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Aramis

Quando a energia supera as deficiências físicas

"Meu Pé Esquerdo" (lançamento nacional amanhã; pré-estréia em benefício da Legião Brasileira de Assistência, hoje, 20h30m, Cine Astor) não é o primeiro e, por certo, não será o último filme a mostrar o quanto pode a força de vontade, a coragem, a disposição de enfrentar as adversidades fazer pelo ser humano. Afinal, temos o exemplo contemporâneo de Stephen Hawking, que mesmo com doenças seríssimas se tornou um dos maiores cientistas contemporâneos e autor de um livro ("Uma Breve História do Tempo") que há meses está entre os mais vendidos. Sua vida, por certo, pode dar um belo filme. A lembrança de "Gaby - Uma História Verdadeira", de Luís Mandoki é natural: a mexicana Gaby Brimmer nasceu com deficiências físicas tão sérias que não podia falar, caminhar, nem usar as mãos. Como Brown, só o pé esquerdo a obedecia, e foi com ele, utilizando uma máquina elétrica, que escreveu um livro que emocionou ao mundo após ser publicado há 14 anos. Helen Adams Keller (1880-1968), cega, surda e muda a partir dos 18 meses, se tornaria outra grande escritora - graças a dedicação e ao trabalho de uma professora do Perkins Institution, Anne Mansfield Sullivan, o que inspirou ao dramaturgo Willian Gibson a escrever uma peça ("The Miracle Worker"), que já teve duas versões cinematográficas - em 1962, direção de Arthur Penn, com Anne Bancroft (como Anne) e Patty Duke (como Helen, na infância), ambas premiadas com o Oscar. A segunda versão - produzida especialmente para a televisão, em 1979, direção de Paul Aaakon, trouxe a mesma Patty Duke - mas só que desta vez como intérprete de Anne Sullivan, enquanto Melissa Gilbert viva Helen Keller menina. Em 1968, Cliff Robertson vivendo o papel título de um retardado mental que, após uma operação no cérebro, transforma-se num gênio em "Os Dois Mundos de Charly" (Charly, de Ralph Nelson) receberia o Oscar de melhor ator. Em 1950, Marlon Brando estreava no cinema como o paraplégico Ken em "Espíritos Indômitos" ("The Men", de Fred Zinnemann) também a sua maneira, um hino de vida e coragem de superar as limitações físicas. "Rain Man", que no ano passado valeu a Dustin Hoffman o Oscar de melhor ator - como o artista gênio em matemática, foi a ampliação de uma temática - a discussão de (graves) problemas de saúde, que a televisão americana tem abusado em sua produções. Uma filmografia sobre telefilmes que abordam os mais diferentes problemas médicos - geralmente centrados em dramas de famílias classe média, que mostram toda a coragem para conseguirem enfrentar as dificuldades e fazer o melhor em favor dos entes queridos que nascem (ou ficam) com deficiências físicas irreversíveis, alcançaria, facilmente, mais de 30 títulos, entre os quais desde obras dignas e marcantes, até produções caça-níqueis medíocres em suas abordagens. Aliás, não só os americanos têm se voltado a esta temática. Em 1979, Michael Pate, 70 anos, ator em Hollywood nos anos 40/50, voltando à Austrália (onde nasceu), filmou "Tim", o primeiro romance de Collenn McCulloughs, que aborda o relacionamento de uma quarentona com um jovem de 25 anos, retardado mental - na busca de uma recuperação. Este filme praticamente ficou inédito nos circuitos, mas, na época da pirataria livre, a cópia em vídeo, clandestina, era das mais procuradas nas primeiras locadoras. Se de um lado é importante que se façam filmes sobre personagens que são exemplos de vida, há sempre o risco de cair no melodrama fácil e mesmo desonesto. Felizmente, isto não ocorre com "Meu Pé Esquerdo", como, não aconteceu com um dos (poucos) exemplos de abordagem brasileira deste tema: "Feliz Ano Velho", que Roberto Gervitz fez do best-seller de Marcelo Paiva - tratado com extrema dignidade - e que foi, de sua forma, também um canto de esperança e amor à vida.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
11/04/1990

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