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Aramis

Quando o sexo é discutido adultamente

Demorou mas chegou. Salvo mudanças de última hora, "O Declínio do Império Americano" deve ter estreado ontem no Astor. Anunciado (e desmarcado) várias vezes, finalmente, quase um ano após sua exibição no II FestRio, este filme vigoroso, adulto e sincero sobre a sexualidade na sociedade contemporânea, entra em cartaz. "A Era do Rádio", de Woody Allen - um filme-encantamento, que chega em profundidade especialmente ao público que cresceu ouvindo os grandes programas radiofônicos, nos anos 40 e 50, passou agora para o Cinema I. A renda, na primeira semana (Astor) foi fraca, mas Allen tem um público fiel, que começa a crescer. Mesmo com a concorrência do vídeo, não se compara o prazer de ver a versão em 35mm, com a belíssima fotografia de Carlo Di Palma, emoldurada por uma das melhores trilhas sonoras já montadas (edição no Brasil da RCA), com uma versão pirata. Entre as estréias, "Caminhos Violentos" (At Clouse Range), de James Foley, com Sean Penn e Christopher Walken. Um drama sobre o reencontro do filho com o pai marginal. A trilha sonora tem Madonna, que afinal é a mulher de Sean, mais famoso como agressor de fotógrafo do que ator. O Grande Império - Engana-se quem imaginar "O Declínio do Império Americano" como uma superprodução ao estilo daquelas de Samuel Bronston. Ao contrário, trata-se de um filme intimista, reflexivo, com uma brilhante carreira em festivais, imerecidamente esquecido no júri do III FestRio (no qual pintava como o favorito) e também ao Oscar - que disputou na categoria de melhor filme estrangeiro. É o primeiro filme do cineasta canadense Denys Arcand que chega ao Brasil. Afora cinco curta-metragens, entre 1963/68, Denys tem vários longas, infelizmente inéditos entre nós. "Le Declin de L'Empire American" foi seu primeiro filme a conseguir distribuição comercial entre nós. No elenco, excelentes intérpretes - embora desconhecidos do público brasileiro: Dorothée Berryman, Louise Porgal, Pierre Curzi, Remy Girard, Yves Jacques, Gabriel Arcand (que, entre outros filmes, fez "Agnes de Deus", de Norman Jevinson, em 1985), Genevieve Rioux e Daniel Briere. Interpretam professores universitários, casais de uma classe média superior que ao longo de um dia - a ação toda se passa em menos de 24 horas - discutem problemas do relacionamento humano e sexual, com uma franqueza que pode até chocar. Mas em momento algum o filme resvala para o pornográfico ou mesmo ao erotismo apelativo, mantendo-se, antes de tudo, como um filme de teses. Nesta época em que a síndrome da AIDS faz com que se (re)tire os tabus em torno do sexo e as crianças passem a conviver com uma nova realidade, uma obra como "O Declínio do Império Americano" chega a adquirir até um sentido de utilidade especial. A palavra do diretor - Eis algumas declarações de Denys Arcand, que podem auxiliar a entender o seu filme: -"É um filme totalmente centrado na palavra, focalizando preocupações tais como "teria o Sr. fulano de tal ido para a cama com a Sra. fulana de tal?" e, depois de terem estado juntos: "será que ela prefere este ou aquele?". Mas eu também queria imagens, que dissessem sim, mas quando eles todos estiverem mortos, ainda haverá o lago, outros verões e a neve". - "Se nós fizermos um paralelo com o Império Romano, nós canadenses, somos os Etruscos nas fronteiras do Império. Quando os bárbaros vierem, eles não vão parar aqui: eles passarão direto por nós a fim de chegar ao Império. Nós somos meros espectadores. LEGENDA FOTO - Os homens de "O Declínio..." falam das mulheres, que analisam seus homens.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
2
11/09/1987

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