três longas 35mm, em competição, voltam-se para a realidade brasileira, com olhares importantes sobre aspectos que justificam debates independentes das apresentações estéticas. É o caso de "Mais que a Terra", que o até agora totalmente desconhecido Eliseu Ewald, realizou com parte de financiamento conseguidos na Holanda, Alemanha e França, abordando a gama de problemas sociais-econômicos-políticos da conquista das novas fronteiras da Amazônia. Também pela importância de sua temática - e precedido das principais premiações no IV Festival de Cinema Brasileiro de Natal - melhor filme (júris oficial e popular), roteiro, ator coadjuvante (Stephan Nercessian) e atriz coadjuvante (Denise Milfont) - "Césio 137", exibido na quinta-feira, não poderia ser mais "up to date" na abordagem de um drama que está longe de chegar ao seu final: a contaminação nuclear ocorrida há apenas 3 anos - setembro de 1987 - em Goiânia. No melhor estilo do documentodrama - fazendo um (quase) documentário com atores - o baiano Roberto Pires reconstitui os fatos provocados pela irresponsabilidade no encaminhamento de um lixo nuclear - como verdadeiro alerta a fatos que podem acontecerem novamente. O Brasil estarreceu-se quando, exatamente em outubro de 1987, saíram as notícias sobre o que aconteceu na capital de Goiás. Nas ruínas do recém-demolido Hospital da Santa Casa, um proprietário de ferro-velho comprou de dois marginais uma caixa contendo 19 gramas de Césio 137, material usado no tratamento radiológico de tumores. Pequenas pedras azuis que brilhavam na noite e que acabaram contaminando centenas de pessoas e provocando, até agora, a morte de quatro delas. Por sua importância - e natural repercussão - "Césio 137" merece que se volte a falar a seu respeito. Ontem, foi exibido "O Círculo de Fogo" de Geraldo Moraes, gaúcho radicado há anos em Brasília, que estreou no longa-metragem em 1980 com a "A Longa Viagem". Como se encontra acompanhando uma cópia legendada em inglês de seu filme que participa de festivais em Chicago e Washington (posteriormente irá ao Festival de Huelga), Moraes não pode se emocionar com os aplausos que seu filme recebeu, em sua primeira exibição pública. Misturando política e violências. LEGENDA FOTO - "Césio 137", dirigido por Roberto Pires, no FestBrasília.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
1
14/10/1990

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