Apesar do vice-prefeito Algaci Túlio ter se solidarizado com muitos dos funcionários demitidos pelo prefeito Jaime Lerner - principalmente porque agora, alega, não foi consultado a respeito, o enxugamento no quadro de servidores está sendo absorvido. As reuniões dos atingidos pelas demissões esvaziaram-se, a menos em termos políticos, de forma que aqui não aconteceu o que se registra em relação à eliminação de milhares de funcionários federais. Prova disto são os bem organizados movimentos promovidos pelas associações de funcionários da Fundação Nacional das Artes Cênicas e Fundação Nacional de Artes, que, no Rio de Janeiro, mobilizaram-se em passeatas, divulgando boletins e estão conseguindo mobilizar a opinião pública em relação aos prejuízos que os cortes (sem critérios) provocarão nas atividades culturais. *** Nesta terça-feira, a partir das 17h, os servidores da Funarte estarão reunidos na Cinelândia, num grande ato cultural. Hermínio Bello de Carvalho, poeta, animador cultural e diretor da Divisão de Música Popular/Instituto Nacional de Música, com a coragem e dignidade que sempre o caracterizou, assinou, inclusive, um manifesto que há dias vem sendo distribuído: "Cultura na Rua? Demissões irresponsáveis, não". Hermínio reitera que é contra o empreguismo, a acumulação de cargos, o nepotismo, os "funcionários fantasmas", os marajás, os ociosos e o inchaço da máquina administrativa". Entretanto argumenta: - Mas este novo "pacote" governamental é pura nuvem de fumaça. Ordena, sem nenhum critério, um corte de funcionários sem fazer uma prévia avaliação deste corte. A cultura, as ciências, as tecnologias, os programas de saúde (da AIDS, por exemplo) vão perder uma parte de sua mão-de-obra especializada exatamente por falta de critérios. Se acontecerem realmente as demissões na Funarte, ficarão inviabilizados o Projeto Pixinguinha, os cursos livres do Núcleo de Estudos e Pesquisas "Paixão", "O olhar", o Projeto Macunaíma, o Salão Nacional de Artes Plásticas, o Projeto Qualidade de Materiais e Novas Tecnologias em Artes Gráficas, o Programa Nacional de Preservação e Pesquisa da Fotografia, as Salas Funarte (Rio/SP/Brasília), a Agência Funarte de Distribuição de Tiras de Quadrinhos e Cartuns, a 8a. Bienal de Música Brasileira Contemporânea, além da edição de livros, partituras, discos didáticos, monografias, a Sala do Artista Popular, as exposições do Museu Edison Carneiro, a galeria de fotografia etc. *** Um detalhe: em dez anos de trabalho a Funarte - ao contrário do que aconteceu com a Fundação Cultural de Curitiba - evoluiu de 367 para apenas 420 funcionários, o que significa um acréscimo de apenas 14,4% em seu corpo operacional, não obstante ter criado mais dois institutos - Fotografia e Artes Gráficas. A Fucucu (hoje Secretaria Municipal de Cultura) tem quase 400 funcionários e apesar de espalhar-se por algumas unidades realiza, obviamente, um trabalho bem mais modesto que a Funarte. Apesar disto, os cortes nesta área foram reduzidos - não chegando sequer a 10% do quadro total. A Funarte, em compensação está ameaçada de perder 25% de seu pessoal. Mais dramática é, entretanto, a situação da Fundação Nacional de Artes Cênicas, onde seriam exonerados, de um total de 316 funcionários (portanto, um quadro menor que o da Fucucu/SMC) nada menos que 109, inviabilizando as atividades de quatro institutos, dois centros, a Escola Nacional de Circo, sete teatros, as representações de São Paulo e de Brasília, a Aldeia de Arcozelo, as assessorias e a área administrativa - o que representaria 66,13% de seus atuais quadros. Não é sem razão que o funcionalismo do Inacen está em polvorosa e em clima de tensão. Reuniões, passeatas, e ampla divulgação das manifestações de solidariedade que vêm recebendo de todo o Brasil, fazem parte de uma estratégia para tentar evitar que se concretize as demissões sem critério que estão previstas.

Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:

Veiculo: Estado do Paraná

Caderno ou Suplemento: Almanaque

Coluna ou Seção: Tablóide

Página: 3

Data: 14/02/1989

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