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Aramis

Quando os cupins ajudam a perda de nosso patrimônio

A existência de mais de 15 herdeiros e a impossibilidade de construir na área um edifício capaz de oferecer compensações a todos os membros da família, levou os Gomm nas vésperas do Natal de 1986, a aceitar a proposta formulada pelos empresários Salomão Soifer e Gustavo Daniel Berman em pagar Cr$ 21 milhões pelo imóvel. Associados em lucrativos empreendimentos - Soifer e Berman tinham nas mãos uma detalhada pesquisa de mercado que garantia como um novo sucesso a ocupação daquela área para um moderníssimo clube de características especiais. Explica Salomão: - "Apesar dos clubes tradicionais da cidade - Country e Curitibano - um estudo por nós encomendado mostrou que havia uma demanda de famílias de alto poder aquisitivo que vindo para Curitiba, desejavam (como continuam desejando) integrar-se a uma vida associativa de alto nível. Assim, idealizamos um clube de características especiais que permitiria o aproveitamento do terreno, sem interferir na área verde, conservando a mansão e, naturalmente, com muitas obras complementares". O então prefeito Roberto Requião - por razões que são motivos de discussões até hoje - não viu assim a questão. Quando o projeto chegou a Secretaria de Desenvolvimento Urbano (o antigo Departamento de Urbanismo), já ganhou obstáculos e terminou pelo decreto de utilidade pública, que inviabilizou qualquer projeto. Afirmando que até hoje nunca falou com Requião - e que confia na Justiça - Salomão Soifer, amparado no advogado Elio Narezi, trancou a sete chaves o portão de acesso da propriedade e "aguarda os acontecimentos". Uma casa construída em alvenaria com 295 metros quadrados, sob os números 1790/1812, no alinhamento da Avenida Batel - e que também fazia parte da propriedade - foi demolida há algumas semanas. - "Fomos obrigados a derrubar aquela velha casa, pois a mesma foi invadida por marginais", diz Salomão. Para evitar que o mesmo aconteça na mansão de madeira, no centro da ampla área verde, é que a mesma é conservada a sete chaves - não sendo permitido seu acesso nem aos membros do Conselho do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado. Salomão Soifer já ofereceu a casa à Prefeitura "para que ela a remova para onde achar interessante": - "Damos de graça e ainda pagamos o transporte!". O arquiteto Sérgio Todeschini Alves, 46 anos, coordenador do Patrimônio Cultural da Secretaria da Cultura, enfurece-se com esta "doação": - "Em absoluto isto poderia acontecer. O imóvel está tombado legalmente e não pode ser mexido". A prefeitura, ao que consta, não tem o menor interesse de se manifestar a respeito já que não tem, ao menos na administração lerneana, qualquer projeto para ali implantar um parque municipal. A argumentação de que os cupins já destruíram a mansão de madeira - que pode ruir a qualquer momento - merece contestações. Alfredo Willer, 61 anos, professor de Teoria da Arquitetura da UFPR e que foi o primeiro presidente da Fundação Cultural de Curitiba (1972/74), tem opinião um pouco diferente. Filho de checos, ligado a comunidade de origem européia no Paraná desde que aqui chegou, Willer sempre freqüentou a mansão dos Gomm e foi quem, na condição de membro do Conselho do Patrimônio Histórico e Artístico, que em 19 de outubro de 1988 oficiou ao então secretário René Dotti, da Cultura, propondo o tombamento da casa, "bem como do seu entorno natural". Explica Willer: - "Apesar da beleza das árvores ali existentes, minha proposta foi a de preservar basicamente a mansão, exemplo único de arquitetura do estilo de Massachussets. Eu não conheço outra edificação semelhante no Brasil". Quando esteve na última vez no imóvel - há mais de dois anos - Willer não notou a existência de cupins: - "Acho que mesmo que eles tenham atacado, seria possível salvar ainda o imóvel pois existem modernas técnicas de dedetização". Só que a casa está fechada, inacessível. Em 12 de março último, a arquiteta Regina Coeli Alice Parchen, curadora do Patrimônio Histórico e Artístico e a bióloga Maria Elisabeth Bernardi, ali estiveram para uma visita oficial. Apesar da comunicação feita aos proprietários, não conseguiram acesso. Depois disto, o coordenador do Patrimônio Histórico e Artístico, Todeschini Alves, decidiu pedir a intervenção judicial para se verificar a real situação do imóvel. Na opinião de muitos, o ideal para a firma Soifer, Berman & Cia. Ltda., é aguardar o desabamento da casa, pois então o processo ao patrimônio tombado deixa de existir. O advogado George Bueno Gomm, como pessoa afetivamente ligada ao imóvel, também se preocupa: - "Obviamente que uma casa de madeira exige conservação especial e atenção para não se deteriorar. Mas durante quase 70 anos, ela não apresentou problemas. Mesmo um incêndio numa das dependências, em 1945, não destruiu sua concepção original - pois a reforma seguiu o projeto original - aliás, feito por um arquiteto americano que trabalhava na Lumber. LEGENDA FOTO 1 - Em três pavimentos, construída inteiramente em madeira, a mansão dos Gomm no Batel é o exemplo único de um estilo de arquitetura raro no Brasil. Hoje, os cupins estão destruindo a bela edificação (foto arquivo Blass Gomm). LEGENDA FOTO 2 - No jardim defronte a mansão da família, o então menino George Bueno Gomm, hoje com 59 anos, brinca numa manhã de 1941 (foto arquivo Blass Gomm).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
07/04/1991

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