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Aramis

Quando o terror é bem humorado

O terror que faz rir. Eis a nova fórmula dotada pelo cinema norte-americano, para os dois maiores campeões de bilheteria de 1984 e, tal como presente de Natal, reservados para o final do ano às platéias brasileiras. "Os Caça-Fantasmas" e "Gremlins". Quem imaginaria, há alguns anos, os monstros que desfilam nessas duas brincadeiras de Steven Spielberg/Joe Dante/Ivan Reitmann, em programas de censura livre, fazendo a criançada vibrar! Tanto "Os Caça-Fantasmas" (Cine Bristol, a partir de hoje) como "Gremlins"( Cine Astor, 5ª semana) usam e abusam da sátira ao próprio gênero do terror. Refletem, antes de tudo, um novo padrão de comportamento. Em "Gremlins", o roteirista Chirs Columbus, ex-desenhista de histórias-em-quadrinhos (assim como o personagem Jimmy Peltzer), utilizou, livremente, parábolas que garantiram sustos a várias gerações, especialmente a mitologia da luz na destruição do mal. Assim, os terríveis Gremlins que ameaçavam a tranqüilidade dos moradores da bucólica Kingston Falls – a típica cidadezinha do Interior norte-americano – são destruídos pela luz, como Drácula nunca resistiu ao sol da manhã. "Gremlins" é rico em interpretações e isto é que o torna um filme fascinante. Antes de tudo, um produto de marketing, com a receita em que o produtor Steven Spielberg é especialista, tem, entretanto, o encanto do fantástico como "Encontros Imediatos do Terceiro Grau" e "ET" . Pode, entretanto, resistir a uma análise mais rigorosa – e isso é que faz seu encanto para platéias adultas. xxx Joe Dante, o diretor de "Gremlins" é uma das revelações desta década. Começou gozando o próprio Spielberg, ao fazer "Piranha", um sucesso tão grande (ou quase) quanto "Tubarão",o abre-te-sésamo comercial de Steven, após sua estréia no tv-movie "Encurralado". Foi Spielberg que, entusiasmado pelo talento de Dante, o convocou para realizar um dos mais interessantes episódios de "No Limiar da Realidade" ( Twilight Zone – The Movie"). O resultado valeu a garantia de um longa-metragem e este é "Gremlins", um filme de monstrinhos que mais do que os sustos na platéia parece querer satirizar algumas tradições do american way of life, arrasando instituições que vão da pureza natalina à Associação Cristã de Moços. Sérgio Augusto, um dos mais competentes analistas cinematográficos do Brasil, num texto fundamental para o entendimento de "Gremlins" ( "Folha de São Paulo", 13/12/84), lembrou, com precisão: "a horda de monstros anárquicos gerada por Gizmo, à sua revelia, nada mais é do que um bando de crianças ou adolescentes fissurados em rock, break, graffitis e algazarra em cinema. Em suma: vampiros da alma consumista americana". O adorável Gizmo, comprado por um trapalhão papai inventor (Hoyt Axton) como presente de Natal para o filho Billy (Zack Galligan), num antiquário chinês de Nova Iorque, acaba se transformando numa usina de animais semelhantes, os quais, entretanto, quando molhados ou alimentados após a meia-noite, revelam tendências estranhas. A partir das naturais confusões que se estabelecem, o filme tem um ritmo adorável de comédia e sátira, nas quais as imagens terroríficas das centenas de gremlins estão mais para a gozação do que para a tragédia. Essa fórmula – a de monstros simpáticos – também está em "Caçadores de Fantasmas", outro campeão de bilheteria, que, após faturar milhões de dólares, nos Estados Unidos, repete sua performance comercial no Brasil
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
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17/01/1985

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