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Quando a poesia valoriza a propaganda inteligente

Em sua modéstia, Eloy Zanetti, 39 anos, ex-Umuarama, hoje coordenador nacional de propaganda do grupo Boticário, nem gosta que se fale a respeito de um aspecto de seu trabalho. Mas que, ao menos como registro para o futuro, merece ser noticiado: de como um publicitário sensível, pode contribuir para divulgar o trabalho de poetas que, mesmo consagrados em círculos intelectualizados, permanecem (ou permaneciam) distantes do público. Há alguns anos, numa das mais felizes campanhas do Bamerindus, Eloy idealizou a criação, em posters muito bem produzidos, da divulgação de alguns dos mais belos poemas de Mário Quintana, que deram uma presença do maior nome da poesia gaúcha (e do Brasil) em larga escala. Anteriormente, a produção de um belíssimo vídeo, falando de Quintana e as ruas de Porto Alegre, já havia colocado a figura admirável, mágica, do autor do "Diário Intemporal", junto a um público de milhões de pessoas - já que embora idealizado apenas para ter veiculação nas televisões do Rio Grande do Sul, o vídeo, por sua qualidade e comunicação, mereceu mídia em outras capitais. Posteriormente, estimulado pelo amor que outro publicitário inteligente, Sérgio Mercer, ex-presidente da Fundação Cultural de Curitiba, sempre teve pela obra da poeta goiana Cora Coralina (Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brotas, 1889-1985), a Umuarama Publicidade, por iniciativa de Eloy - e com apoio entusiástico de Sérgio Reis - a quem sempre se deveu a concretização de boas idéias que fizeram da agência do Grupo Bamerindus uma das mais premiadas nacionalmente - se divulgou, de uma forma sensível, a autora de "Poemas dos Becos de Goiás" em escala nacional. A beleza dos versos de Cora Coralina, que embora tenha começado a escrever aos 14 anos, só viria a ter um reconhecimento nacional de sua obra a partir dos anos 70, ganhou uma produção especial. Afinal, sempre houve o cuidado de unir a poesia, a imagens das cidades em que os poetas vivem, em mensagens institucionais do Bamerindus, num tratamento dos mais respeitosos. Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), nome maior da poesia no Brasil, também por várias vezes teve textos e poemas utilizados em peças criadas pela Umuarama, num relacionamento dos mais perfeitos, conforme atesta a correspondência, gentil e generosa do autor de "A Rosa do Povo" com Zanetti. O amazonense Thiago de Mello, também está entre os que trouxeram sua poesia para projetos desenvolvidos por Eloy, cuja admiração, aliás, pelo autor de "Os Estatutos do Homem" foi ao ponto de batizar um de seus filhos com o nome de Thiago de Mello Zanetti. xxx Agora, mais uma vez, Eloy busca no talento de um poeta, desta vez um jovem de Curitiba, Thadeu Wojciechofky, parceria para um projeto que se pode classificar de massificação lírica. Considerando que mensalmente as centenas de lojas do Boticário distribuem uma mídia de 350 mil sacolas com os produtos que vendem, o presidente da empresa, Miguel Krigsner, entusiasmou-se com a idéia de que nas mesmas fossem colocadas frases, em forma de Hai-Kais, tendo a ecologia por tema. Wojciechofky criou as primeiras 20 frases-poemas, que, agradando tanto a Eloy e Krigsner, não se limitaram a serem impressas nas sacolas da rede Boticário, e, em forma de anúncios do tamanho de classificados, estão sendo publicados nos rodapés de algumas selecionadas páginas e colunas da imprensa (para nossa honra, em Curitiba, nesta terceira página do "Almanaque"). O poeta Thadeu trabalha com uma equipe de jovens poetas que se intitulam "Pró-fessor Thadeu e os Pobres Coitados" - formando um grupo de forte presença em nosso meio literário. xxx Lembrando que o primeiro cachê profissional que Cora Coralina recebeu em sua vida foi quando teve um texto publicado no "Informativo Bamerindus" e que o videotape sobre Mário Quintana e as ruas de Porto Alegre foi superpremiado, Eloy Zanetti diz: - "Os poetas têm uma maneira diferente de olhar o mundo e descrever as coisas. Sempre que pude busquei a sensibilidade e a inteligência destes iluminados das palavras, tirando de cada um o melhor que tinham para aquele momento. É uma questão de se saber onde estão os melhores trabalhos para encaixar no momento certo". Com a experiência de quem, direta ou indiretamente, participou de inúmeras campanhas que mereceram premiações nacionais, Eloy acrescentou: - "O publicitário precisa estar antenado com o mundo em que vive e em sintonia com o momento presente". LEGENDA FOTO - Cora Coralina, primeiro cachê.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
27/07/1989

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